Governo palestino anuncia primeiras eleições em 15 anos
16 de janeiro de 2021
Mahmoud Abbas assina decreto convocando eleições legislativas e presidenciais para os próximos meses. Pesquisa aponta risco de derrota para o atual presidente. Palestinos não vão às urnas desde 2006.
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O presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, anunciou as primeiras eleições nacionais nos territórios palestinos em mais de 15 anos.
Um decreto foi emitido na sexta-feira (15/01) convocando tanto um pleito legislativo quanto presidencial, que serão realizados em 22 de maio e 31 de julho, respectivamente. Além disso, outra votação ocorrerá em 31 de agosto para o Conselho Nacional Palestino, um órgão da Organização de Libertação da Palestina (OLP), que inclui expatriados.
Esta é a primeira vez que a população palestina é convocada a votar desde as eleições presidenciais de 2005 e as legislativas de 2006. A eleição prevê a participação de moradores da Cisjordânia, da Faixa de Gaza – sob controle de fato do movimento Hamas – e Jerusalém Oriental – que foi anexada por Israel após a Guerra dos Seis Dias em 1967, mas é considerada território ocupado.
A Autoridade Nacional Palestina "lançará um processo eleitoral democrático em todas as cidades da pátria", afirma o decreto presidencial, referindo-se aos três territórios.
Abbas assinou o texto durante uma reunião em Ramallah com o chefe da Comissão Central Eleitoral, Hana Nasser. Isso só foi possível depois que o partido nacionalista Fatah, liderado por Abbas, e o movimento islâmico Hamas, que governa de fato em Gaza, chegaram a um acordo no início do mês para a convocação de eleições.
As duas legendas – cuja divisão foi um dos elementos que impediram o retorno dos palestinos às urnas nos últimos anos – se comprometeram a deixar para trás as diferenças que alimentaram por mais de uma década.
O Hamas celebrou agora a convocação das novas eleições. "Trabalhamos nos últimos meses para resolver todos os obstáculos para que pudéssemos chegar a este dia e mostramos muita flexibilidade", disse em comunicado. "[Esperamos] eleições livres nas quais os eleitores possam se expressar sem pressão e sem restrições, com toda a justiça e transparência."
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O que aconteceu depois da eleição anterior?
Abbas foi eleito presidente em 2005 com mais de 60% dos votos. No ano seguinte, as eleições legislativas tiveram o Hamas como maior vencedor.
O pleito acabou ampliando uma cisão política interna que levou à tomada da Faixa de Gaza pelo Hamas em 2007. O movimento islâmico passou anos construindo seu próprio governo em Gaza, incluindo a contratação de funcionários públicos para substituir os leais a Abbas, e se recusou a abrir mão de seu arsenal de foguetes e outras armas.
O Hamas é considerado uma organização terrorista por vários governos ocidentais, incluindo o vizinho Israel. Já o movimento descreve o país como um inimigo jurado. Abbas, por sua vez, é a favor de uma solução de dois Estados com Israel, medida que conta com apoio internacional.
Abbas reeleito?
Ainda não houve qualquer indicação de que Abbas, de 85, vai concorrer à reeleição. Mas um levantamento conduzido em dezembro pelo Centro Palestino de Políticas e Pesquisas apontou que ele pode vir a perder o poder.
A pesquisa com 1.270 palestinos na Cisjordânia e em Gaza mostrou o Fatah com 38% dos votos e o Hamas com 34%. O líder do Hamas, Ismail Haniyeh, obteve 50% de apoio, o que o coloca à frente dos 43% de Abbas em uma possível corrida presidencial. A margem de erro é de 3%.
Independentemente do resultado da eleição, os novos líderes da Autoridade Nacional Palestina provavelmente precisarão continuar coordenando com Israel as questões de segurança e economia.
EK/afp/dpa/efe/rtr
Jerusalém, a história de um pomo da discórdia
Jerusalém é uma das cidades mais antigas do mundo, e ao mesmo tempo um dos maiores focos de conflitos. Judeus, muçulmanos e cristãos veem Jerusalém como cidade sagrada.
