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Guerras e IA devem dominar debates em Davos

Ashutosh Pandey
15 de janeiro de 2024

Fórum Econômico Mundial começa nesta segunda-feira na Suíça, colocando em pauta conflitos na Ucrânia e em Gaza e desinformação gerada por IA. Mudanças climáticas e dívidas globais também devem ter espaço nos painéis.

Vista da cidade de Davos, com montanhas nevadas ao fundo
Mais de 2.800 participantes devem comparecer ao evento de cinco dias em DavosFoto: Frabrice Coffrini/AFP/Getty Images

Os ricos e poderosos de todo o mundo estão chegando à idílica cidade turística de Davos, na Suíça, para o Fórum Econômico Mundial.

Em 2024, o evento anual ocorre em um momento em que o mundo testemunha guerras devastadoras em Gaza e na Ucrânia, avanços na inteligência artificial(IA) - que causam tanto entusiasmo quanto preocupação -, uma crise da dívida em meio a uma desaceleração econômica e uma deterioração da saúde do planeta.

Mais de 2.800 participantes devem comparecer ao evento de cinco dias que começa nesta segunda-feira (15/01). Entre eles estão mais de 60 chefes de estado e de governo – o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não deve viajar a Davos esse ano, assim como não o fez em 2023. O slogan da reunião de líderes políticos e empresariais globais, celebridades e ativistas sociais proeminentes será "Reconstruindo a Confiança".

"O tema é uma resposta direta à erosão da confiança que é evidente nas sociedades e entre as nações", explicou o diretor administrativo do Fórum, Mirek Dusek, durante uma coletiva de imprensa.

Segundo ele, alguns podem vincular as fissuras diretamente às "profundas transformações ao nosso redor, sejam elas geopolíticas, geoeconômicas ou relacionadas ao clima e à natureza".

Gaza e Ucrânia no topo da agenda

Entre os principais líderes políticos participantes estarão o presidente francês, Emmanuel Macron, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e o primeiro-ministro chinês, Li Qiang. O recém-empossado presidente da Argentina, Javier Milei, também deve comparecer.

Os EUA serão representados pelo Secretário de Estado, Antony Blinken, a quem devem se juntar, entre outros, o presidente israelense, Isaac Herzog, e o primeiro-ministro do Catar, Mohammed Bin Abdulrahman Al Thani, para discutir formas de pôr fim ao conflito em Gaza e evitar uma nova escalada, como muitos temem.

Espera-se que a guerra na Ucrânia também tenha destaque este ano. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, deve participar pessoalmente da reunião, com o objetivo de angariar apoio para seu país, já que os principais aliados, os EUA e a União Europeia (UE), lutam para liberar bilhões em ajuda crucial para Kiev.

Mal-estar econômico

O crescimento econômico lento e a persistente crise do custo de vida em meio a taxas de juros mais altas estão atingindo duramente as pessoas em todo o mundo. O Banco Mundial alertou recentemente que a economia global caminha para encerrar 2024 com a metade de década com crescimento do PIB mais lento em 30 anos.

Embora os temores de recessão global tenham diminuído graças ao crescimento robusto nos EUA, há preocupações de que o aumento das tensões geopolíticas possa inviabilizar a recuperação. A desaceleração da China, segunda maior economia do mundo, também obscureceu as perspectivas de muitos países em desenvolvimento na África e na Ásia.

Outra questão que deve dominar a agenda são os níveis colossais de dívida que as economias em desenvolvimento, muitas delas na África, acumularam nos últimos anos para lidar com várias crises, como a pandemia de covid-19, a escassez de energia e as mudanças climáticas.

Davos vai sediar o Forum Econômico Mundial de 15 a 19 de janeiro de 2024Foto: Frabrice Coffrini/AFP/Getty Images

Atualmente, 3,3 bilhões de pessoas vivem em países que gastam mais em pagamentos de juros do que em educação ou saúde, de acordo com a ONU. Muitos países em desenvolvimento estão vendo seus cofres financeiros ficarem sob estresse em meio aos altos custos de alimentos e energia e aos custos mais elevados de empréstimos.

A situação da economia e a crise da dívida estarão no topo da agenda dos líderes africanos, que são esperados em grande número, liderados pelo presidente nigeriano, Bola Ahmed Tinubu, e seu colega queniano, William Ruto.

Leonard Stiegeler, membro do "Coletivo África", uma plataforma que promove os interesses africanos junto a investidores globais, explica que, quanto a África, "continua se tratando de criar confiança no continente como um centro vibrante de oportunidades atuais e futuras, especialmente, considerando-se o tamanho da sua população".

"Além da criação de empregos e de mão-de-obra qualificada. A África é um local a ser considerado, e isso é algo que os líderes africanos devem promover", destacou.

IA: um tema fundamental

O boom da inteligência artificial, que gera tanto oportunidades quanto dores de cabeça aos reguladores, é um dos principais tópicos deste ano, com uma série de painéis dedicados à revolução tecnológica.

Uma pesquisa anual de riscos publicada pelo Fórum Econômico Mundial na quarta-feira colocou a desinformação impulsionada pela IA como o maior perigo nos próximos dois anos.

A pesquisa disse que "a relação entre informações falsas e agitação social ocupará o centro do palco" este ano, quando as principais economias, como os EUA, a UE e a Índia, forem às urnas.

"Gostaríamos de ser positivamente paranoicos com relação a novas tecnologias e outras questões de ponta", disse Dusek. "E estabelecer um diálogo público-privado e uma cooperação em torno dessas questões desde já, para que não acabemos nos atrasando, como alguns diriam que o mundo está fazendo quando se trata de IA generativa."

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