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Governo tenta minimizar crise da carne e critica PF

20 de março de 2017

Temer convida embaixadores de países importadores à churrascaria e reitera que produto brasileiro é seguro. Blairo Maggi questiona apuração da PF e defende sistema de fiscalização sanitária no país.

Presidente Michel Temer em jantar numa churrascaria com representantes de países importadores de carne brasileira
Temer jantou com embaixadores após reunião para acalmar ânimosFoto: Getty Images/AFP/E. Sa

O governo brasileiro vem tentando acalmar os ânimos e assegurar que sua indústria da carne não representa nenhuma ameaça, apesar de uma operação da Polícia Federal (PF), na sexta-feira passada (17/03), ter desbaratado um esquema de venda do produto com data de validade vencida ou mesmo estragado e de liberação de licenças para frigoríficos sem fiscalização. 

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Após uma série de reuniões com ministros do governo e embaixadores dos principais países importadores de carne brasileira, o presidente Michel Temer convidou os representantes internacionais para um jantar numa churrascaria na noite deste domingo. O restaurante escolhido pelo Planalto compra carnes da Marfrig, Minerva e JBS, um dos frigoríficos investigados.

Temer sentou-se entre os representantes de China e Angola. Após o jantar, o presidente afirmou que os embaixadores e representantes presentes "vão advogar junto a seus países no sentido de divulgar a tranquilidade em relação ao consumo da carne brasileira". "Não é para causar um terror que se está imaginando", disse.

Mais cedo, Temer afirmou aos embaixadores dos países exportadores, entre eles EUA, China e nações europeias, que o escândalo não significa que a carne brasileira ofereça riscos à saúde e reiterou a confiança do governo na qualidade do produto nacional.

O Brasil é o segundo maior produtor de carne bovina do mundo e o maior exportador, fornecendo para mais de 150 países. As investigações da PF apontam que a carne imprópria para consumo era destinada tanto ao mercado interno quanto à exportação.  

Segundo o presidente, o país tem 11 mil inspetores e apenas 33 estão sendo investigados. Das 4.837 unidades sujeitas à inspeção federal, apenas 21 são suspeitas de envolvimento em irregularidades. Os problemas descobertos são pontuais, afirmou. Temer discutiu ainda com os ministros e embaixadores medidas que amenizem os eventuais impactos negativos da operação da PF, batizada de Carne Fraca.

Investigação de dois anos da PF seria baseada em grampos e depoimentos e teria havido perícia em apenas um casoFoto: Brasilia Polícia Federal

"Quero fazer um comunicado de que decidimos acelerar o processo de auditoria nos estabelecimentos citados na investigação da Polícia Federal. Na verdade são 21 unidades no total, três dessas unidades foram suspensas, e todas as 21 serão colocada sob regime especial de fiscalização a ser conduzida por força tarefa do Ministério da Agricultura", anunciou Temer.

"Fantasias" e papelão

O ministro da Agricultura, Blairo Maggi, afirmou que a China e a União Europeia pediram informações formais ao Brasil a respeito da operação deflagrada pela PF.

O ministro garantiu que serão divulgados os nomes e dados das empresas citadas nas investigações e para quais países elas exportaram nos últimos dois meses. Segundo Maggi, seis dos 21 frigoríficos investigados exportaram produtos nos últimos 60 dias.

Após a reunião emergencial com Temer e os representantes de países importadores, Maggi criticou a "narrativa" feita pela PF ao divulgar a operação e o fato de o Ministério da Agricultura não ter sido informado sobre as investigações. A PF explicou que o ministério não foi consultado, pois era parte da investigação, segundo o ministro.

"A narrativa nos leva a criar fantasias", disse Maggi. "Sobre a questão do papelão está claro no áudio de que estavam falando das embalagens e não de misturar papelão na carne. Isso é uma idiotice, uma insanidade para dizer a verdade. As empresas gastaram milhões de dólares para conquistar mercados, e vão misturar papelão?"

O ministro disse ainda que o uso de ácido ascórbico e carne de cabeça de porco nos embutidos, por exemplo, é permitido em determinados produtos e percentuais, e  que a forma como essas informações foram divulgadas não foi adequada. Maggi voltou a defender que o sistema de fiscalização sanitária do país e a classificou como confiável.

"Temos um sistema de fiscalização muito forte, robusto, reconhecido pelo mercado internacional, checamos toda a qualidade. Ao chegar aos países de destino, todos os produtos são novamente fiscalizados e checados. Nenhum mercado internacional é realizado sem que antes haja o reconhecimento dos sistemas de fiscalização, sanidade entre os países", disse o ministro.

Temer, por sua vez, disse após o jantar na churrascaria que não viu exageros por parte da PF na operação, afirmando que houve uma "ação integrada do Ministério da Agricultura e da Polícia Federal".

Brasil é o segundo maior produtor de carne bovina do mundo e exporta para mais de 150 paísesFoto: AFP/Getty Images

Segundo o jornal Folha de S. Paulo, a PF descreve indícios de irregularidades entre empresas e servidores do Ministério da Agricultura e na produção de alimentos com base em análise de grampos telefônicos e depoimentos. Em dois anos de apuração, a PF realizou perícia em alimentos em apenas um caso. 

Momento delicado

As reuniões deste domingo aconteceram após a Operação Carne Fraca ter desarticulado uma organização criminosa liderada por fiscais agropecuários que emitiam certificados sanitários sem fiscalização, em troca de propina. Além de empresas fornecedoras e grandes frigoríficos, 33 fiscais federais também estão sob investigação.

Segundo a PF, os frigoríficos envolvidos no esquema criminoso "maquiavam" carnes vencidas com ácido ascórbico e as reembalavam para conseguir vendê-las.

O caso surge num momento sensível, quando o Brasil e outros membros do Mercosul procuram um acordo de comércio com a União Europeia. Os Estados Unidos começaram a receber, no ano passado, importações de carne crua do Brasil.

Segundo informações do Ministério da Agricultura, em 2016, o Brasil exportou mais de 1 milhão de toneladas de carne bovina. Os principais destinos foram Hong Kong, Egito, China e Rússia. Também foram exportados cerca de 3,9 milhões de toneladas de carne de frango in natura, cujos principais compradores foram Arábia Saudita, China, Japão, Emirados Árabes Unidos e Hong Kong. No mesmo ano foram abatidas 42,3 milhões de cabeças de suínos para o mercado interno e externo.

PV/AS/afp/rtr/abr/ap/ots