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Guerra entre gerações

Klaus Dahmann / sv12 de agosto de 2003

No Dia Internacional da Juventude, a ONU pretende chamar atenção para os problemas dos jovens. Na Alemanha, parlamentares da nova geração assinaram há pouco um documento de reivindicações. Klaus Dahmann comenta.

Jovens em frente ao Reichstag, em Berlim: preocupação com o futuroFoto: AP

O verão europeu é sempre uma boa oportunidade para aqueles que passam o resto do ano sonhando com os 15 minutos de fama: basta fazer uma observação em tom de provocação, que esta já ecoa estrondosamente na mídia. Num piscar de olhos, todo o país passa a conhecer o nome do provocador. Isso é o que provavelmente pensou Philipp Missfelder, ao criar o slogan "não a novas próteses da articulação coxo-femural para pessoas acima de 85 anos".

Era óbvio que a afirmação desencadearia uma onda de protestos. Da mesma forma, eram também previsíveis os aplausos cínicos dos parlamentares jovens e, claro, de eleitores na mesma faixa etária. Afinal, carreira profissional planeja-se com antecedência. E, até hoje, no decorrer da história alemã, todos os ex-presidentes da União Jovem – que reúne a ala jovem da União Democrata Cristã (CDU) – acabaram se tornando nomes conhecidos na vida pública do país. Pelo que parece, é o que procura Missfelder, do alto de seus 23 anos.

"Velhos por todos os lados"

Lugares comuns são encontrados com freqüência no emaranhado de argumentos dos jovens parlamentares, que assinaram o memorando "Alemanha 2020". A reclamação: só rostos velhos, qualquer que seja a direção em que se olha – das cabeças dos partidos, passando pelo governo e chegando ao Parlamento. E estes "velhos", claro, só querem saber de garantir sua própria aposentadoria e um tratamento exemplar em caso de doença.

Dos interesses da juventude, do medo desta de ter, no futuro, que pagar do próprio bolso – nada recheado – os custos cada vez mais altos com aposentadoria e saúde, disto os "velhos" não cuidam. Eles, afinal, não conseguem entrar em sintonia com qualquer pessoa mais jovem, acredita a deputada verde Grietje Bettin, 28 anos. Ela e seus correligionários, no entanto, não acabaram nas manchetes de jornal. Missfelder, por outro lado, conseguiu seu espaço na mídia por quase duas semanas consecutivas.

É óbvio que os enfants terribles sabem que o atual debate sobre a reforma da previdência não pode ser reduzido à fórmula "velhos x jovens". As linhas de confronto vão além. Um exemplo é a política de saúde: durante décadas a fio, o governo e a oposição – ocupados alternadamente por democrata-cristãos e social-democratas – bloquearam-se mutuamente.

Philipp Missfelder, presidente da democrata-cristã "União Jovem"Foto: AP

Lobbyistas de plantão

Na espreita, estavam sempre presentes os lobbies de médicos, da indústria farmacêutica e das associações de seguradoras. Todos fazendo frente às propostas indesejadas de reforma. Tudo isso está claro para a ambiciosa geração de políticos jovens. Mas o que interessa a eles é se aproveitar da posição de advogados dos interesses da juventude.

O feitiço, contudo, acaba virando contra o feiticeiro. Quem quer ser levado a sério – e isso é certamente o que deseja Missfelder e toda sua turma – não deve vir com balelas, mas com conceitos sensatos. Está certo e é importante que os jovens políticos participem do debate sobre as reformas – seja dentro de seus partidos ou no Parlamento. Todos esses temas devem ser analisados detalhadamente por eles. O que não se deve fazer é incitar as relações entre as gerações, mas sim apresentar modelos de soluções aceitáveis para todos.

Boas idéias são bem-vindas, principalmente em tempos de desemprego. Pois sair da escola sem a possibilidade de aprender um ofício e perambular por aí sem trabalho encabeça, como antes, a lista dos maiores medos dos mais jovens. E é por isso que a clientela de eleitores abaixo dos 30 anos - cujos interesses os "jovens selvagens" pretendem representar – iria, em caso de sucesso das propostas, realmente aplaudir de pé.

Em defesa dos próprios interesses

Da forma como é, porém, o que fica na boca após o breve fim do debate entre as gerações é apenas um gosto podre – e a sensação de que os jovens políticos perseguem, em primeira linha, apenas seus próprios interesses. O mote parece ser: "O que importa é que meu nome tenha aparecido uma vez em letras garrafais nas manchetes dos jornais".

Isso faz, no entanto, com que eles – como acontece pelo menos no caso Missfelder – não sejam mais levados a sério nem mesmo por seus colegas mais velhos de partido. E isso definitivamente não pode ser de interesse para a nova geração.

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