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Espaço público

15 de agosto de 2011

A chamada guerrilla knitter, ou "guerrilha do tricô", nasceu nos EUA como uma forma leve de protesto. E hoje ajuda a colorir os locais e monumentos públicos também do outro lado do Atlântico.

Guerrilheiros do tricô mantêm o anonimato usando máscarasFoto: DW

A estátua do trabalhador do cais, às margens do rio Meno, está reluzindo ao sol. Ela está descoberta, mas isso está prestes a mudar. Bastam algumas tricotadas e alguns nós e, em pouco tempo, a estátua estará usando meias de listras coloridas.

Uma militante da guerrilla knitter (guerrilha do tricô), conhecida como Strick Puttis, fez as meias em casa – agora ela só precisa colocá-las nas pernas da estátua. Ela e o restante de seu grupo de tricoteiros encaram a missão de levar um pouco de cor ao panorama cinzento de Frankfurt.

Striktik, outro guerrilheiro do tricô de Frankfurt, expõe suas criações em semáforos, postes de luz e bancos de parques. Como todo guerrilheiro que se preze, ele prefere permanecer anônimo e esconder o rosto atrás de uma máscara – que ele mesmo tricotou, claro.

Desde janeiro, guerrilheiros do tricô e crochê têm espalhado o colorido de suas lãs pela região dos rios Reno e Meno, no sudoeste da Alemanha. O objetivo é fazer dos espaços públicos ambientes um pouco mais agradáveis, mais coloridos e menos sem-graça.

A quem pertence a cidade?

A estátua do trabalhador do cais, em Frankfurt, com meias novasFoto: DW

O que pode parecer uma brincadeira na verdade é um movimento político. Verena Kuni, professora de Cultura Visual no Instituto de Educação Artística na Universidade Goethe, em Frankfurt, explica que a guerrilla knitter é uma forma leve de protesto.

"Ela alivia o ambiente", diz Kuni. "Quando as pessoas ficam mais relaxadas e passam a prestar atenção ao que elas veem, podem até achar isso engraçado ou ficarem surpresas num primeiro momento. Mas depois elas começam a perceber que há alternativas para as normas."

Segundo a professora, cobrir objetos da esfera pública com tricô pode levantar questões sobre quem detém a propriedade do espaço público.

Guerrilheiros do tricô, como Striktik ou Strick Puttis, não necessariamente conseguem responder a essas perguntas, mas podem simplesmente gostar de tricô e, com ele, dar uma nova cara à cidade. Os ativistas encontram-se regularmente para criar novos designs. O grupo está aberto a novos integrantes, e todo mundo é encorajado a levar seus trabalhos a sinais de trânsito, postes de luz e árvores.

Movimento norte-americano

Galhos de árvores também são bons espaços de exibiçãoFoto: Strick Puttis

O movimento é originário dos EUA – na loja de Madga Sayeg, mais precisamente. Ela é conhecida como a mãe de todos os guerrilheiros do tricô e inicialmente queria apenas fazer propaganda de sua loja, promovendo pequenas atividades de tricô em público.

Para Kuni, isso mostra como o movimento de tricô de rua pode ter amplos significados. "Pode ser qualquer coisa, desde deixar o seu bairro mais bonito até uma declaração política."

Na opinião da professora, os participantes não são apenas movidos pelo aspecto da arte de rua, mas sim pela experiência "faça-você-mesmo" (do-it-yourself). Projetos semelhantes, como a guerrilha da jardinagem e a agricultura urbana, ganharam as ruas, especialmente de grandes cidades, alguns anos atrás.

A guerrilha de tricô também tem um elemento de enclausuramento, explica Kuni. "As pessoas querem se retirar do mundo real e entrar num mundo onde tudo é mais aconchegante, onde a qualidade realmente importa; um mundo no qual as pessoas verdadeiramente produzam com as próprias mãos", diz ela.

Os guerrilheiros do tricô também aprendem muito sobre velhas técnicas usadas por suas avós. E muito é aprendido sobre o processos de produção, o que pode ter implicações políticas, acrescentou Kuni.

Nem a lixeira escapaFoto: Strick Puttis

Para os cientistas culturais, essa tendência "faça-você-mesmo" é mais que uma moda passageira. Por trás dos postes, galhos de árvores e bancos de parques cobertos com cachecóis, chapéus ou polainas, há a vontade de se criar com as próprias mãos para produzir algo único e de valor.

"O fato de o produto final não ser perfeito – ter uma parte meio desfiada ou uns pontos tortos – faz com que tenha mais charme", acredita Kuni. Essa aceitação do imperfeito torna mais fácil superar inibições e colocar aquela luva tricotada em casa no parquímetro da esquina.

Autor: Bianca von der Au (ms)
Revisão: Alexandre Schossler

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