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CatástrofeGrécia

Grécia tem violentos protestos após grave colisão de trens

5 de março de 2023

Funcionários de ferrovias e estudantes convocaram manifestação contra o governo, acusado de negligência que culminou em acidente com 57 mortos e dezenas de feridos. Governo e operadora ferroviária falam em erro humano.

Chamas no asfalto e dois policiais com escudos
Polícia dispersou multidão de 12 mil pessoasFoto: Yorgos Karahalis/AP/dpa/picture alliance

Confrontos violentos ocorreram neste domingo (05/03) entre a polícia e manifestantes em frente ao Parlamento grego, em Atenas, durante um protesto contra o governo após a colisão de trens que matou 57 pessoas e deixou dezenas de feridos no dia 28 de fevereiro.

Manifestantes incendiaram latas de lixo e jogaram coquetéis molotov contra os agentes de segurança. A polícia lançou gás lacrimogêneo e bombas de efeito moral e, em poucos minutos, dispersou cerca de 12 mil manifestantes na Praça Syntagma.

Na noite de terça-feira, um trem de passageiros com 342 pessoas e 10 tripulantes a bordo chocou-se com um trem de carga. De acordo com a operadora ferroviária Hellenic Train, ele partiu de Atenas com destino a Tessalônica, no norte. Já o trem de carga partiu de Tessalônica para Lárissa, na região central do país, e tinha dois operadores.

Em meio a uma paralisação que afeta trens e metrôs, o protesto foi convocado por estudantes, funcionários de ferrovias e da administração pública. Alguns seguravam cartazes com frases como "abaixo os governos assassinos". Diante do Parlamento, foram soltos centenas de balões pretos em memória às vítimas da colisão fatal de trens.

A Hellenic Train, que foi privatizada em 2017, suspendeu todos os serviços regulares na quinta-feira depois que os trabalhadores ferroviários disseram que entrariam em greve.

Sindicato alertou sobre problemas

O chefe da estação de Lárissa, a cidade mais próxima do local do acidente, assumiu a responsabilidade pela tragédia. Descrito pelos meios de comunicação como inexperiente e no cargo há pouco tempo, o homem de 59 anos seria ouvido neste domingo pela Justiça grega. Segundo a agência de notícias alemã DPA, ele tem 10 anos a mais do que a idade limite permitida para o cargo e estava sem supervisão.

Apesar de ele ter assumido a culpa, os sindicatos alertam que o estado de degradação da ferroviária, problemas no sistema de sinalização e a segurança nas linhas férreas eram problemas existentes que haviam sido reportados às autoridades, assim como a falta de funcionários. 

"A dor se transformou em raiva pelas dezenas de colegas e concidadãos mortos e feridos", disse o sindicato dos trabalhadores em um comunicado. "O desrespeito demonstrado ao longo dos anos pelos governos às ferrovias gregas levou ao trágico resultado".

Na sexta-feira, manifestantes protestaram em frente à sede da companhia ferroviária Hellenic Train, em Atenas, e escreveram "assassinos" com letras vermelhas na fachada do prédio.

Balões pretos em memória às vítimas da colisão de trens fatal foram soltos em frente ao Parlamento gregoFoto: Aggelos Barai/AP/picture alliance

Primeiro-ministro pede desculpas

Mais cedo, o primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, havia pedido desculpas às famílias das vítimas.

"Como primeiro-ministro, devo pedir a todos, mas especialmente aos familiares das vítimas, perdão", declarou, numa mensagem publicada no Facebook. "Na Grécia de 2023, não é possível que dois trens circulem em direções opostas na mesma linha e não sejam notados por alguém", referiu. "Não podemos, não queremos e não devemos nos esconder atrás do erro humano", disse o primeiro-ministro conservador, referindo-se ao chefe da estação de Lárissa.

Mitsokanis também compareceu neste domingo a uma celebração religiosa na catedral ortodoxa de Atenas.

Ainda neste domingo, em Tessalônica, a segunda maior cidade do país e onde viviam muitas das vítimas do acidente, foram lançados novamente coquetéis molotov contra um pelotão das forças antimotim, divulgou a agência de notícias grega ANA. Nos últimos dias, Atenas e Tessalônica têm sido palco de protestos violentos. 

Além da paralisação dos trens e dos protestos, o acidente também ocasionou a renúncia do ministro dos Transportes grego, Kostas Karamanlis, e de vários altos funcionários da Hellenic Railways, a companhia ferroviária nacional grega.

Karamanlis disse em comunicado que deixar o cargo era "o mínimo que poderia fazer para honrar a memória das vítimas", acrescentando que estava assumindo a responsabilidade pelos "fracassos de longa data" do Estado.

Colisão entre trem de passageiros e de carga ocorreu perto de um túnelFoto: AFP

Como ocorreu o acidente

A colisão ocorreu pouco antes da meia-noite (horário local) de terça-feira perto de Tempe, a poucos quilômetros de Lárissa, quando o trem de passageiros saiu de um túnel. Vários vagões descarrilaram, e quatro deles pegaram fogo. Os dois trens estavam no mesmo trilho no momento.

"Eles estavam viajando em grande velocidade e um [condutor] não sabia que o outro estava chegando", disse o governador regional da Tessália, Konstantinos Agorastos.

Embora túneis e pontes modernas tenham sido construídos ao longo da rota, o sindicato dos maquinistas gregos disse que havia problemas com a coordenação do tráfego.

"Viajamos de uma parte da linha para a outra por rádio, assim como nos velhos tempos. Os gerentes da estação nos dão luz verde", disse o presidente do sindicato, Kostas Genidounias, à rádio estatal.

le (Lusa, DPA, Reuters, AFP, AP)