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Grécia enfrenta medo de futuro incerto

Pavlos Zafiropoulos, de Atenas (md) 4 de julho de 2015

Na véspera da consulta popular que decidirá se gregos aceitam as reformas propostas pelos credores, país vive racha não só entre "sim" e "não". Há discordâncias de interpretação até entre partidários do mesmo voto.

Foto: DW/P. Zafiropoulos

Pyrros Dimas, levantador de peso ganhador de três medalhas de ouro olímpicas e ex-parlamentar, luta para conter as lágrimas. "Passei por dificuldades. Já passei por isso e posso passar por isso novamente. Mas os meus filhos, eu não quero que eles passem por isso." Em entrevista a uma grande estação de TV grega, Dimas lembra a experiência vivida na Albânia dos anos 1980, em que eram comuns longas filas para comprar pão e leite. Agora, em seu país adotivo, que por muitos anos foi um farol de estabilidade e prosperidade nos Balcãs, tal perspectiva não é mais impensável.

Nestes dias, tal declaração emocionada é uma mera nota de rodapé na tempestade de debates e eventos que ocorrem desde que o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, anunciou a realização do referendo.

Desde então, a Grécia se uniu à triste lista dos países que deixaram de pagar suas dívidas com o Fundo Monetário Internacional (FMI), controles de capital foram impostos aos bancos do país, causando estragos à economia e às vidas de cidadãos, limitados a fazer saques de até 60 euros por dia, e as relações entre o governo e os seus credores pioraram. Se o Banco Central Europeu (BCE) decidir deixar de sustentar os bancos, um colapso total do sistema financeiro pode ser iminente.

Proposta Indecente

Os gregos estão sendo convocados a votar em uma proposta que promete dinheiro em troca de austeridade, a qual efetivamente não está mais em pauta após o segundo programa de resgate da Grécia ter encerrado na terça-feira. O governo argumenta que um voto no "não" irá reforçar seu poder de barganha numa nova rodada de negociações, enquanto um coro quase unânime de líderes da UE diz que o referendo é sobre a adesão da Grécia ao euro.

É impressionante que uma questão aparentemente simples entre "sim" e "não" possa ser tão obscurecida por camadas de complexidade e confusão, mesmo para os gregos, acostumados a cinco anos de vida em que a ameaça de saída do euro pairou, como uma espada de Dâmocles, sobre cada eleição e cada avaliação da troika.

Simpatizantes do "não" se dizem traídos pela UEFoto: DW/P. Zafiropoulos

"É um enorme risco político", avalia Eftychis Vardoulakis, consultor político Atenas e estrategista baseado em Atenas. Ele acredita que o primeiro-ministro grego criou uma armadilha para si mesmo com o referendo. "Se o voto no 'sim' prevalecer, ele já indicou que vai renunciar. Mas, mesmo com uma vitória do 'não' será muito, muito difícil para ele chegar a acordo melhor do que o que já foi proposto. E a que custo para a economia?"

Yiannis e Athina, um jovem casal de cerca de 30 anos, também se preocupa com o futuro de seus filhos, como Pyrros Dimas. Mas, ao contrário de Dimas, favorável ao "sim", o casal participou da primeira grande manifestação pelo "não". Como muitos outros favoráveis ao "não", eles consideram o euro mais como uma camisa de força do que uma garantia de segurança.

"A destruição está chegando. Ela virá gradualmente ou de uma só vez. Mas depois de chegarmos ao fundo, podemos começar a crescer de novo", diz Athina. "Não tenho medo da dracma." Yiannis, um cozinheiro de restaurante, concorda. "Pelo menos, nossos filhos viverão melhor do que nós."

Há uma divisão entre os favoráveis ao "não", entre aqueles que querem manter o euro, em melhores condições, e aqueles que gostariam de ter novamente a antiga moeda nacional e gostariam até mesmo que a Grécia deixasse a União Europeia. Mas a esmagadora maioria entre eles acredita que os credores estão prejudicando em vez de ajudar o país, insistindo em um programa de austeridade autodestrutivo, que destrói toda a esperança numa recuperação econômica.

"Eu me sinto traído pela Europa", diz Nikos Aspradakis, 48 anos, outro participante da manifestação. "Estou procurando pela solidariedade deles, mas eu não a acho. Só quero que essa tortura acabe."

Os simpatizantes do "sim" também estão divididos entre aqueles que acham que o fracasso das negociações é devido à incompetência ou se o plano do governo é provocar uma saída do euro. Mas, ultimamente, eles confiam mais na UE do que em seu próprio governo.

E se a Grécia sair da zona do euro?

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Um jogo perigoso

Na verdade, talvez seja a oposição entre aqueles que apoiam a adesão da Grécia à UE contra aqueles que apoiam o governo o resultado mais perigoso do referendo convocado por Tsipras.

"É uma escolha entre dois males", acredita o comentarista político Stavros Lygeros, em entrevista à DW. "O voto" sim "pode muito bem ganhar, mas será sob a ameaça de um colapso financeiro. Isso vai deixar cicatrizes profundas naqueles que achavam que a Europa era sinônimo de uma outra coisa."

A maioria dos comentaristas políticos, incluindo Lygeros, crê que o momento é mais favorável à vitória do "sim", em grande parte devido à profunda insegurança criada no setor bancário.

A vitória do "sim" provavelmente significará o fim do governo Tsipras, que pode convocar eleições antecipadas ou, talvez, a formação de um governo de unidade que busque um acordo com os credores, a fim de estabilizar a situação financeira da Grécia.

Mas enquanto isso possa agradar a muitos na Europa, poucos na Grécia estão inclinados a comemorações. Independentemente do resultado final, o país já está em águas desconhecidas e, para os gregos, a única certeza que fica é que a incerteza continua.

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