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Grandes shows podem impulsionar a inflação?

Arthur Sullivan
2 de setembro de 2023

Depois de uma pausa devido à pandemia, estrelas voltam a lotar estádios e fãs estão gastando bastante dinheiro com ingressos e acomodações. Mas qual o impacto real destes eventos para economia local?

Taylor Swift durante show da Eras Tour em Arlington, nos EUA
Eras Tour de Taylor Swift pode bater recorde mundial de bilheteria Foto: SUZANNE CORDEIRO/AFP/Getty Images

Para quem gosta de grandes shows, 2023 está sendo um ano de renascimento. Depois da pandemia de covid-19 que paralisou a realização de grandes eventos por quase três anos, estrelas da música anunciaram turnês mundiais. Beyoncé, Bruce Springsteen, Madonna e Taylor Swift estão entre os artistas que têm lotado estádios em todo o mundo recentemente.

Apesar de trazer alegria aos fãs, as turnês estão impulsionam os preços do setor hoteleiro, de transporte e de vários serviços nas cidades onde esses artistas se apresentam. Isso sem mencionar os valores atuais dos ingressos.

Alguns exemplos foram flagrantes. Quando Taylor Swift anunciou o show na capital irlandesa, Dublin, em junho de 2024, um hotel cancelou inexplicavelmente todas as reservas feitas por fãs após o anúncio. Horas depois, quando as reservas ficaram disponíveis novamente, o valor cobrado pela diária era bem maior.

Aumentos de preços similares foram reportados em outras cidades. Quando Beyoncé se apresentou na Suécia no início deste ano, o valor da diária em hotéis subiu, e Michael Grahn, economista do Danske Bank, disse que a estrela americana contribuiu para impulsionar a inflação no país.

Quanto menor a economia, maior o impacto

Foi uma sugestão curiosa. Mas será que esse tipo de evento pode impactar significativamente na inflação em geral?

Sim e não, diz Tony Yates, um macroeconomista que trabalhou no Bank of England. "Eles podem certamente causar um aumento significativo na demanda por acomodações locais e impulsionar o preço destes serviços. Em países muito pequenos, isso será suficiente para impactar a taxa de inflação agregada", afirma.

O cálculo oficial da inflação envolve a comparação de preços de uma gama de bens e produtos por um determinado período. De acordo com Yates, hotéis seriam incluídos neste cálculo se constituíssem uma parcela suficientemente grande do padrão médio de gastos.

O economista destaca que é importante considerar que, ao investir em eventos como shows, a população geralmente está deixando de gastar dinheiro em outros setores da economia local. Assim as despesas gerais locais podem não aumentar muito, uma vez que o aumento dos preços em algumas áreas deve ser compensado com a queda em outras onde houve a diminuição da demanda.

Segundo Yates, quando maior a economia de um país, menor será o impacto dessa transferência de gastos na inflação. "Numa economia de 10 milhões de habitantes, 100 mil pessoas gastando com outra coisa por um tempo não é um grande problema."

Não necessariamente verdade

Andrew Goodwin, economista-chefe para o Reino Unidos na Oxford Economics, é cético sobre o impacto desses eventos na inflação. "É uma narrativa bonita, mas difícil de se sustentar quando se olha os dados".

Beyoncé chegou a ser acusada de contribuir para a inflação na SuéciaFoto: INSTARimages/Cover-Images/IMAGO

Goodwin explica que, no Reino Unido, um importante destino de shows, o valor dos ingressos é incluído nos serviços culturais. Isso representa cerca de 2% da taxa de inflação, e tem crescido num ritmo bem mais lento do que a inflação geral do país. "Então, basicamente, é uma categoria muito pequena, com uma taxa de inflação abaixo da média", pontua.

O especialista admite, no entanto, que o aumento dos preços do setor hoteleiro é mais difícil de medir e que ele poderia ter um impacto se data do show coincidisse com o dia no qual os dados forem recolhidos. "Mas seria esperado que a situação se reverteria rapidamente no mês seguinte", acrescenta.

Ingressos salgados

Os preços salgados não desanimaram os fãs. Os ingressos para shows como da Beyoncé ou de Taylor Swift podem custar centenas de dólares. A Eras Tour de Taylor Swift, que começou em março e termina em novembro do ano que vem, poderá arrecadar cerca de 1 bilhão de dólares (cerca de R$ 4,98 bilhões) – batendo o recorde de maior bilheteria de uma turnê da história.

A venda de ingressos para os grandes shows anunciados neste e no próximo ano bateram recordes em vários países. O valor médio das entradas aumentou consideravelmente. Dados do banco britânico Barclays mostram que os gastos de consumidores no setor do entretenimento cresceram 15,8% em julho, em comparação com o mesmo mês de 2022.

Yates afirma que isso pode ser explicado devido ao aumento dos gastos no setor hoteleiro desde o fim dos confinamentos, com as pessoas voltando a realizar atividades que não puderam durante a pandemia.

Mesmo que a inflação diminua, especialistas acreditam que os valores de ingressos e custos associados a tais eventos devem permanecer elevados. "Haverá muito resiliência nos preços de eventos musicais e culturais", avaliou o economista-chefe da Societe Generale à emissora CNBC no início deste ano. Ele e outros especialistas acreditam que isso está relacionado ao aumento pós-pandêmico do interesse de participar de tais eventos.

Do ponto-de-vista do consumidor, nem tudo é ruim: há indícios de que tais eventos podem beneficiar a economia local. Um estudo do Common Sense Institute, dos Estados Unidos, mostrou que os dois shows de Taylor Swift em Denver contribuíram com cerca de 140 milhões de dólares para o PIB do Colorado.

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