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Dívida grega

24 de fevereiro de 2010

Passeata reúne 50 mil na capital da Grécia. Vice-primeiro-ministro diz que Berlim não indenizou gregos adequadamente por danos da Segunda Guerra, e Comissão Europeia abre processo contra Atenas.

Passeata começou pacífica, mas desandou em violênciaFoto: AP

Segundo a polícia grega, 27 mil saíram às ruas de Atenas nesta quarta-feira (24/02), para protestar contra as medidas de austeridade econômica do governo nacional. À margem das manifestações, houve tumultos, jovens travaram uma batalha de rua com a polícia durante cerca de meia hora. Uma greve geral paralisou o tráfego em muitas partes do país. Muitos voos foram cancelados, trens e barcas não funcionaram, e até mesmo o transporte público ficou em grande parte parado.

A passeata organizada pelas confederações sindicais foi pacífica, porém seguida de violentos confrontos entre os grupos radicais e policiais do batalhão de choque. Nas imediações do parlamento, atiraram-se pedras e garrafas de plástico com tinta vermelha. A polícia usou bombas de gás lacrimogêneo e prendeu pelo menos duas pessoas.

Redução de salários e aumento de impostos

A razão para os protestos é o programa de austeridade do governo, que, sob pressão da UE, tem de reduzir drasticamente a dívida orçamentária. São planejados, entre outros, aumento da idade de aposentadoria, redução de salários de servidores públicos e aumento de impostos. O governo espera, com essas medidas, conseguir reduzir em pelo menos quatro pontos percentuais o déficit orçamentário, atualmente de 12,7% do Produto Interno Bruto (PIB).

Polícia grega usou gás lacrimogêneo e prendeu pelo menos dois manifestantesFoto: AP

De acordo com pesquisas recentes, entretanto, a maioria dos gregos apoia o programa de austeridade do governo. Em enquete publicada domingo pelo jornal Ethnos, 57,6% dos entrevistados classificaram como corretas as medidas anunciadas até agora, e 75,8% opinaram que os sindicatos não deveriam protestar.

Comissão Europeia processa Atenas

A Comissão Europeia aumenta a pressão sobre Atenas, e anunciou que está entrando com um processo contra a Grécia no Tribunal Europeu, porque o governo do país não exigiu devolução de benefícios fiscais concedidos ilegalmente a empresas. "Os auxílios ilegais deveriam ter sido reembolsados, para garantir condições equitativas para todos", afirmou disse nesta quarta-feira em Bruxelas o comissário de Assuntos Econômicos da UE, Joaquín Almunia.

Uma lei grega permitiu a algumas empresas a dedução fiscal de 35% dos lucros obtidos nos anos de 2003 e 2004, desde que tivessem investido em modernização ou formação de pessoal. A Comissão declarou a prática ilegal em julho de 2007, e exigiu do governo grego que pedisse o dinheiro de volta. "Os beneficiários da ajuda até agora não reembolsaram a verba", constatou a Comissão. De acordo com informações da época, a perda de impostos chega a 200 milhões de euros.

Jornal grego culpa alemães por "nazismo financeiro"Foto: picture alliance / dpa

A Grécia está sob grande pressão para sanear o déficit orçamentário do Estado. A UE realiza uma supervisão severa das políticas financeiras de Atenas. A Comissão também abriu processo por quebra de contrato devido à falsificação de estatísticas orçamentárias.

Alemães levam a culpa

A Alemanha rejeitou nesta quarta-feira acusações da Grécia de que Berlim não indenizou adequadamente o país pela ocupação na Segunda Guerra Mundial. Em uma entrevista de rádio, o vice-primeiro-ministro grego, Theodoros Pangalos, criticou a atitude da Alemanha perante crise da dívida grega e disse que Atenas nunca recebeu uma compensação adequada para o impacto da invasão nazista na Grécia, em 1941.

"Eles levaram o ouro grego que estava no Banco de Grécia, levaram dinheiro grego e nunca mais devolveram. Esta é uma questão que tem de ser enfrentada em algum momento do futuro", disse ele à rádio BBC World Service. "Não digo que tenham que devolver o dinheiro, necessariamente, mas pelo menos têm que dizer 'obrigado'", acrescentou.

Troca de farpas na imprensa

O Ministério do Exterior da Alemanha rejeitou as declarações e disse que trazer de volta o passado não ajudaria a resolver os problemas atuais da Grécia. "Tenho que rejeitar essas acusações", afirmou o porta-voz do ministério, Andreas Peschke. A Alemanha pagou, segundo ele, uma indenização à Grécia de cerca de 115 milhões de marcos alemães em 1960, além de realizar pagamentos para os trabalhadores forçados do regime nazista.

A troca de farpas entre gregos e alemães chegou à imprensa. O jornal grego Eleftheros Typos publicou na terça-feira uma fotomontagem mostrando a figura da Coluna da Vitória, um conhecido monumento de Berlim, com uma suástica na mão, com o texto "Nazismo financeiro ameaça a Europa". A matéria foi uma resposta à capa desta semana do semanário alemão Focus, que mostra uma estátua de Afrodite mostrando o dedo médio.

MD/dpa/rtrs/afp
Revisão: Augusto Valente