Guaíba volta a superar 5 metros e pode atingir novo recorde
13 de maio de 2024
De acordo com especialistas, lago em Porto Alegre pode atingir novo nível histórico, chegando a 5,4 metros. Outra preocupação é com uma onda de frio intenso que se aproxima.
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O nível do lago Guaíba voltou a ultrapassar os cinco metros na tarde desta segunda-feira (13/05) em Porto Alegre, em meio a previsões de especialistas de que as águas possam atingir um novo recorde na madrugada desta terça-feira. A medição das 19h15 no Cais Mauá indicava 5,08 metros.
No dia 5 de maio, o lago atingiu 5,35 metros, o maior nível já registrado, culminando na maior enchente de Porto Alegre e alagando bairros inteiros e áreas que nunca antes haviam passado por situação semelhante.
A nova previsão do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da RHAMA Analysis indica que o Guaíba possa chegar a 5,40 metros.
"Pedimos a todas as pessoas que tiveram suas residências inundadas que não voltem para esses locais. E quem voltou, saia", alertou o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. "Deixem essas localidades imediatamente e se coloquem em segurança", acrescentou.
Segundo o governador, as áreas afetadas pelas inundações "voltarão a ter essa incidência e [provavelmente] precisarão voltar a ser evacuadas".
Para tentar conter o avanço das águas sobre a cidade, a prefeitura de Porto Alegre construiu uma barricada improvisada de 1,8 metro, com sacos de areia, em frente à Usina do Gasômetro, às margens do Guaíba, no Centro Histórico. A barreira visa evitar que a água chegue à casa de bombas 16 do Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE), responsável por drenar os bairros Cidade Baixa e Menino Deus, que registram alagamentos há uma semana.
Paralelamente, com mais de 80 mil pessoas em abrigos e mais de meio milhão de desalojadas (hospedadas na casa de parentes ou amigos), o Rio Grande do Sul se prepara para uma onda de frio e mais chuvas.
Chuva persiste
As precipitações continuam. Porém, não em volumes tão elevados quanto os que atingiram o estado desde a última sexta-feira.
De acordo com meteorologista Cátia Valente, da Sala de Situação do Rio Grande do Sul, só no último fim de semana choveu, na região metropolitana de Porto Alegre, entre 120 milímetros e 180 milímetros. Na Serra, o volume foi ainda mais intenso, variando entre 200 e 320 milímetros. E grande parte dessa água escorre para os rios que correm em direção ao Guaíba, na região metropolitana da capital gaúcha.
"Na cidade de Estrela, o nível do rio Taquari chegou a quase 28 metros. O rio dos Sinos segue em elevação e vai seguir assim pelos próximos dias. Também tivemos volumes [de chuvas] muito elevados nas cabeceiras dos rios Taquari e Caí. Estas águas agora estão entre Bom Retiro do Sul e a foz do Taquari e devem chegar na região metropolitana amanhã [terça], onde o nível do Guaíba deve ultrapassar o pico anterior, e o vento sul deve represar [o escoamento das águas] do Guaíba para a Lagoa dos Patos, que também já está com níveis elevados. Ou seja, todos os fatores nos atrapalham", explica Pedro Camargo, hidrólogo da Sala de Situação.
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Onda de frio
Outra preocupação agora é o frio, que deve se intensificar entre quarta-feira e sexta-feira. Equipes de voluntários correm para garantir cobertores e roupas suficientes para os desabrigados. Uma das maiores dificuldades é conseguir agasalhos plus size. Outro problema é conseguir lavar roupas nos abrigos, motivo pelo qual as doações continuam sendo necessárias.
Na terça-feira, a temperatura deve cair para 10 ºC em Porto Alegre. Em São Francisco de Paula, na Serra, a previsão é de mínima de 3 ºC.
De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), na manhã de quarta-feira pode haver geada na Serra, no Sul e na região da Campanha. Nos próximos dias, a mínima pode atingir 7 ºC em Porto Alegre.
As enchentesque atingem 447 dos 497 municípios gaúchos já provocaram a morte de 147 pessoas – 127 seguem desaparecidas. Além disso, há 806 feridos.
le/md (Agência Brasil, ots)
A maior enchente da história do Rio Grande do Sul
Fortes chuvas causam inundações em 80% do estado e deixam 90 mortos.
