"Green Book: O guia" é o grande vencedor do Oscar 2019
25 de fevereiro de 2019
Filme surpreende e leva também estatuetas de melhor roteiro original e melhor ator coadjuvante para Mahershala Ali. Cerimônia consagra ainda "Roma" e "Bohemian Rhapsody".
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Com três estatuetas, entre elas a de melhor roteiro original, o filme Green Book: O Guia, de Peter Farrelly, foi o grande vencedor da 91ª edição do Oscar, em cerimônia realizada na noite deste domingo (24/02) no Teatro Dolby, em Los Angeles. O prêmio principal foi uma das grandes surpresas do evento neste ano, que, pela primeira vez em 30 anos não teve apresentador.
Green Book: O Guia desbancou Roma, Pantera Negra e Infiltrado na Klan na batalha pelo prêmio principal. Além do Oscar de melhor filme e roteiro original, obra também ficou com a estatueta de melhor ator coadjuvante, para Mahershala Ali, que ganhou o segundo Oscar da sua carreia.
Apesar de não ter levado o prêmio principal, Roma, de Alfonso Cuarón, ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro, tornando-se assim a primeira produção mexicana a ficar com a estatueta dourada nessa categoria. O encarregado de entregar a estatueta foi Javier Bardem, que fez o seu discurso completamente em espanhol.
"Não há fronteiras nem muros que freiem o engenho e o talento", disse o ator espanhol. "Em cada região do mundo há histórias que nos comovem e nesta edição comemoramos a excelência e a importância da cultura e do idioma de diferentes países", acrescentou.
Cuarón ganhou ainda o Oscar de melhor direção. Em seu discurso, ele reconheceu a Academia de Hollywood por premiar um filme sobre uma mulher indígena e trabalhadora doméstica sem direitos trabalhistas, um tipo de pessoa que, segundo o cineasta, foi "relegada" historicamente no cinema. Roma também teve sua fotografia premiada.
Essa é a quinta vez nos últimos seis anos que um mexicano recebe o prêmio de melhor diretor. Além dele, foram agraciados Alejandro González Iñárritu, duas vezes, e Guillermo del Toro. O próprio Cuarón já havia levado a estatueta em 2014 com Gravidade.
Já o diretor Spike Lee ganhou seu primeiro Oscar. Sua obra Infiltrado na Klan ficou com a estatueta de melhor roteiro adaptado. O diretor foi aplaudido de pé.
Para as atuações, a grande surpresa da noite foi o Oscar de melhor atriz para a britânica Olivia Colman, pelo seu trabalho em A Favorita, desbancando Glenn Close, que era vista como favorita para a categoria. Já a estatueta de melhor atriz coadjuvante não trouxe surpresas e ficou com Regina King, por sua atuação em Se a Rua Beale Falasse.
O ator Rami Malek ganhou o Oscar de melhor ator pelo seu papel como Freddie Mercury no filme Bohemian Rhapsody. O ator americano, filho de imigrantes egípcios, pediu que se contem mais histórias que apostem na diversidade e que falem sobre pessoas que têm problemas com quem são e com sua identidade.
Bohemian Rhapsody levou aindaoutras três estatuetas: edição, mixagem de som e edição de som. O filme Pantera Negra também ficou entre os consagrados da noite, com três prêmios: direção de arte, figurino e trilha sonora.
Veja a lista completa dos vencedores e demais indicados:
Melhor Filme: Green Book: O guia
Bohemian Rhapsody
A favorita
Roma
Nasce uma estrela
Infiltrado na Klan
Pantera Negra
Vice
Melhor Diretor: Alfonso Cuarón, Roma
Spike Lee, Infiltrado na Klan
Pawel Pawlikowski, Guerra Fria
Yorgos Lanthimos, A favorita
Adam Mckay, Vice
Melhor Ator: Rami Malek, Bohemian Rhapsody
Christian Bale, Vice
Bradley Cooper, Nasce uma estrela
Willem Dafoe, No portal da eternidade
Viggo Mortensen, Green Book: O guia
Melhor Atriz: Olivia Colman, A favorita
Yalitza Aparicio, Roma
Glenn Close, A esposa
Lady Gaga, Nasce uma estrela
Melissa McCarthy, Poderia me perdoar?
Melhor ator coadjuvante: Mahershala Ali, Green Book: O guia
Adam Driver, Infiltrado na Klan
Sam Elliot, Nasce uma estrela
Richard E. Grant, Poderia me perdoar?
