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Grupos LGBT reagem a ataques do governo da Polônia

9 de junho de 2019

Quase 50 mil protestam após liderança política tachar movimento como "ameaça à cultura e à família". Ministro da Educação do país diz que educação sexual em escolas é "tentativa de aliciar crianças para pedófilos".

Multidão nas ruas de Varsóvia com bandeiras arco-íris
Passeata em Varsóvia teve apoio do prefeito da cidade. "Todos deveriam respeitar os direitos das minorias", disse o políticoFoto: Getty Images/AFP/J. Skarzynski

Dezenas de milhares de pessoas foram às ruas de Varsóvia neste sábado (08/06) em um momento em que o movimento de direitos LGBT da Polônia é alvo de uma campanha do governo nacionalista de direita, que o descreve como uma ameaça à cultura e à família. A prefeitura informou que cerca de 47 mil pessoas participaram do evento.

Diplomatas de Estados Unidos, Canadá e outros países ocidentais continuaram uma tradição recente de participarem da festa, chamada Parada da Igualdade, para mostrar apoio a uma comunidade que vê ameaçados seus direitos em cada vez mais países ao redor do mundo.

Ao abrir a manifestação, o prefeito da capital polonesa, Rafal Trzaskowski, observou que agora é comum administrações de cidades de toda a Europa apoiarem marchas de orgulho LGBT. "Nem todo mundo tem obrigação de ir à Parada da Igualdade, mas todos deveriam respeitar os direitos das minorias", afirmou Trzaskowski diante da multidão. "É realmente importante para mim que Varsóvia seja uma cidade aberta, que Varsóvia seja tolerante."

Jaroslaw Kaczynski: "Movimento LGBT é importação estrangeira e ameaça a sociedade e a família"Foto: Reuters/K. Pempel

Trzaskowski, do partido de oposição centrista Plataforma Cívica, foi eleito no ano passado, ao derrotar um candidato do partido governista partido Lei e Justiça (PiS). Ele foi duramente criticado por membros do governo polonês neste ano por seus planos de introduzir nas escolas um programa de educação sexual, discriminação e saúde reprodutiva.

Os direitos LGBT se tornaram um tema central do debate político nacional após Trzaskowski publicar uma "declaração dos direitos LGBT". Em um dos pontos, o texto reiterou o compromisso da cidade de tentar ajudar a encontrar abrigo para jovens gays rejeitados por seus pais. Em outro, prometeu incorporar diretrizes sobre educação sexual e tolerância da Organização Mundial da Saúde (OMS) no sistema escolar de Varsóvia.

O ministro da Educação da Polônia, Dariusz Piontkowski, empossado nesta terça-feira, descreveu a declaração de direitos LGBT como uma tentativa de aliciar crianças para pedófilos e disse que educação sexual é da responsabilidade exclusiva das famílias.

Ao explorar a questão durante as eleições europeias no mês passado, a direita governista conseguiu mobilizar sua base e dividir a oposição. Assim, o partido Lei e Justiça obteve uma vitória esmagadora no pleito para o Parlamento Europeu.

Rafal Trzaskowski foi eleito prefeito de Varsóvia em outubro de 2018, derrotando um candidato do partido do governoFoto: picture-alliance/AP Photo/A. Keplicz

Muitos na oposição concluíram que apoiar os direitos LGBT não os ajudou e agora estão tentando se afastar da questão antes das eleições nacionais, a serem realizadas em outubro ou novembro. Analistas dizem que o PiS quer repetir o sucesso de maio prometendo uma reação contra o liberalismo ocidental, se beneficiando, assim, das profundas divisões na sociedade a respeito das políticas em relação a minorias, meio ambiente, aborto e migração.

O líder do PiS e homem forte do governo polonês, Jaroslaw Kaczynski, recentemente classificou o movimento LGBT como uma "importação estrangeira" que ameaça a identidade da nação. Em áreas conservadoras, as autoridades municipais vêm declarando suas cidades "livres de LGBT".

E na véspera do desfile em Varsóvia, um jornalista de extrema direita da televisão estatal, Rafal Ziemkiewicz, atacou duramente a comunidade LGBT. No Twitter, ele escreveu que "é preciso dar um tiro nas pessoas LGBT", antes de adicionar "não no sentido literal, claro – mas estas não são pessoas de boa vontade ou defensores dos direitos de ninguém, (o movimento é) uma nova mutação de bolcheviques e nazistas".

Slava Melnyk, líder da Campanha Contra a Homofobia, alertou sobre as possíveis consequências de tal linguagem provocativa. "As palavras dele são lidas por centenas de milhares de pessoas", disse ele. "É possível que uma dessas pessoas tome a sério literalmente  a ideia de atirar em pessoas LGBT."

MD/ap/rtr/dpa

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