Governo espanhol pede desculpas a catalães feridos
6 de outubro de 2017
Representante lamenta violência durante referendo pela independência e pede desculpas pela polícia. Autoridades catalãs dizem que quase 900 ficaram feridos, Madri contesta número.
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O governo da Espanha pediu desculpas nesta sexta-feira (06/10) aos catalães que ficaram feridos durante a repressão policial na votação do referendo, no domingo passado, em meio às tensões elevadas com o governo regional em Barcelona.
O representante do governo espanhol na Catalunha, Enric Millo, afirmou que "lamenta e pede desculpas em nome dos policiais que intervieram" na consulta popular.
Segundo autoridades catalãs, quase 900 pessoas ficaram feridas quando policiais enviados pelo governo central tentaram interromper com violência a realização do referendo sobre a independência catalã, que havia sido suspenso pelo Tribunal Constitucional espanhol.
Forças de segurança usaram cassetetes e balas de borracha para dispersar a multidão. Na ocasião, Millo chegou a dizer que o governo da Catalunha era o único responsável pela violência. "Nós fomos obrigados a fazer o que não queríamos", afirmara.
Em leve mudança de discurso, o representante espanhol declarou nesta sexta-feira estar "muito triste" com as consequências da ação policial. "Lamentamos profundamente que tenhamos chegado a essa situação. Tem sido muito difícil tudo isso que vivemos e vimos nesses últimos dias", afirmou Millo. "Vi as imagens, e sei que há pessoas que receberam golpes e empurrões."
O porta-voz do Executivo espanhol, Íñigo Méndez de Vigo, também fez um pedido de desculpas nesta sexta-feira, afirmando "lamentar que pessoas tenham sofrido com tais consequências". Ele voltou a dizer que a Polícia Civil e a Guarda Civil atuaram para coibir o referendo e não "contra as pessoas".
O funcionário alegou que os agentes tiveram de agir de tal forma porque tinham o dever de impedir a realização da consulta popular, uma vez que os Mossos d'Esquadra, como é chamada a polícia da Catalunha, não fizeram o trabalho.
Vigo contestou, no entanto, o número de feridos informado pelas autoridades catalãs, dizendo que eles não parecem se aproximar da realidade. "O importante é que só tem uma pessoa hospitalizada", afirmou o porta-voz.
O governo catalão afirmou que 893 pessoas foram atendidas pelos serviços médicos por ferimentos, contusões e ataques nervosos. O Ministério do Interior espanhol, por sua vez, afirmou que foram 431 os policiais e guardas civis feridos durante a intervenção em diferentes pontos da Catalunha.
Mais de 90% dos votos no "sim"
O governo regional da Catalunha publicou nesta sexta-feira os resultados oficiais do referendo, segundo os quais votaram 2,286 milhões de pessoas, ou 43% dos eleitores. Segundo Barcelona, 90,18% dos votos foram a favor da independência catalã, o que representa um pouco mais de 2 milhões de votos.
Além disso, cerca de 177,5 mil pessoas votaram "não", afirmou o governo catalão. Outras 45 mil pessoas votaram em branco, e 19,7 mil eleitores anularam seus votos.
A chamada Lei do Referendo – que o Parlamento regional da Catalunha aprovou em 6 de setembro e que foi suspensa pelo Tribunal Constitucional espanhol – estabelecia que, uma vez anunciados os resultados oficiais, uma declaração unilateral de independência deveria se tornar efetiva num prazo de 48 horas, sem contar fim de semana e feriado, em caso de vitória do "sim".
O presidente do governo da Catalunha, Carles Puigdemont, anunciou nesta sexta-feira que comparecerá na próxima terça-feira, 10 de outubro, ao Parlamento regional para apresentar os resultados do referendo.
Nesta sexta-feira, ao comunicar o adiamento de seu comparecimento ao Parlamento, Puigdemont não mencionou uma eventual declaração unilateral de independência, dizendo apenas que participará da sessão para "informar sobre a situação política atual" na região.
EK/afp/efe/ap/dpa/rtr/dw
Referendo na Catalunha é marcado por violência
Polícia espanhola entrou em confronto com manifestantes na Catalunha no dia do referendo sobre a independência da região. Apesar dos esforços de Madri para impedir a votação, a maioria dos locais de votação ficou aberto.