Foto: picture-alliance/Zumapress/S. Qaq
Cidade de Davi
Segundo o Velho Testamento, no ano 1000 a.C., Davi, rei de Judá e Israel, conquistou Jerusalém dos jebuseus, uma tribo cananeia. Ele mudou a sede de seu governo para Jerusalém, que se tornou capital e centro religioso do reino. De acordo com a Bíblia, Salomão, o filho de Davi, construiu o primeiro templo para Yaweh, o deus de Israel. Jerusalém tornou-se assim o centro do Judaísmo.
Foto: Imago/Leemage
Reino dos persas
O rei Nabucodonosor 2º, da Babilônia, conquistou Jerusalém em 597 e novamente em 586 a.C., segundo a Bíblia. Ele destruiu o templo e aprisionou o rei Joaquim de Judá e a elite judaica, levando-os para a Babilônia. Quando o rei persa Ciro, o Grande, conquistou a Babilônia, permitiu que os judeus voltassem do exílio para Jerusalém e reconstruíssem o templo.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library
Sob o poder de Roma e Bizâncio
A partir de 63 d.C., Jerusalém passou ao domínio de Roma. A resistência se formou rapidamente entre a população, eclodindo uma guerra no ano 66. O conflito terminou quatro anos depois, com a vitória dos romanos e uma nova destruição do templo em Jerusalém. Os romanos e os bizantinos dominaram a Palestina por 600 anos.
Foto: Historical Picture Archive/COR
Conquista pelo árabes
Durante a conquista da Grande Síria, as tropas islâmicas chegaram até a Palestina. Por ordem do califa Umar, em 637, Jerusalém foi sitiada e conquistada. Durante a época da supremacia muçulmana, vários rivais se revezaram no domínio da região. Jerusalém foi ocupada várias vezes e trocou diversas vezes de soberano.
Foto: Selva/Leemage
No tempo das Cruzadas
O mundo cristão passou a se sentir cada vez mais ameaçado pelos muçulmanos seljúcidas, que governavam Jerusalém desde 1070. Em consequência, o papa Urbano 2º convocou as Cruzadas. Ao longo de 200 anos, os europeus conduziram cinco Cruzadas para conquistar Jerusalém, algumas vezes com êxito. Por fim, em 1244, os cristãos perderam de vez a cidade, que caiu novamente sob domínio muçulmano.
Foto: picture-alliance/akg-images
Os otomanos e os britânicos
Após a conquista do Egito e da Arábia pelos otomanos, em 1535, Jerusalém se tornou sede de um distrito governamental otomano. As primeiras décadas de domínio turco representaram impulsos significativos para a cidade. Com a vitória dos britânicos sobre as tropas turcas em 1917, a região – e também Jerusalém – passou ao domínio britânico.
Foto: Gemeinfrei
Cidade dividida
Após a Segunda Guerra Mundial, os britânicos renunciaram ao mandato sobre a região. A ONU aprovou a divisão da área, a fim de abrigar os sobreviventes do Holocausto. Isso levou alguns países árabes a iniciarem uma guerra contra Israel, em que conquistaram parte de Jerusalém. Até 1967, a cidade esteve dividida em lado israelense e lado jordaniano.
Foto: Gemeinfrei
Israel reconquista o lado oriental
Em 1967, na Guerra dos Seis Dias contra Egito, Jordânia e Síria, Israel conquistou o Sinai, a Faixa de Gaza, a Cisjordânia, as Colinas de Golã e Jerusalém Oriental. Paraquedistas israelenses chegaram ao centro histórico e, pela primeira vez desde 1949, ao Muro das Lamentações, local sagrado para os judeus. Jerusalém Oriental não foi anexada a Israel, apenas integrada de forma administrativa.
Desde esta época, Israel não impede os peregrinos muçulmanos de entrarem no terceiro principal santuário islâmico do mundo. O Monte do Templo está subordinado a uma administração muçulmana autônoma. Muçulmanos podem tanto visitar como também rezar no Domo da Rocha e na mesquita de Al-Aqsa, que fica ao lado.
Foto: Getty Images/AFP/A. Gharabli
Status não definido
Até hoje, Jerusalém continua sendo um obstáculo no processo de paz entre Israel e os palestinos. Em 1980, Israel declarou a cidade inteira como "capital eterna e indivisível". Depois que a Jordânia desistiu de reivindicar para si a Cisjordânia e Jerusalém Oriental, em 1988, foi conclamado um Estado palestino, com o leste de Jerusalém como sua capital.