Grande Barreira de Corais foi reduzida à metade em 25 anos
14 de outubro de 2020
Estudo aponta mudança climática como principal razão para a morte dos corais. Ecossistema localizado na Austrália pode perder a capacidade de se recuperar do aquecimento, alertam cientistas.
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Cerca de 50% dos corais da Grande Barreira de Corais da Austrália morreram nos últimos 25 anos, afirmou um estudo publicado nesta quarta-feira (14/10) na revista britânica Proceedings of the Royal Society Journal.
A perda foi atribuída sobretudo ao branqueamento dos corais causado pelas mudanças climáticas, um fenômeno que ameaça a própria capacidade de recuperação do vasto recife, listado como Patrimônio Mundial.
A equipe de cientistas encontrou uma queda alarmante no número de corais de todos os tamanhos desde meados da década de 1990. "O declínio ocorreu tanto em águas rasas quanto em profundas, e em praticamente todas as espécies, mas especialmente em corais ramificados e tabulares", disse Terry Hughes, professor da Universidade James Cook e coautor do estudo.
De acordo com Hughes, esses corais foram os mais afetados pelas temperaturas recordes que desencadearam um branqueamento em massa nos anos de 2016 e 2017. Tal processo é provocado pelo aquecimento dos oceanos, que acaba estressando os corais saudáveis e fazendo com que eles expulsem algas – perdendo assim suas cores vibrantes.
Um dos receios dos pesquisadores é que a menor quantidade de grandes corais reprodutores afete a capacidade de recuperação da Grande Barreira de Corais. "Uma população de corais vibrantes tem milhões de corais bebês pequenos, assim como muitos corais grandes – as grandes mamães que produzem a maioria das larvas", explica.
"Nossos resultados mostram que a capacidade da Grande Barreira de Corais de se recuperar – sua resiliência – está comprometida em comparação com o passado, porque há menos bebês e menos adultos reprodutores de grande porte", acrescentou.
Branqueamento intenso de corais na Austrália
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Vítima das mudanças climáticas
Os autores do estudo chamaram atenção para as mudanças climáticas, que estariam destruindo irreversivelmente o ecossistema subaquático. Eles avaliam que só uma redução imediata de emissões de gases do efeito estufa seria capaz de salvar os corais.
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"Para as espécies de crescimento mais rápido, leva cerca de uma década para uma recuperação decente. Mas a chance de termos décadas entre os futuros eventos de branqueamento é quase zero, porque as temperaturas estão subindo cada vez mais," alerta Hughes.
Com 2.300 quilômetros de extensão, a Grande Barreira de Corais é o ecossistema de recife de corais mais extenso do mundo e o habitat natural de diversas espécies ameaçadas, como o dugongo e a grande tartaruga verde.
No período analisado, o recife australiano também foi afetado por vários ciclones e duas eclosões de coroas-de-espinhos, espécie de equinoderme pertencente à classe das estrelas-do-mar que se alimenta do coral.
IP/afp/rts/dpa/ots
Sete efeitos surpreendentes das mudanças climáticas
Veja algumas consequências inesperadas das mudanças climáticas para a vida na Terra – de perturbações do sono à falta de violinos e o sexo das tartarugas.
Foto: picture-alliance/dpa
Cuidado: Boom de águas-vivas!
Embora haja uma combinação de fatores por trás das enxurradas de águas-vivas que chegam a paraísos de férias como a costa do Mediterrâneo, a mudança climática também é parcialmente responsável. Temperaturas do mar mais altas estão abrindo novas áreas para elas se reproduzirem, além de aumentar a disponibilidade de seu alimento favorito, o plâncton.
Foto: picture-alliance/dpa
A madeira perfeita está sumindo
Prezado pela qualidade sonora, um violino Stradivarius original pode valer milhões de dólares. Mas eventos climáticos extremos, como tempestades violentas, estão matando milhões de árvores e ameaçando a famosa floresta de Paneveggio, no norte da Itália. Replantar árvores não vai ajudar muito no curto prazo: um abeto precisa de pelo menos 150 anos antes de se transformar num violino.
Foto: Angelo van Schaik
Pode esquecer o sono
Em noites muito quentes, dorme-se mal, especialmente nas grandes cidades. Em 2050 as metrópoles europeias poderão ter temperaturas em média 3,5ºC mais altas no verão. Isso não só afeta o sono, mas também o humor, a produtividade e a saúde mental. A única forma de escapar é mudar-se para uma cidade menor, onde as noites são mais frescas, pois há menos prédios e mais vegetação.
Foto: picture-alliance/AP Photo/R.K. Singh
Coitado do nariz
Má notícia para quem sofre de alergia: o aquecimento global faz a primavera chegar mais cedo. Com um período sem geadas mais longo, as plantas têm mais tempo para crescer, florescer e produzir pólen. Portanto, o pólen espalha pelo ar muito mais cedo, o que amplia o tempo de sofrimento dos alérgicos. Será o século das máscaras antipoluição e alergias?
Foto: picture-alliance/dpa/K.-J. Hildenbrand
Bactérias e mosquitos
O calor não só faz suar, mas também afeta a saúde. No fim do século, três quartos da população mundial estarão expostos a ondas de calor mortais. O aumento das temperaturas implica mais doenças diarreicas, pois as bactérias se multiplicam melhor nos alimentos e água tépidos. O número de mosquitos provavelmente também vai aumentar, e com eles a propagação de doenças como a malária.
Foto: picture-alliance/dpa/T. Schulze
Casas estão ruindo
Os solos da região do Polo Norte estão descongelando cada vez mais nos meses de verão. As consequências são dramáticas em nível local e mundial. As temperaturas mais altas tornam os pisos instáveis, as casas e as estradas racham e há muito mais insetos. Além disso, se o permafrost derreter, libertará gases CO2 e metano que podem agravar o aquecimento global. Um círculo vicioso.
Foto: Getty Images/AFP/M. Antonov
O calor e o sexo das tartarugas
A temperatura influencia o sexo de várias espécies. Para as tartarugas marinhas, o calor da areia onde os ovos são incubados determina o sexo do filhote. Temperaturas baixas beneficiam os machos, enquanto fêmeas se desenvolvem melhor nas mais altas. Pesquisadores descobriram que mais de 99% das tartarugas recém-nascidas no norte da Austrália são fêmeas, o que dificulta a sobrevivência da espécie.