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Guaidó retorna à Venezuela em meio a protestos contra Maduro

4 de março de 2019

Presidente autodeclarado desembarca em Caracas de maneira pacífica, após ser ameaçado de prisão pelo governo chavista. Milhares de pessoas se unem ao líder opositor e saem às ruas da capital contra o regime.

Guaidó faz um discurso na manifestação em Caracas logo após retornar ao país
Guaidó fez um discurso na manifestação em Caracas logo após retornar ao paísFoto: picture-alliance/dpa/F. Llano

O líder oposicionista venezuelano, Juan Guaidó, retornou a Caracas nesta segunda-feira (04/03), desafiando uma ameaça de prisão do regime de Nicolás Maduro caso voltasse à Venezuela.

Imagens divulgadas pela imprensa local mostram jornalistas e apoiadores cercando Guaidó após seu desembarque no Aeroporto Internacional Simón Bolívar, que serve a capital venezuelana.

No Twitter, o político informou que já havia passado pela alfândega do aeroporto e que estava se dirigindo às ruas de Caracas, "onde está o nosso povo". "Entramos na Venezuela como cidadãos livres, que ninguém nos diga o contrário", escreveu.

Embaixadores e representantes diplomáticos da Alemanha, Espanha, França, Holanda e Chile o aguardavam no terminal. "Viemos ajudar para que o regresso [de Guaidó] seja seguro", disse o embaixador alemão na Venezuela, Daniel Maitel Kriener.

Mais cedo, Guaidó havia informado que estava a caminho da Venezuela, embora seu trajeto de volta ao país, bem como o meio de transporte, fosse desconhecido.

"Retorno para continuar trabalhando por nosso percurso e para fortalecer a pressão interna que nos permita libertar o nosso país", escreveu ele no Twitter, além de reforçar seus apelos para que o povo venezuelano participasse dos protestos contra Maduro nesta segunda e terça-feira.

Manifestantes ocuparam as ruas de Caracas em apoio a GuaidóFoto: Reuters/M. Quintero

Milhares de pessoas atenderam ao pedido de Guaidó e saíram às ruas de Caracas nesta segunda-feira de Carnaval. Em discurso à multidão, o oposicionista afirmou que ele e seus apoiadores continuarão "protestando e se mobilizando" contra o regime chavista. "A ditadura precisa entender que estamos mais fortes do que nunca", esbravejou.

Guaidó também convocou novos protestos para o próximo sábado e disse que, nesta terça-feira, se reunirá com representantes de vários sindicatos. "Não podemos permitir que a burocracia continue sequestrada, que usem nossos funcionários públicos que hoje não ganham bem. Chegou o momento de dizer 'basta', chegou o momento de deixar sem funcionamento esse regime que oprime."

O político fez ainda um novo apelo aos membros das Forças Armadas para que deixem de apoiar o regime de Maduro, e lembrou que o número de militares venezuelanos que desertaram já passou de 700 desde 23 de fevereiro.

"Forças Armadas, o que mais vocês vão esperar? Já viram como mais de 700 oficiais estão do lado da Constituição, e há por aí alguns cínicos dizendo que é pouco", afirmou ele em uma praça no leste de Caracas.

Manifestantes carregam bandeiras da Venezuela, Colômbia e EUA em CaracasFoto: Getty Images/AFP/F. Parra

Ameaça de prisão

Reconhecido por mais de 50 nações como presidente interino da Venezuela, Guaidó, de 35 anos, encerrou no Equador uma turnê pela América Latina que incluiu ainda Colômbia, Paraguai, Argentina e Brasil, onde se encontrou com o presidente Jair Bolsonaro .

Ele deixou a Venezuela em 22 de fevereiro, quando viajou à Colômbia para participar da tentativa de entrega de ajuda humanitária a seu país por vias terrestres, que acabou sendo frustrada pelas forças do regime de Maduro.

O presidente venezuelano ameaçou prender Guaidó se ele retornasse ao país, acusando-o de ter desrespeitado uma proibição judicial de deixar a Venezuela. Devido à ameaça, o retorno do oposicionista vinha sendo visto com preocupação por observadores internacionais.

Em mensagem de vídeo divulgada na noite de domingo, Guaidó advertiu contra o risco de prisão. "Se o regime tentar me sequestrar, der um golpe de Estado, já deixamos os passos a seguir, primeiro com a mobilização", afirmou. "E caso se atreva [me prender], será um dos últimos erros que cometerá."

Mais cedo nesta segunda-feira, os Estados Unidos advertiram que o país e a comunidade internacional lançariam uma "resposta forte e significativa" contra "quaisquer ameaças ou atos contra o retorno seguro" de Guaidó. A União Europeia fez um alerta semelhante, ameaçando o regime de Maduro com consequências.

O governo brasileiro também expressou preocupação com a segurança de Guaidó, dizendo esperar que sua volta à Venezuela ocorresse "sem incidentes" e que seus direitos e segurança fossem "plenamente respeitados por aqueles que ainda controlam o aparato de repressão do regime".

Guaidó é recebido por apoiadores no aeroporto Simón Bolívar, em CaracasFoto: Reuters/C. Jasso

"Pouco a comemorar e muito a fazer"

Em visita ao Equador no sábado, Guaidó já havia anunciado seu retorno à Venezuela. Ele convocou manifestações contra o regime de Maduro para esta segunda e terça-feira, "apesar de também ser Carnaval na Venezuela", considerando que "hoje temos pouco a comemorar e muito a fazer". "Por isso vamos pedir protestos nesses dias. Sempre dentro da Constituição."

Em seu discurso, pediu que as autoridades venezuelanas participassem dos protestos e voltou a prometer anistia aos militares que deixarem de cooperar com o chavismo. Apesar de recentes deserções de soldados, Maduro ainda tem o apoio da cúpula das Forças Armadas.

Em 23 de fevereiro, o regime chavista reprimiu duramente as tentativas de entrada de assistência ao montar bloqueios militares nas fronteiras com o Brasil e com a Colômbia. Confrontos entre soldados e manifestantes favoráveis à entrega de ajuda deixaram mortos e feridos.

No domingo, aumentou para sete o número de mortos nos conflitos, depois que o indígena venezuelano Jorge Javier Gonzalez Parra, de 40 anos, morreu no Hospital Geral de Roraima, onde estava internado.

Guaidó é presidente da Assembleia Nacional, órgão que representa o Poder Legislativo da Venezuela, de maioria opositora, mas cujos poderes foram suprimidos pelo regime de Maduro. Ele se autoproclamou presidente interino do país no fim de janeiro, sendo legitimado por mais de 50 países, entre eles os Estados Unidos, o Brasil e vários outros da região.

Potências como China e Rússia, por sua vez, seguem respaldando Maduro. No domingo, Moscou afirmou que fará "tudo que estiver a seu alcance" para impedir uma intervenção militar dos Estados Unidos na Venezuela. A opção militar, contudo, já foi descartada pelo próprio Grupo de Lima, formado por uma maioria de países das Américas que defendem a queda de Maduro.

MD/EK/ap/afp/dpa/efe

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