Pressão sobre a oposição
30 de dezembro de 2009Desde a manhã desta quarta-feira (30/12), um assunto domina a mídia iraniana: os atos públicos organizados pelo governo em Teerã. Com elas, o establishment político quis demonstrar força e deixar claro que a estabilidade interna do Irã continua inabalável, três dias após os protestos da oposição que resultaram em pelo menos oito mortos.
Segundo argumentou a TV estatal, os atos convocados pelo governo se dirigem contra os recentes tumultos, que teriam "desonrado" a festa de Ashura, dia importante no calendário muçulmano. Com um "ato desumano e bárbaro", "um punhado de mercenários dos poderes estrangeiros" haveria "difamado os valores mais importantes da fé islâmica" e "posto em perigo a segurança social".
Apoio amplo
Por todo o país, ocorreram eventos organizados pelo Conselho de Propaganda Islâmica. Já na véspera, a imprensa anunciara que numerosas associações de estudantes, trabalhadores e funcionários ligadas ao governo participariam das manifestações, que também contaram com o apoio de escolas de religião, milícias armadas e organizações civis.
Consta ainda que diversas grandes empresas estimularam seus funcionários a participar dos atos públicos, colocando ônibus à sua disposição. Segundo notícias oficiais – e na ausência de informações imparciais –, milhões foram às ruas, várias centenas de milhares somente na capital Teerã.
Comissária da ONU chocada
Entre as palavras de ordem, escutava-se "Morte a Mir Hussein Mussavi", líder oposicionista e ex-chefe de governo. Antes, o governo em Teerã voltara a condenar os protestos da oposição, que viveria "na ilusão de derrubar o regime islâmico". E prometera que, através da mobilização das massas, recolocaria a oposição "no seu lugar".
A comissária da ONU para Direitos Humanos, Navi Pillay declarou-se "chocada" com a repressão dos protestos oposicionistas do fim de semana. Ela criticou os "atos de violência excessiva" por parte das forças de segurança e da milícia voluntária Basij. Teerã deveria impedir a escalada da violência, insistiu Pillay.
AV/dpa/afp
Revisão: Simone Lopes