Samwell Rockwell, Vice
Melhor atriz coadjuvante: Regina King, Se a rua Beale falasse
Amy Adams, Vice
Marina de Tavira, Roma
Emma Stone, A favorita
Rachel Weisz, A favorita
Melhor filme em Língua Estrangeira: Roma (México)
Cafarnaum (Líbano) Guerra Fria (Polônia) Assunto de família (Japão) Never look away (Alemanha)
Melhor animação: Homem-Aranha no Aranhaverso
Os Incríveis 2
Ilha dos Cachorros
WiFi Ralph: Quebrando a internet
Mirai
Melhor documentário: Free solo
Hale County this morning, this evening
Minding the gap
Of fathers and sons
RBG
Melhor roteiro original: Green Book: O guia
A favorita
First reformed
Roma
Vice
Melhor Roteiro Adaptado: Infiltrado na Klan
Poderia me perdoar?
Se a rua Beale falasse
Nasce uma estrela
A balada de Buster Scruggs
Melhor trilha sonora: Pantera Negra
Se a rua Beale falasse
O retorno de Mary Poppins
Ilha dos Cachorros
Infiltrado na Klan
Melhor canção original: Shallow, de Nasce uma estrela
All the stars, de Pantera Negra
I'll fight, de RBG
The place where lost things go, de O retorno de Mary Poppins
When a cowboy trades his spurs for wings, de A Balada de Buster Scruggs
Direção de arte: Pantera Negra
A favorita
O Primeiro Homem
O retorno de Mary Poppins
Roma
Melhor Fotografia: Roma
A favorita
Guerra Fria
Nasce uma estrela
Nunca Deixe de Lembrar
Melhor Figurino: Pantera Negra
A favorita
A balada de Buster Scruggs
O retorno de Mary Poppins
Duas rainhas
Melhor Edição: Bohemian Rhapsody
Infiltrado na Klan
A favorita
Green Book: O guia
Vice
Melhor Mixagem de Som: Bohemian Rhapsody
Pantera Negra
Roma
Nasce uma estrela
O Primeiro Homem
Melhor Edição de Som: Bohemian Rhapsody
Pantera Negra
Roma
O Primeiro Homem
Um Lugar Silencioso
Melhor curta-metragem: Skin
Detainment
Fauve
Marguerite
Mother
Melhor documentário em curta-metragem: Absorvendo o tabu
Black Sheep
End Game
Lifeboat
A Night at the Garden
Melhor maquiagem e cabelo: Vice
Duas rainhas
Border
Melhores efeitos visuais:O Primeiro Homem
Vingadores: Guerra Infinita
Christopher Robin: Um Reencontro Inesquecível
Read Player One
Solo: Uma história Star Wars
CN/efe/lusa/ap
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O drama "Green Book" foi premiado com o Oscar de melhor filme de 2019. O tema da segregação racial já foi abordado por Hollywood diversas vezes no passado.
Foto: picture alliance/AP/Universal/P. Perret
Melhor filme de 2019
A história contada pelo diretor Peter Farrelly é baseada em fatos reais. Viggo Mortensen (esq.) faz o papel de um chofer de um pianista negro que viaja pelos estados do sul dos EUA, orientando-se pelo "Green Book: o Guia". A particularidade: o livro informa motoristas sobre restaurantes e hotéis que são exclusivamente para pessoas negras – um sinal claro de segregação racial.
Foto: picture alliance/AP/Universal/P. Perret
"Infiltrado na Klan"
Em 2019, o Oscar do melhor roteiro adaptado foi para um filme que também aborda a segregação racial. "Infiltrado na Klan", do diretor Spike Lee, remonta igualmente a uma história verídica. Nos anos 1970, um policial negro consegue se infiltrar na Ku Klux Klan. Desde a década de 1980, o cineasta afro-americano vem abordando o tema do racismo nos EUA.
Foto: D. Lee/F. Features
"Pantera Negra"
Um terceiro filme que aborda – no sentido mais amplo – o tema do racismo também arrebatou três Oscar este ano. "Pantera Negra", adaptação de HQ dos estúdios Marvel, apresentou pela primeira vez um super-herói negro. Os autores de quadrinhos Stan Lee e Jack Kirby criaram os personagens na década de 1960, no auge do movimento pelos direitos civis.
Foto: picture-alliance/Marvel Studios
Homens brancos julgam…
Em 1957, o filme "Doze homens e uma sentença" foi uma das primeiras obras do cinema americano a tratar do racismo. Como thriller judicial em primeira linha, a estreia cinematográfica do diretor Sidney Lumet também abordava os preconceitos dos doze jurados brancos, responsáveis pelo veredicto contra um jovem porto-riquenho no tribunal.
Foto: picture-alliance/United Archives
"No calor da noite"
Dez anos depois, foi Sidney Poitier quem abriu mais portas em Hollywood. No drama "No calor da noite", Poitier interpreta um policial do norte que tem de resolver um caso no sul dos EUA e se depara com um racismo abismal. O filme foi premiado com cinco Oscars – e coroou Poitier como primeiro superastro afro-americano do cinema do país.
