Governo espanhol recorre à Justiça para barrar referendo na Catalunha
29 de setembro de 2014
Medida vem após presidente do governo catalão assinar decreto de convocatória de votação sobre independência. Premiê argumenta que Constituição dá a todos os espanhóis direito de decidir sobre status de uma região.
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O governo da Espanha entrou nesta segunda-feira (29/09) com um recurso no Tribunal Constitucional para pedir que a votação de independência planejada pela região da Catalunha seja declarada ilegal.
"Nem o objeto nem o processo da votação são compatíveis com a Constituição espanhola", disse o primeiro-ministro do país, Mariano Rajoy.
Após uma reunião extraordinária de seu gabinete, ele insistiu que a Constituição de 1978 – pedra fundamental da democracia espanhola após a morte do ditador Francisco Franco – determina que "todos os espanhóis" têm o direito de decidir sobre o status de uma região. "Não há nada nem ninguém, nenhum poder ou instituição, que possa quebrar este princípio de soberania exclusiva", afirmou Rajoy.
O primeiro-ministro salientou ainda que lamenta profundamente a decisão do presidente da Catalunha, Artur Mas, que assinou no sábado o decreto de convocatória do referendo sobre a independência da região. "Eu lamento porque é contra a lei. Ele [o decreto] ignora a democracia e divide os catalães, além de aliená-los da Europa e do resto da Espanha e seriamente prejudicar o seu bem-estar", criticou Rajoy.
Estimulado por manifestações nas ruas, Mas desafiou as advertências anteriores do primeiro-ministro e levou a votação adiante. "Não se pode usar a lei para impedir indefinidamente as pessoas de darem sua opinião", argumentou o presidente da Catalunha em entrevista a um canal de televisão, neste domingo. "A votação de novembro é a melhor coisa para todo mundo, porque vai permitir que nós e também o governo espanhol saibamos qual é a opinião do povo catalão", afirmou Mas.
A consulta está agendada para o dia 9 de novembro e prevê duas perguntas: "Você quer que a Catalunha se converta num Estado?" e, em caso afirmativo, "Você quer que este Estado seja independente?".
PV/afp/rtr
Catalunha busca independência
Depois da Escócia, mais uma região europeia prepara dor de cabeça para o país ao qual pertence e também para a União Europeia. Agora é a vez de a Catalunha querer a independência da Espanha.
Foto: picture-alliance/dpa/Alberto Estevez
Potência econômica
A região da Catalunha, com a capital Barcelona, é a principal potência econômica da Espanha, apesar de também ela ter sofrido com a crise do euro, que afetou duramente o país a partir de 2008 e ainda não foi totalmente superada.
Foto: picture-alliance/dpa/Alberto Estevez
Povo orgulhoso
Os catalães são muitos orgulhosos de sua língua e cultura, a ponto de até as placas de trânsito serem escritas também em catalão. A região de 7,5 milhões de habitantes sente-se desfavorecida pelo governo central em Madri, principalmente com relação à distribuição dos recursos arrecadados com impostos.
Foto: picture-alliance/dpa/Alberto Estevez
De Arturo para Artur
O presidente do governo catalão, Artur Mas, está no cargo desde o final de 2010 e é o principal rosto do movimento separatista. Em 2000, Mas trocou de nome, substituindo o espanhol Arturo pelo catalão Artur. É descrito como uma pessoa estrategista, determinada e culta. Amante da literatura francesa, o presidente fala espanhol, inglês, francês e – é claro – catalão.
Foto: Reuters/Albert Gea
Movimento separatista
Milhares de catalães saíram às ruas de Barcelona e outras cidades em 11 de setembro, o Dia Nacional da Catalunha, em manifestações a favor do referendo sobre a independência. A causa é muito popular entre os catalães.
Foto: Reuters/A.Gea
Apoiadores do "não"
No mesmo dia, os partidários do "não" à independência também organizaram manifestações, como esta em Barcelona. Eles acusam os separatistas de manipular a história.
Foto: Josep Lago/AFP/Getty Images
Consulta incerta
Se o referendo realmente vai sair ainda é uma incógnita, pois o governo espanhol afirma que ele é inconstitucional e que vai entrar na Justiça contra a consulta, originalmente marcada para 9 de novembro.