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CatástrofeGrécia

Grécia prende nove pessoas após naufrágio

16 de junho de 2023

Cidadãos egípcios são suspeitos de tráfico humano. Eles faziam parte da tripulação de embarcação que afundou nesta semana com centenas de migrantes

Um cadáver é retirado de um caminhão que está estacionado em uma área portuária na Grécia. O corpo está dentro de um saco e é de uma das vítimas de um grande e recente naufrágio de migrantes.
Até o momento, apenas 78 corpos foram encontrados. Estima-se que embarcação tinha 750 pessoasFoto: STELIOS MISINAS/REUTERS

Nove membros da tripulação de uma embarcação lotada de migrantes que afundou no litoral grego na quarta-feira (14/06) foram presos e estão sob custódia em Kalamata, no sul da Grécia. Segundo a Guarda Costeira grega, eles são egípcios, têm entre 20 e 40 anos e são suspeitos de tráfico humano, morte por negligência e de integrarem uma organização criminosa.

O barco estaria transportando cerca de 750 pessoas e havia zarpado da costa da Líbia. Até o momento, as equipes de resgate encontraram 104 sobreviventes e 78 corpos. Todos os sobreviventes são homens ou meninos. Mulheres e crianças teriam ficado presas no porão quando a embarcação virou e afundou, na região central do Mar Mediterrâneo.

O naufrágio ocorreu a cerca de 75 quilômetros a sudoeste da Península do Peloponeso, numa área conhecida como Trincheira de Calypso, o ponto de maior profundidade do Mediterrâneo, com mais de 5 mil metros.

De acordo com informações obtidas pela Agência Internacional para Migrações (IOM), da Organização das Nações Unidas (ONU), após entrevistas com sobreviventes, estima-se que havia pelo menos 40 crianças a bordo.

A chefe da IOM, Erasmia Roumana, disse que vários sobreviventes têm amigos e parentes que ainda não foram encontrados e que eles estão em "condições psicológicas muito ruins".

"Eles querem entrar em contato com suas famílias para dizer que estão bem e continuam perguntando sobre os desaparecidos", afirmou. "Muitos estão em estado de choque, extremamente abalados", acrescentou.

Os sobreviventes são de países como Síria, Egito, Paquistão e do território palestino. Eles foram levados a um centro de acolhimento ao norte de Atenas para serem registrados e solicitarem asilo.

Os trabalhos de busca continuam, mas, segundo declaração do guarda-costeiro aposentado Nikos Spanos à televisão estatal grega ERT, a chance de encontrar mais sobreviventes "é mínima".

A Grécia anunciou três dias de luto devido à tragédia e colocou um promotor exclusivo para investigar o episódio.

Todos os 104 sobreviventes do naufrágio no Mar Mediterrâneo são homens ou meninosFoto: John Liakos/AP Photo/picture alliance

Contato a bordo

A Guarda Costeira grega informou a Agência Europeia de Fronteiras e da Guarda Costeira (Frontex) que o barco foi descoberto no final da manhã de terça-feira e que os migrantes recusaram repetidas ofertas de resgate. E argumentou que o barco poderia ter afundado antes se as autoridades tivessem executado uma intercepção.

"Não é possível desviar à força um barco com tantas pessoas a bordo, a menos que haja cooperação", afirmou o porta-voz da Guarda Costeira da Grécia, Nikos Alexiou.

As autoridades também afirmaram que a embarcação, observada por um helicóptero, parecia navegar normalmente por volta das 18 horas de terça-feira.

Na manhã de quarta-feira, equipes de resgate gregas contataram um passageiro, que disse que as pessoas a bordo precisavam de comida e água. Navios mercantes teriam repassado suprimentos.

Mais tarde, foi relatado um problema no motor do barco que, segundo a Guarda Costeira, começou a balançar violentamente e afundou cerca de 40 minutos depois desse último contato.

Especialistas acreditam que o barco pode ter ficado sem combustível ou ter enfrentado falhas mecânicas no motor. A movimentação dos passageiros teria feito com que a embarcação se inclinasse e, depois, virasse.

Uma fotografia aérea do barco divulgada pelas autoridades gregas mostra pessoas amontoadas no convés, e a maioria não estava usando coletes salva-vidas.

Protesto em Atenas pede justiça e chama de "assassina" a Guarda Costeira da GréciaFoto: LOUIZA VRADI/REUTERS

Críticas a autoridades

De acordo com a Alarm Phone, uma rede de ativistas que presta socorro imediato a migrantes em situação de emergência, os problemas começaram antes da quarta-feira, dia em que a embarcação afundou. A organização disse que os migrantes pediram ajuda já por volta das 15h de terça-feira.

Especialistas afirmaram que, conforme as leis marítimas, as autoridades gregas deveriam ter tentado um resgate se o barco não apresentasse segurança, independentemente de um pedido da tripulação ou passageiros.

A busca e o resgate "não são um contrato de mão dupla. Você não precisa de consentimento", declarou o almirante aposentado da Guarda Costeira italiana Vittorio Alessandro, que instou que a superlotação, a falta de coletes salva-vidas ou a ausência de um capitão teriam sido motivos para intervir.

O professor Erik Røsæg, do Instituto de Direito Privado da Universidade de Oslo, na Noruega, disse que as autoridades gregas "tinham o dever de iniciar procedimentos de resgate", dadas as condições da embarcação.

O ministro interino para Proteção Civil da Grécia, Evangelos Tournas, em contrapartida, defendeu a conduta da Guarda Costeira, dizendo que a instituição não poderia intervir em uma embarcação enquanto ela estivesse em águas internacionais.

Da Líbia para a Europa

Migrantes de países como Egito, Níger e Sudão costumam usar a Líbia como rota de tráfego para o Mediterrâneo, atravessando o mar em barcos inadequados e superlotados para chegar às costas europeias.

Os traficantes de pessoas geralmente autorizam o embarque após o pagamento de uma taxa que não garante que os passageiros sobreviverão à jornada marítima.

A Itália e a Grécia são dois dos destinos mais frequentes dos migrantes que buscam entrar na União Europeia (UE).

Eftychia Georgiadi, funcionária do Comitê Internacional de Resgate na Grécia, declarou que o fracasso da UE em oferecer rotas mais seguras para a migração "efetivamente fecha a porta para as pessoas que buscam proteção. Ninguém embarca nessas jornadas traiçoeiras a menos que sinta que não tem outra opção", afirmou.

gb (AP, AFP, dpa, Reuters)