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Arte

Grupo transforma suásticas em arte em Berlim

20 de agosto de 2017

Grafiteiros usam criatividade para tornar pichações com símbolos nazistas em ilustrações coloridas expressando inclusão, "amor e humor".

Empresário e grafiteiro Ibo Omari adorna pichação nazista
Empresário e grafiteiro Ibo Omari adorna pichação nazistaFoto: picture-alliance/dpa/S. Kembowski

Um grupo de grafiteiros de Berlim declarou guerra às pichações neonazistas, usando "amor e humor" para transformar suásticas em símbolos coloridos de inclusão.

Enquanto as autoridades apontam um aumento da atividade de extrema direita na Alemanha, incluindo a propagação desenfreada de propaganda contra migrantes, a iniciativa PaintBack tenta contra-atacar esta tendência.

"Nós, como artistas da rua, queríamos enviar a mensagem 'você está usando o grafite de forma abusiva', diz o fundador do clube, Ibo Omari. "Grafite não tem nada a ver com racismo, é algo que procura levar cores brilhantes a fundos diversos".

Omari, de 37 anos, é proprietário de uma loja de tintas para artistas de rua e dirige o The Cultural Heirs, um clube jovem que reúne crianças e adolescentes de origem alemã e imigrante para atividades que vão desde eventos de breakdance e arte de rua, até festas de hip-hop e exibições de skate. "Esta é uma cultura que nos moldou de forma positiva e dá aos jovens a oportunidade de se expressarem de forma criativa, para que eles não acabem na rua", ressalta.

Na sede da iniciativa, em um quarto cujas paredes são decoradas com capas de álbuns clássicas de rap, os membros adolescentes praticam a transformação em novos desenhos de suásticas nazistas, usadas pela extrema direita para atrair apoio e intimidar minorias.

"Suásticas não são parte de Berlim"

Uma coruja, um mosquito, um coelho com a língua esticada, um cubo mágico, dois homens se beijando, um gato em uma janela – a inspiração para transformar o símbolos de ângulos retos parece infinita. "Não é difícil ter novas ideias", garante Klemens Reichelt, de 17 anos. "Eu gosto, porque acho que as suásticas não fazem parte de Berlim. Ela é uma cidade aberta ao mundo e quero defender isso."

Omari e meia dúzia de voluntários adultos usam os motivos das crianças para "embelezar" as suásticas, quando eles acham algumas nas redondezas, após obterem autorização dos donos das propriedades pichadas.

A ideia do projeto brotou em 2015, depois que um vizinho entrou na loja de Omari procurando latas de tinta. "Ele não parecia um artista de grafite, então eu perguntei por que ele as queria, e ele disse que precisava delas para cobrir uma suástica que havia sido pichada em um parquinho infantil", lembra-se Omari.

Projeto procura usar ilustrações simples, desenhadas por crianças, para facilitar reproduçãoFoto: Legacy BLN - Graffiti Culture & Art Tools

"Ficamos bastante impressionados pelo fato de alguém ter feito isso, especialmente aqui, em Schöneberg", salienta, se referindo ao bairro de classe média localizado na antiga Berlim Ocidental, área habitada não só por famílias alemãs, mas também turcas e árabes e que abriga uma animada e alegre cena gay.

O aparecimento daquele símbolo do ódio não se revelou um caso isolado, e as suásticas começaram a aparecer cada vez mais – em parques, em edifícios de apartamentos – aparentemente alimentadas pelo afluxo de mais de um milhão de requerentes de asilo após a chanceler Angela Merkel ter aberto as fronteiras em 2015.

Imagens doces e atrevidas

A agência de inteligência doméstica alemã reportou neste mês ter ocorrido em 2016 um aumento de 7% dos crimes politicamente motivados, um terço dos quais foi classificado como "crime de propaganda".

Omari, cujos pais fugiram do Líbano como refugiados quando ele estava por nascer, disse que transformou esses sentimentos de choque e impotência em ação com a ajuda de jovens locais que queriam deixar sua própria marca na capital alemã.

"As últimas suásticas que eu vi foi há mais de 20 anos, então este foi um fato novo e desagradável", afirma. "Infelizmente, o zeitgeist mudou nos últimos anos, e temos que explicar as coisas aos jovens que realmente não aconteceram há tanto tempo", diz, se referindo aos fatos da era nazista e ao Holocausto, nas décadas de 1930 e 1940.

"Nós pensamos longamente sobre como reagir a sentimentos tão feios e depois dissemos 'responderemos com humor e amor'", sublinha. "Nós escolhemos imagens doces e atrevidas, a maioria delas desenhadas por crianças, para que mesmo os iniciantes, que não são artistas de grafite, possam reproduzi-las".

Agora, os vizinhos relatam ao clube quando encontram suásticas. "Não acontece que tantas vezes, mas uma vez só já é demais", frisa, estimando que o grupo já transformou cerca de 25 suásticas desde maio de 2016. A iniciativa PaintBack já está sendo copiada por pessoas em outras cidades alemãs, incluindo Hamburgo, Kiel e Bremen.

MD/afp/rtr

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