Foto: SILVIO AVILA/AFP/Getty Images
Tragédia sem igual no Rio Grande do Sul
As fortes chuvas que atingiram o Rio Grande do Sul causaram inundações em 397 dos 497 municípios do estado e dezenas de mortes. No dia 7 de maio, o total confirmado era de 90 mortes, e havia 131 pessoas desaparecidas. Na foto, a cidade de Encantado, às margens do rio Taquari.
Foto: Diego Vara/REUTERS
Perdas totais para muitas pessoas
Muitas famílias perderam tudo o que tinham e tiveram que deixar suas residências, como estas pessoas em Encantado. São mais de 150 mil desalojados em casas de parentes e amigos e outras mais de 56 mil em abrigos.
Foto: Carlos Macedo/AP/picture alliance
Resgates em todo o estado
Muitos voluntários estão participando de resgates, como em Canoas. Na cidade da região metropolitana de Porto Alegre, também fortemente atingida pelas cheias, o prefeito disse que podem se passar até dois meses para que a água baixe.
Foto: Amanda Perobelli/REUTERS
Os pets não ficam para trás
Além de esforços para salvar pessoas, voluntários também se unem para resgatar animais de estimação que ficaram em áreas alagadas. Muitos estão agora em abrigos, aguardando serem identificados pelos tutores.
Foto: Carlos Macedo/AP/picture alliance
Porto Alegre sem acesso por ônibus e avião
Porto Alegre, que fica às margens do lago Guaíba, foi duramente atingida. Toda a região do centro histórico e as proximidades, a exemplo da estação rodoviária, foram inundadas. Como o aeroporto também ficou debaixo d'água, a capital gaúcha ficou sem acesso por ônibus ou avião.
Foto: DUDA FORTES/AGENCIA RBS/AFP/Getty Images
Centro de Porto Alegre inundado
O nível do Guaíba chegou a 5,33 metros, superando a marca histórica da cheia de 1941, de 4,76 metros. Muitos moradores do centro de Porto Alegre e bairros vizinhos, como Cidade Baixa e Menino Deus, ficaram isolados em seus apartamentos. Faltam luz e água potável. Botes e barcos são os melhores meios para deixar o local. Em alguns prédios, a água está quase no segundo andar.
Foto: Carlos Macedo/AP/picture alliance
Caminhar em ruas alagadas é arriscado
Alguns moradores aproveitam uma pausa nas precipitações para sair em busca de um lugar seco, possivelmente na casa de amigos ou parentes, e tentar salvar ao menos alguns pertences. Porém, caminhar nas ruas alagadas é arriscado, pois não há como saber o que há embaixo da água. Quem não tem para onde ir, se refugia em abrigos públicos.
Foto: Carlos Macedo/AP/picture alliance
Corrente do bem
Além das pessoas que estão ajudando voluntariamente nos resgates, muitas outras de todo o estado e de outras unidades da federação estão doando água, alimentos, roupas e material de higiene pessoal, entre outros produtos. Em Porto Alegre, 85% das pessoas estão sem água potável.
Foto: Amanda Perobelli/REUTERS
Rua virou rio
Em Canoas, várias ruas mais parecem rios. Segundo a prefeitura, pelo menos dois terços da cidade foram afetados pelas enchentes.
Foto: Amanda Perobelli/REUTERS
Casas submersas
Em algumas áreas da região metropolitana, como neste bairro de Canoas, as águas deixaram casas totalmente submersas.
Foto: Amanda Perobelli/REUTERS
Rio Taquari acima dos 30 metros
O rio Taquari, que passa por cidades como Lajeado, Estrela e Encantado, passou dos 30 metros e atingiu o maior nível já registrado. Autoridades pediram para as pessoas deixarem suas residências e não retornarem mesmo se o nível baixar, pois pode voltar a chover.
Foto: Diego Vara/REUTERS
Cobertos pela lama
Em Encantado, estes veículos foram levados pelas águas e ficaram cobertos de lama. A Confederação Nacional dos Municípios estimou que os prejuízos com as enchentes superam meio bilhão de reais.
Foto: Diego Vara/REUTERS
Lula foi ao Rio Grande do Sul
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi ao Rio Grande do Sul, junto com uma comitiva de 18 pessoas, para acompanhar os resgates e a prestação de assistência humanitária. No domingo (05/05), ele sobrevoou Porto Alegre ao lado do governador Eduardo Leite e dos presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados. Dias antes, ele havia estado em Santa Maria, também afetada pela enchente.
Esta é a quarta catástrofe ambiental em menos de 12 meses no Rio Grande do Sul. Em setembro de 2023, a mesma região do estado também foi duramente atingida pelas enchentes, com um total de 54 mortos.