Greta Thunberg: política ambiental brasileira é "vergonhosa"
11 de setembro de 2021
Em sessão temática do Senado, jovem ativista sueca critica com dureza as decisões do governo do Brasil em relação à natureza e os povos indígenas: perder a Amazônia seria uma "sentença de morte" para muitas regiões.
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Durante uma sessão temática do Senado brasileiro sobre os dados do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), da Organização das Nações Unidas, nesta sexta-feira (10/09), a ativista ambiental sueca Greta Thunberg criticou duramente a atuação de líderes brasileiros no campo ambiental e no trato com os povos nativos.
"As coisas que os líderes do Brasil estão fazendo agora são completamente vergonhosas, especialmente à luz de como vêm tratando os povos indígenas e a natureza."
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Apesar de destacar que a grande culpa pelo atual cenário de urgência climática não caber historicamente ao país, em seu depoimento em vídeo a ambientalista sueca de 18 anos atribuiu o aumento do desmatamento na região amazónica à política ambiental brasileira.
"O Brasil não começou esta crise, mas acrescentou muito combustível ao incêndio. O Brasil não tem desculpas para não assumir a sua responsabilidade. A Amazônia, o pulmão do mundo, agora está no limite e emitindo mais carbono do que consume por causa do desflorestamento e das queimadas."
"Isso está acontecendo diante dos nossos olhos, diretamente alimentado pelo governo", repreendeu Thunberg, acrescentando: "O mundo não pode arcar com o custo de perder a Amazônia. Se a perdermos, perdemos provavelmente todas as chances de alcançar as metas do Acordo de Paris." Isso significaria uma "sentença de morte" em numerosas partes do planeta, entre as quais também o Brasil.
Desmatamento recua, mas segue alarmante
O desmatamento da Amazônia brasileira diminuiu pelo segundo mês consecutivo, mas continua em níveis elevados, segundo alertas registados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), vinculado ao governo do nacional.
O Inpe registou um total de 918 quilômetros quadrados desmatados em agosto, o menor nível desde agosto de 2018 e 32% inferior em relação ao mesmo período de 2020.
Os alertas de desflorestamento entre janeiro e agosto registraram 6.026 quilômetros quadrados, o que representa uma ligeira redução de 1,2% em relação aos primeiros oito meses de 2020 (6.099 quilômetros quadrados).
Os dados são obtidos através de imagens de satélite. O órgão governamental alerta que eles não constituem o balanço oficial de desflorestamento, que é divulgado no fim do ano, apenas identificando possíveis pontos de risco.
av (Lusa,DPA)
Ouro amazônico: do barro ao luxo
Um retrato da extração mineral e de seus impactos na região no município de Jacareacanga, no Pará.
Foto: Gustavo Basso/DW
Igarapés revirados
De acordo com o Ministério Público Federal (MPF), o solo revirado pelo maquinário pesado utilizado no garimpo acaba liberando mercúrio mineral no ambiente. Somado ao mercúrio lançado na atmosfera para extração do ouro, torna-se um contaminante perigoso na cadeia pesqueira da bacia do rio Tapajós. A imagem aérea mostra garimpos montados ao longo de um igarapé no município de Jacareacanga, no Pará.
Foto: Gustavo Basso/DW
Clareira e assoreamento
Defensores da atividade afirmam que a área desmatada para a exploração do ouro é menor do que em atividades como a criação de gado ou plantio de soja, sem levar em consideração o assoreamento de igarapés e rios, visto como problema ambiental crucial pela Polícia Federal. Na imagem, vê-se um garimpo montado às margens da Rodovia Transamazônica (BR-230) em Jacareacanga.
Foto: Gustavo Basso/DW
Oportunidade de negócio
Com o aumento intenso da mecanização dos garimpos na última década, o reparo e venda de peças para escavadeiras e tratores vêm se tornando um mercado cada vez maior e lucrativo em Jacareacanga. Alan Carneiro, um dos principais nomes na luta pela legalização do garimpo de ouro na região, veio de Rondônia há quatro anos para aproveitar este mercado.
Foto: Gustavo Basso/DW
A outra margem do rio
Diariamente partem do porto improvisado de Jacareacanga dezenas de lanchas e balsas transportando pessoas e produtos para os garimpos na região, na outra margem do rio Tapajós. Do outro lado do rio estão somente áreas federais protegidas: as TIs (Terra Indígenas) Sai-Cinza e Mundurucu, e a Floresta Nacional do Crepori. O garimpo de ouro é vetado atualmente em ambas áreas.
Foto: Gustavo Basso/DW
Vaidade dourada
Joias de ouro como anéis e relógios são utensílios obrigatórios utilizados por garimpeiros e aqueles que se relacionam com a atividade, como este minerador, morador da vila de São José do Pacu.
Foto: Gustavo Basso/DW
Trabalho feminino, universo masculino
Cozinheiras são as únicas presenças femininas em campo nos garimpos, responsáveis pelas cinco refeições diárias, bancadas pelos patrões. Ao contrário dos garimpeiros, que recebem uma porcentagem do ouro extraído, as cozinheiras recebem como salário 20 gramas de ouro por mês, avaliado em Jacareacanga em torno de R$ 5.000, mais de três vezes a média salarial do Norte e Nordeste do país
Foto: Gustavo Basso/DW
Matéria bruta
Para extrair em média 300 g em um intervalo de duas semanas, os barrancos são escavados até que o cascalho subterrâneo seja exposto; é onde fica depositado o ouro de erosão, até 30 metros sob o solo. O garimpo atualmente é compreendido como atividade empresarial industrial de pequena escala, dado o impacto e investimento empregado na atividade.
Foto: Gustavo Basso/DW
Eletricidade a diesel
Todos os dias milhares de litros de óleo diesel são consumidos por todo tipo de veículos e maquinário pesado utilizado no suporte à extração do ouro. Os geradores de energia elétrica são presença geral e barulhenta em regiões dentro de áreas protegidas aonde a energia elétrica não chega.
Foto: Gustavo Basso/DW
Atividade artesanal ou pequena empresa?
Para o procurador federal Paulo de Tarso Oliveira, a sociedade necessita debater o garimpo e seus impactos. Segundo ele, uma atividade que emprega maquinários caros como balsas de até R$ 2 milhões não pode ser considerada artesanal como na época da Constituição Federal de 1988.
Foto: Gustavo Basso/DW
Várzeas ameaçadas
O ouro de garimpo é extraído nos "baixões": áreas de várzea às margens de igarapés, onde o minério lavado pelas chuvas se acumula. A contaminação por mercúrio e assoreamento dos igarapés é um dos grandes impactos da exploração além do desmatamento de áreas protegidas legalmente pela União. Na foto, um barraco abandonado em área de garimpo às margens da Rodovia Transamazônica (BR-230).
Foto: Gustavo Basso/DW
Atrativo aos retirantes
Como muitos outros retirantes da pobreza no nordeste, José Freitas, de 69 anos, veio para a região do Tapajós nos anos 1980 tentar a sorte no garimpo. Após anos trabalhando manualmente, acabou se assentando em Itaituba, onde comprou um terreno para plantar alimentos vendidos no mercado municipal.