Governo gera polêmica com intenção de proibir jogos violentos
20 de novembro de 2005Um dos capítulos dedicados à família e sociedade no programa da nova coalizão de governo em Berlim recebeu o título "Crescer sem violência". A preocupação envolve todo o espectro da mídia, especialmente a televisão e jogos de computador. Um dos pontos do programa é a análise da proibição do que os políticos denominam killerspiele (jogos de matar).
O tema é motivo de preocupação de pais e educadores há muito tempo, mas cresceu em importância após o massacre num colégio no Leste alemão, em abril de 2002, quando um ex-aluno matou 16 pessoas e cometeu suicídio. O crime foi atribuído, entre outros motivos, aos hábitos do assassino diante do computador.
Problema de definição e controle
Ao comentar o tema, esta semana, a versão online do semanário Der Spiegel, citou que duas possibilidades para o controle do consumo de jogos violentos seriam o aperfeiçoamento do sistema de classificação por faixa etária para cada jogo e o controle nas locadoras.
Um aspecto não esclarecido, no entanto, é o que os políticos entendem por "jogos violentos" e como pretendem proibir que jogos sejam baixados de servidores instalados fora do país. Segundo o Spiegel, que questionou o responsável pela sugestão, o deputado social-cristão Andreas Scheuer, sobre que tipos de jogos seriam atingidos, este teria citado para a lista de proibição o Counter Strike, um jogo online em que equipes de terroristas e contraterroristas combatem até a vitória.
Os jogadores de Counter Strike, por seu lado, reivindicam o "uso responsável" da mídia e apelam aos pais para que eduquem os filhos e os assistam no uso do computador. Este é outro tema em debate entre pais e professores, e não apenas na Alemanha.
Estudos comprovam que jogos viciam
Olaf Wolters, presidente da Associação Alemã dos Fabricantes de Software de Entretenimento, lamenta que o programa de governo tenha empregado o termo killerspiele, que considera "infeliz". Para ele, a expressão correta deveria ser "jogos para adultos".
Embora os fabricantes considerem seus produtos "completamente normais", para um consumidor convencional muitos são cruéis e violentos. Para ter-se uma idéia, basta pesquisar na internet os anúncios de jogos violentos ou contribuições em chats e fóruns.
Os políticos apóiam seus argumentos em estudos recentes, como o da Universidade de Berlim. Os pesquisadores descobriram que a prática excessiva de jogos diante do computador ativa o cérebro da mesma forma como uma droga. Ou seja: jogar pode gerar dependência.
Uma dependência que muitos analistas atribuem ao rápido efeito ação-reação: basta um clique para remover empecilhos ou acabar com adversários. Uma sensação de êxito que poucas vezes se espelha na rotina diária.
Catarse, estímulo ou hábito?
Segundo a ONG alemã Weisser Ring (Anel Branco), que ajuda vítimas de violência e suas famílias, existem várias teorias sobre o tema:
- a Teoria da Catarse, pela qual assistir ou jogar cenas de violência ajuda a reduzir a energia agressiva do espectador ou do jogador;
- já a Teoria do Estímulo ou do Aprendizado prega que a violência na mídia é imitada por quem a consome;
- e, por fim, a Teoria da Habituação adverte para a empatia e a perda da sensibilidade por quem pratica jogos violentos por muito tempo.
Em um folheto orientador para pais, a ONG descreve o seguinte teste, que mostra como a brutalidade é assimilada: a um grupo de crianças que havia acabado de jogar um game de lutadores de rua foram mostradas fotos com cenas violentas.
Ao contrário das crianças que, antes de verem as fotos, haviam participado de jogos livres de violência, o primeiro grupo mostrou-se apático e ficou observando as imagens por muito mais tempo.
Relação direta entre mídia e violência?
Ao comentar a intenção do futuro governo de proibir jogos violentos, o jornal alemão Süddeutsche Zeitung lembrou que não se trata de discutir a estética dos filmes de horror ou as cenas cruéis nos jogos de computador.
"A questão é, antes de mais nada, questionar se bens culturais como filmes, música ou jogos de computador são realmente responsáveis pela violência", escreve o jornal de Munique.
"Enquanto não for comprovada claramente esta relação, é preciso ter cautela, pois seria preciso proibir também o futebol", provoca o jornal, lembrando que um estudo feito há alguns anos mostrou que quem joga futebol por lazer fica especialmente agressivo depois de uma partida.