Foto: picture-alliance/United Archiv/TBM
"Mississippi em chamas"
Rodado nos EUA pelo diretor britânico Alan Parker, em 1988, "Mississippi em chamas" aborda assassinatos de negros e investigações do FBI. Um crítico escreveu: "A direção sensacionalista de Parker (faz) praticamente tudo para transformar 'Mississippi em chamas' num pastiche de filme de gângster. Mesmo assim, a película rompe um tabu: põe a culpa em toda uma camada burguesa de americanos brancos."
Foto: ORION PICTURES CORPORATION
"Conduzindo Miss Daisy"
Um ano depois, o australiano Bruce Beresford trouxe às telas a história sentimental produzida em Hollywood "Conduzindo Miss Daisy". Da mesma forma que "Green Book: o Guia", este filme também foi um exemplo de como se pode lidar com o tema no cinema: de forma conciliatória e sentimental. Ele conseguiu levar quatro Oscars.
Foto: picture-alliance/Mary Evans Picture Library/Majestic Films
"Gran Torino"
Em 2008, o diretor e estrela de Hollywood Clint Eastwood surpreendeu seus fãs com o drama "Gran Torino". Nele, Eastwood interpreta um americano racista, que nutre preconceitos principalmente contra a população de origem asiática nos EUA. No decorrer do filme, o personagem interpretado por Eastwood se transforma por meio de vivências pessoais para melhor.
Foto: Imago//Unimedia Images
Mais Clint Eastwood
Um ano depois, Eastwood abordava novamente, de outra forma, o tema do racismo. No drama biográfico esportivo "Invictus", ele conta a história da seleção sul-africana de rúgbi. "Conquistando o inimigo" foi o título do livro original. Eastwood lançou um olhar sobre a África do Sul na era pós-apartheid. Morgan Freeman fez o papel de Nelson Mandela.
Foto: AP
"O mordomo da Casa Branca"
Este filme também se encaixa na tradição de filmes americanos sobre o racismo com o ímpeto esclarecedor: "O mordomo da Casa Branca" (2013), com Forest Whitaker e Oprah Winfrey nos papéis principais. Ele conta a história baseada em fatos verídicos autênticos do mordomo afro-americano Eugene Allen, que trabalhou para oito presidentes dos EUA. A película também reflete a recente história americana.
Foto: picture alliance/AP Images
"Doze anos de escravidão"
Lançado nos cinemas em 2013 e premiado com o Oscar de melhor filme um ano depois, "Doze anos de escravidão" faz um retrospecto dos primórdios da escravatura nos EUA. O filme do artista britânico Steve McQueen, que também faz sucesso como diretor de longas-metragens, encenou o drama sobre racismo com atores famosos – e convenceu a Academia de Hollywood.
Um ano depois, a diretora americana Ava DuVernay também mergulhou na história. Em "Selma", ela abordou as marchas de ativistas dos direitos dos negros e da população em geral da cidade de Selma para Montgomery, no estado do Alabama. No filme, David Oyelowo interpreta Martin Luther King, Tom Wilkinson (foto) aparece como o insensível presidente Lyndon B. Johnson.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Nishijima
"Loving: uma história de amor"
Três anos atrás, o diretor americano Jeff Nichols surpreendeu o público com o sensível drama "Loving: uma história de amor", no qual também se resgata um capítulo da história do racismo nos EUA. O filme destaca a luta de um casal que se rebela contra a lei dos casamentos mistos proibidos – conseguindo êxito em tribunal.
Foto: picture-alliance/ZUMAPRESS.com/Focus Features
"Corra"
Certamente uma das contribuições mais originais sobre o tema do racismo no cinema foi o filme "Corra" em 2017. Ao contrário de tantas produções hollywoodianas bem-intencionadas, mas muitas vezes piegas, o diretor afro-americano Jordan Peele fez um filme de gênero no qual o racismo é apresentado com elementos de terror e comédia – o resultado é uma mescla de gêneros muito original e convincente.
No mesmo ano, o diretor Barry Jenkins conquistou o Oscar de melhor filme com "Moonlight: sob a luz do luar". Em três capítulos, Jenkins conta a história de um homossexual afro-americano. Esteticamente convincente, o filme é um exemplo de obra cinematográfica formalmente interessante e que implementa seu tema embasada e diferenciadamente, dispensando melodrama e sentimentalismo.
Foto: picture alliance/AP Photo/D. Bornfriend
"Eu não sou seu negro"
Além dos muitos filmes com os quais o cinema americano tem contribuído para o assunto nas últimas décadas, houve documentários esporádicos. Em "Eu não sou seu negro" (2016), o diretor haitiano Raoul Peck baseou de forma muito convincente seu olhar retrospectivo sobre o racismo nos EUA, especialmente em textos do escritor afro-americano James Baldwin.