Foto: Getty Images/D. Ramos
Polícia se diz "forçada" a usar violência
As forças de segurança usaram cassetetes e balas de borracha para dispersar a multidão, e muitos ficaram feridos. "Nós fomos obrigados a fazer o que não queríamos", disse o encarregado do governo espanhol na Catalunha, Enric Millo. "Carles Puigdemont [presidente do governo da Catalunha] e sua equipe são os únicos responsáveis" pela violência, acrescentou.
Foto: Getty Images/D. Ramos
Rajoy foi comparado a Franco
Os defensores da independência da Catalunha acusaram o governo em Madri de impedir que o povo exerça seu direito. Nesta manifestação em Barcelona antes da votação de domingo, um dos manifestantes mostra uma foto do ditador espanhol Francisco Franco beijando o atual chefe de governo espanhol, Mariano Rajoy.
Foto: Reuters/J. Medina
Face a face
As pessoas que são contra a independência da Catalunha também foram às ruas para manifestar seu apoio a uma Espanha unida. Nesta foto de sábado, um manifestante grita com um membro da força policial regional catalã, chamada de Mosso d'Esquadra.
Foto: Reuters/S. Vera
Garantindo a votação
Apesar de o governo espanhol ter proibido a realização do referendo, ativistas se mobilizaram e distribuíram material para votação e equipamentos para as seções eleitorais. As autoridades catalãs em Barcelona disseram que resultado do referendo seria considerado oficial.
Foto: Reuters/A. Gea
"Viva Espanha!"
O governo de Rajoy rejeitou o referendo, alegando que ele é inconstitucional e prometeu desmantelar a votação. Muitos opositores à independência da Catalunha se reuniram em Madri no domingo e entoaram "Viva Espanha" e "Catalunha é Espanha".
Foto: Getty Images/AFP/J. Soriano
À espera do amanhecer
Autoridades espanholas enviaram milhares de policiais extras para a Catalunha no domingo. Eles receberam ordens para impedir a votação e apreender as urnas. As forças de segurança patrulharam os locais de votação já nas primeiras horas da manhã de domingo.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/X. Bonilla
Tentativa de manter locais de votação abertos
Ativistas decidiram acampar nos locais de votação para impedir que a polícia fechasse as instalações e impedisse a realização do referendo.
Foto: Reuters/J. Nazca
Líder separatista consegue votar
As notícias sobre violência começaram a chegar já na manhã do domingo. Houve embates perto da cidade de Girona, onde o líder regional catalão, Carles Puigdemont, deveria votar. A polícia invadiu o local de votação, obrigando Puigdemont a depositar seu voto em outro local.
Foto: Reuters/Handout Catalan Government
Polícia confiscou cédulas e urnas eleitorais
Manifestantes pró-independência tentaram impedir que a polícia confiscasse cédulas e urnas eleitorais. Funcionários catalães afirmaram que, apesar dos esforços do governo em Madri, 73% dos cerca de 6 mil locais de votação ficaram abertos.
Foto: Getty Images/AFP/P. Barrena
Uso da resistência passiva
Os ativistas pró-independência foram instruídos a "praticar a resistência passiva" enquanto tentavam obstruir as forças de segurança no seu trabalho de impedir a votação. O movimento disponibilizou cravos vermelhos para os ativistas darem aos policiais. No entanto, as forças de segurança disseram também que foram recebidas com pedras.
Foto: Getty Images/AFP/L. Gene
Luta para facilitar a votação
No domingo pela manhã, autoridades catalãs disseram que os eleitores também poderiam usar as cédulas eleitorais que imprimiram em casa e votar em qualquer posto de votação aberto, caso o local designado estivesse fechado.
Foto: Reuters/Y. Herman
"Você quer a Catalunha um Estado independente?"
Uma pesquisa de opinião realizada em junho indicou que a maioria dos catalães estaria a favor da permanência da região na Espanha, porém, mostrava ainda que os defensores da independência estavam muito mais propensos a participar do referendo. A repressão do governo em Madri deverá atiçar ainda mais as chamas do movimento de independência da Catalunha.