Governos populistas geram mais mortes por covid, diz estudo
28 de janeiro de 2022
Brasil está entre países onde pesquisadores internacionais registram o dobro do excesso de óbitos e de mobilidade popular durante a pandemia, em comparação com outras nações.
Anúncio
Em países com governos populistas, o risco de morte em decorrência do coronavírus é significativamente maior do que em outros lugares. Em média, a mortalidade nessas nações é mais que duas vezes superior.
Essa é a conclusão de um estudo divulgado nesta quinta-feira (27/01) pelo Instituto de Economia Mundial (IfW), sediado em Kiel, no norte da Alemanha.
"Os números são claros: os populistas são claramente os piores gestores de crise na pandemia de coronavírus, responsáveis por muitas mortes evitáveis nos países que governam", conclui Michael Bayerlein, especialista do IfW em pesquisa do populismo.
O excesso de mortalidade – número de óbitos acima do valor esperado num momento sem pandemia – em países com governos populistas foi de quase 18%, em média, enquanto nos outros ficou em torno de 8%.
Os pesquisadores classificaram como populistas os governos de 11 países, entre eles Brasil, Polônia, Eslováquia, República Tcheca, Hungria, Reino Unido e Índia.
Maior mobilidade
Os pesquisadores atribuíram o excesso de mortalidade mais elevado à maior atividade física da população em países governados por populistas.
Para medir a mobilidade, a equipe utilizou dados do Google, que mostram o nível de frequência de determinados como lugares, como supermercados ou parques, durante a pandemia.
De acordo com esses dados, o índice de movimento em países com governos populistas é duas vezes maior do que naqueles com lideranças não populistas.
A equipe de autores identificou duas razões para a maior mobilidade: por um lado, os governos populistas têm determinado menos medidas para proteção da população contra infecções e, em particular, para limitar os contatos. Por outro lado, eles minimizam os perigos do vírus, o que impediria a população de restringir sua mobilidade voluntariamente.
Anúncio
Cerca de 40 nações
Juntamente com uma equipe internacional de pesquisadores de diversos países, Bayerlein avaliou a gestão de pandemia durante 2020 em 42 países que integram a OCDE ou que pertencem ao assim chamado Brics.
"Nosso estudo prova pela primeira vez que os populistas fazem um trabalho ruim na gestão da pandemia, o que também se reflete diretamente no número de mortes", diz Bayerlein. "O alto excesso de mortes é impulsionado por uma mobilidade muito alta, que por sua vez é causada pela falta de restrições e pela propaganda anticorona".
A única boa notícia é que a conexão clara entre os números de mobilidade e óbitos também indicam que os cidadãos poderiam se proteger reduzindo voluntariamente seus contatos durante a pandemia.
md/av (Reuters, EPD)
Vírus verbal: frases de Bolsonaro sobre a pandemia
"E daí?", "gripezinha", "não sou coveiro", "país de maricas": desde que o coronavírus chegou ao Brasil, presidente tratou publicamente com desdenho a crise. Enquanto a epidemia avança, suas falas causam ultraje.
Foto: Andre Borges/dpa/picture-alliance
"Superdimensionado"
Em 9 de março, em evento durante visita aos EUA, Bolsonaro disse que o "poder destruidor" do coronavírus estava sendo "superdimensionado". Até então, a epidemia havia matado mais de 3 mil pessoas no mundo. Após o retorno ao Brasil, mais de 20 membros de sua comitiva testaram positivo para covid-19.
Foto: Reuters/T. Brenner
"Europa vai ser mais atingida que nós"
A declaração foi dada em 15 de março. Precisamente, ele afirmou: "A população da Europa é mais velha do que a nossa. Então mais gente vai ser atingida pelo vírus do que nós." Segundo a OMS, grupos de risco, como idosos, têm a mesma chance de contrair a doença que jovens. A diferença está na gravidade dos sintomas. O Brasil é hoje o segundo país mais atingido pela pandemia.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/GDA/O Globo
"Gripezinha" e "histórico de atleta"
Ao menos duas vezes, Bolsonaro se referiu à covid-19 como "gripezinha". Na primeira, em 24 de março, em pronunciamento em rede nacional, ele afirmou, que, por ter "histórico de atleta", "nada sentiria" se contraísse o novo coronavírus ou teria no máximo uma “gripezinha ou resfriadinho”. Dias depois, disse: "Para 90% da população, é gripezinha ou nada."
