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Grass: "Querem me transformar em monstro"

(sv)16 de agosto de 2006

Günter Grass defende-se das acusações que vem recebendo desde que declarou publicamente sua participação na tropa de elite nazista. Editora do escritor antecipa o lançamento de sua autobiografia, que já chega ao mercado.

Grass com sua autobiografia: 'Descascando a cebola'Foto: picture-alliance/ dpa

Enquanto a obra literária de Günter Grass continua mantendo o valor literário que sempre teve, acredita o ministro alemão da Cultura, Bernd Neumann, o escritor não está mais apto a se pronunciar publicamente como uma "instância moral" no país. A opinião de Neumann, porém, pode ser considerada até moderada no debate envolvendo o passado de Grass.

O crítico literário Hellmuth Karasek, por exemplo, acredita que as décadas de silêncio de Grass sobre sua participação na Waffen-SS simplesmente eliminam a validade do Prêmio Nobel de Literatura recebido pelo escritor. O diretor da Fundação Nobel, Michael Sohlman, porém, revida qualquer possibilidade de retirada da premiação de Grass.

Confissão tardia

Charlotte Knobloch, do Conselho Central dos Judeus: 'situação absurda'Foto: AP

Sob o fogo cerrado da mídia, de colegas escritores e de representantes da comunidade judaica no país, Grass pronunciou-se na noite da última segunda-feira (15/08), afirmando que a cadeia de reações da mídia o magoou pessoalmente. "Com certeza há a tentativa por parte de alguns de querer me transformar em monstro", declarou o escritor.

Ao ser questionado sobre o motivo de um silêncio tão longo a respeito de seu próprio passado, afirmou: "Só a partir do momento em que me decidi a escrever sobre minha juventude é que encontrei esta forma literária. Ela me permitiu, finalmente, falar e escrever sobre a participação na Waffen-SS".

Na Alemanha, a "confissão tardia" do escritor foi duramente criticada pelo Conselho Central dos Judeus. "Grass sempre fez advertências morais rígidas aos outros. Seu silêncio de anos sobre o próprio passado na SS faz com que seus discursos pareçam absurdos", comentou a presidente do Conselho, Charlotte Knobloch.

Biografia chega às livrarias

Outra das acusações que pesam sobre os ombros de Grass é a de que o escritor teria aberto a boca apenas para promover sua autobiografia – Descascando a Cebola (Beim Häuten der Zwiebel), cujo lançamento, previamente agendado para o próximo 1° de setembro, foi antecipado pela editora Steidl e já chegou às livrarias do país.

A tiragem inicial do livro é de 150 mil exemplares. Algumas livrarias já compraram enormes contingentes do volume, devido à grande procura após os recentes escândalos desencadeados pelas declarações de Grass.

A intenção do escritor ao prestar as declarações explosivas ao diário Frankfurter Allgemeine Zeitung, porém, não teria sido a de autopromoção, afirma uma porta-voz da editora. A idéia "não foi de forma alguma lançada por nós", defende a editora sediada em Göttingen.

Reações na Polônia

Grass em Gdansk, em frente à casa onde morou com os paisFoto: dpa

A indignação com o silêncio de Grass é também grande na polonesa Gdansk, terra natal do escritor. O partido conservador-nacionalista Direito e Justiça anunciou a criação de uma iniciativa pela retirada do título de "cidadão honorário" concedido pela cidade a Grass.

O argumento é o de que um ex-membro da tropa de elite nazista jamais poderia ser considerado cidadão honorário de uma cidade polonesa. "Principalmente de Gdansk, a cidade que serviu de palco para o início da Segunda Guerra Mundial."

Evento de mídia

Além do fato de uma autobiografia que chega até mesmo antes da hora às livrarias e deve ter milhares de exemplares vendidos, a forma encontrada por Grass para dizer "por que quebro meu silêncio" é outro ponto altamente discutido pela imprensa alemã.

"O motivo de escândalo não é a participação de Günter Grass na SS e nem o fato de ele ter se calado por tanto tempo, mas sim a entrevista concedida a respeito: uma confissão, que na verdade não é uma confissão. [...] Escandaloso é o gesto de mea culpa, com o qual Grass se redime de qualquer análise real do assunto", analisa o semanário Die Zeit.

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