Gravação atribuída ao líder do EI anuncia expansão do califado
13 de novembro de 2014
"Estado Islâmico" divulga discurso com suposta voz de Baghdadi, que teria sido ferido em ataques aéreos americanos. Extremista pede "vulcões de jihad ” pelo mundo e diz que ofensiva ocidental fracassou.
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A organização radical Estado Islâmico (EI) divulgou nesta quinta-feira (13/11) uma gravação atribuída a seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi. No áudio, ele anuncia a expansão do califado aos países do Golfo Pérsico e do norte da África, onde, garante, outros grupos extremistas lhe juraram lealdade.
A gravação de 17 minutos é divulgada após relatos contraditórios de que Baghdadi teria sido ferido em uma das incursões aéreas americanas no Iraque. Na terça-feira, os Estados Unidos admitiram não poderem confirmar se ele foi morto ou ferido na ação, perto da cidade de Falluja.
No áudio, o líder terrorista convoca ataques contra os governantes da Arábia Saudita, dizendo que seu autodeclarado califado está se expandindo em terras sauditas e em quatro outros países árabes. Ele também declarou que a campanha militar liderada pelos EUA está fracassando, e pediu “vulcões de jihad (guerra santa)” pelo mundo afora.
"Damos a boa notícia da expansão do EI a Arábia Saudita, Iêmen, Egito, Líbia e Argélia, e anunciamos a aceitação de nossos irmãos que nos juraram lealdade nesses países", disse o líder extremista, que considerou os territórios citados como "províncias" de seu califado.
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
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Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
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Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
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Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
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Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
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Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
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Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
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As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
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Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.
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Desde que o Estado Islâmico lançou uma ofensiva no Iraque, em junho, a Arábia Saudita enviou milhares de soldados para a fronteira. Na época, o rei Abdullah prometeu tomar medidas para proteger a Arábia Saudita, classificando o grupo radical como uma organização terrorista.
A autenticidade do discurso divulgado nesta quinta-feira não foi confirmada, e a gravação não leva data. Porém, possui uma menção a um anúncio de 7 de novembro do presidente Barack Obama, na qual ele aprovou o envio de soldados adicionais ao Iraque.
Os jihadistas do EI, que declaram um califado no Iraque e na Síria, controlam partes dos dois países.