Foto: Youtube/TV BrasilGov
"Todos nós vamos morrer um dia"
Após visitar o comércio em Brasília, contrariando recomendações deu seu próprio Ministério da Saúde e da OMS, Bolsonaro disse, em 29 de março, que era necessário enfrentar o vírus "como homem". "O emprego é essencial, essa é a realidade. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Todos nós vamos morrer um dia."
Foto: Reuters/A. Machado
"A hidroxicloroquina tá dando certo"
Repetidamente, Bolsonaro defendeu a cloroquina para o tratamento de covid-19. Em 26 de março, quando disse que o medicamento para malária "está dando certo", já não havia qualquer embasamento científico para defender a substância. Em junho, a OMS interrompeu testes com a hidroxicloroquina, após evidências apontarem que o fármaco não reduz a mortalidade em pacientes internados com a doença.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/F. Taxeira
"Vírus está indo embora"
Em 10 de abril, o Brasil ultrapassou a marca de mil mortos por coronavírus. No mundo, já eram 100 mil óbitos. Dois dias depois, Bolsonaro afirmou que "parece que está começando a ir embora essa questão do vírus". O Brasil se tornaria, meses depois, um epicentro global da pandemia, com dezenas de milhares de mortos.
Foto: Reuters/A. Machado
"Eu não sou coveiro"
Assim o presidente reagiu, em frente ao Planalto, quando um jornalista formulava uma pergunta sobre os números da covid-19 no Brasil, que já registrava mais de 2 mil mortes e 40 mil casos. “Ô, ô, ô, cara. Quem fala de... eu não sou coveiro, tá?”, afirmou Bolsonaro em 20 de abril.
Foto: picture-alliance/AP Images/A. Borges
"E daí?"
Foi uma das declarações do presidente que mais causaram ultraje. Com mais de 5 mil mortes, o Brasil havia acabado de passar a China em número de óbitos. Era 28 de abril, e o presidente estava sendo novamente indagado sobre os números do vírus. “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre...”
Foto: Getty Images/A. Anholete
"Vou fazer um churrasco"
Em 7 de maio, o Brasil já contava mais de 140 mil infectados e 9 mil mortes. Metrópoles como Rio e São Paulo estavam em quarentena. O presidente, então, anunciou que faria uma festinha. "Estou cometendo um crime. Vou fazer um churrasco no sábado aqui em casa. Vamos bater um papo, quem sabe uma peladinha...". Dias depois, voltou atrás, dizendo que a notícia era "fake".
Foto: Reuters/A. Machado
"Tem medo do quê? Enfrenta!"
Em julho, o presidente anunciou que estava com covid-19. Disse que estava "curado" 19 dias depois. Fora do isolamento, passou a viajar. Ao longo da pandemia, ele já havia visitado o comércio e participado de atos pró-governo. Em Bagé (RS), em 31 de julho, sugeriu que a disseminação do vírus é inevitável. "Infelizmente, acho que quase todos vocês vão pegar um dia. Tem medo do quê? Enfrenta!”
Foto: Reuters/A. Machado
"País de maricas"
Em 10 de novembro, ao celebrar como vitória política a suspensão dos estudos, pelo Instituto Butantan, da vacina do laboratório chinês Sinovac após a morte de um voluntário da vacina, Bolsonaro afirmou que o Brasil deveria "deixar de ser um país de maricas" por causa da pandemia. "Mais uma que Bolsonaro ganha", comentou.
Foto: Andre Borges/NurPhoto/picture alliance
"Chega de frescura, de mimimi"
Em 4 de março de 2021, após o país registrar um novo recorde na contagem diária de mortes diárias por covid-19, Bolsonaro afirmou que era preciso parar de "frescura" e "mimimi" em meio à pandemia, e perguntou até quando as pessoas "vão ficar chorando". Ele ainda chamou de "idiotas" as pessoas que vêm pedindo que o governo seja mais ágil na compra de vacinas.