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"Gueto de ouro" na antiga Chicago

13 de fevereiro de 2013

Hoje, vivem em Chicago 300 mil judeus. Os primeiros a chegar vieram da Alemanha no ano de 1841 e encontraram uma cidade ainda jovem, aberta a diversas possibilidades.

Foto: Chicago History Museum Collection

Em meados do século 19, a esquina das ruas Lake e Wells (foto acima) era o centro da vida judaica alemã em Chicago. Historiadores supõem que os primeiros imigrantes tenham chegado em 1841. Naquela época, a cidade tinha apenas 30 mil habitantes, que viviam, em sua maioria, da indústria madeireira e metalúrgica.

Muitos imigrantes judeus alemães ganhavam seu sustento, contudo, como vendedores ambulantes, levando mercadorias de casa em casa. Mais tarde, começaram a abrir pequenas mercearias ou lojas de roupas. E viviam, na maior parte dos casos, no andar de cima de seus estabelecimentos.

Cidade jovem e aberta

Na antiga Chicago, os judeus alemães eram apenas um entre os diversos grupos de imigrantes, ao lado de irlandeses, britânicos ou suecos. Eles eram aceitos na cidade e participavam da vida social e política nas esferas mais altas, o que era impossível para muitos judeus na Europa naquele momento.

Julius Rosenwald, empresário e mecenasFoto: Chicago History Museum Collection

"Os primeiros imigrantes judeus alemães encontraram uma cidade jovem e muito aberta", explica Libby Mahoney, curadora da exposição Shalom Chicago, que aborda a longa história da comunidade judaica da cidade no Museu Histórico de Chicago. "Não havia estruturas sociais solidificadas e por isso poucas barreiras ou obstáculos para os recém-chegados", diz Mahoney.

Neste contexto, os judeus de origem alemã encontraram todas as portas abertas. Muitos seguiram carreira no setor bancário, de seguros ou imobiliário. Eles se integraram perfeitamente à sociedade  norte-americana e ocupavam altos postos nos clubes e associações locais.

Os judeus alemães fundaram também a primeira sinagoga de Chicago e do estado de Illinois. O templo Kehilath Anshe Maariv, KAM (Comunidade dos Homens do Ocidente), ocupava uma pequena sala em cima de uma loja de roupas, na esquina das ruas Lake e Wells. Seu primeiro rabino era o ultraortodoxo Ignatz Kunreuther.

Homens de negócios bem-sucedidos

Outra personalidade de destaque da comunidade judaico-alemã era Julius Rosenwald, presidente da Sears, Roebuck and Company, um grupo de lojas de varejo conhecido em Chicago. Sob a direção de Rosenwald, a "Sears", como a empresa ainda se chama até hoje, se tornou o maior varejista do mundo. Rosenwald usou sua influência como homem de negócios bem-sucedido para incentivar a criação de uma comunidade judaica na cidade.

Henry Greenebaum (1833-1914), um dos primeiros banqueiros influentesFoto: Chicago History Museum Collection

Ele patrocinava entidades judaicas, mas também muitas outras, como escolas e museus. Em 1927, Rosenwald fundou e financiou, por exemplo, o Museu da Ciência e da Indústria da cidade, que está até hoje entre os maiores museus dedicados à tecnologia do mundo.

Até a virada do século 20, o número de judeus alemães em Chicago subiria para mais de 20 mil. Com 1,7 milhão de habitantes, a "cidade do vento" havia se transformado numa metrópole. Em 30 anos, ganhou mais de um milhão de habitantes. O crescimento galopante gerava também empregos.

"Com o crescimento da cidade, as empresas locais passaram a expandir seus negócios", diz Edward Mazur, presidente da Sociedade Histórica Judaica de Chicago. "Isso, por sua vez, aumentava a necessidade de empréstimos. Ou seja, o setor bancário era uma área promissora numa cidade em franca expansão. E alguns imigrantes judeus alemães souberam aproveitar essa situação", completa Mazur.

Elite e recém-chegados

Em 1890, a sinagoga KAM mudou-se para a zona sul de ChicagoFoto: gemeinfrei

Com o passar do tempo, muitos judeus de língua alemã mudaram-se do centro para bairros melhores no sul da cidade. Por volta de 1900, surgia o que se chamava de "gueto de ouro", como cita o historiador Irving Cutler. Ali viviam famílias judias abastadas de origem alemã, que não gostavam de se misturar – sobretudo quando o assunto era casamento. Pois após 1880 começaram a chegar a Chicago cada vez mais judeus do Leste Europeu, especialmente da Rússia czarista. Em breve, eles já formavam quase 80% da população de judeus da cidade.

A elite no sul de Chicago separava-se dos recém-chegados, que permaneciam em sua maioria na zona oeste. As razões disso eram diversas, fala Mahoney. "Os judeus alemães tinham normalmente um nível de ensino mais alto e dispunham também de melhores recursos financeiros. Entre os judeus alemães, altamente assimilados, e os imigrantes do Leste Europeu, havia um abismo", completa Mahoney. Nunca houve, contudo, qualquer conflito concreto entre os dois grupos. E a distância entre eles diminuiu com o tempo.

Algumas comunidades judaicas se estabeleceram também na South Side, a zona sul da cidade. No lugar de uma sala claustrofóbica e pequena por cima de uma loja de roupas, a sinagoga KAM ganharia um prédio representativo, que refletia adequadamente a ascensão social de seus membros. Os judeus alemães fundaram no sul da cidade algumas instituições comunitárias, como o Hospital Michael Reese, que substituiu outro hospital financiado por judeus, destruído no grande incêndio na cidade em 1871. A nova clínica, contudo, era também aberta a pacientes de outras confissões religiosas.

Influências de judeus alemães são perceptíveis até hoje

E os habitantes judeus de origem alemã da cidade desempenharam um papel importante também na fundação da Universidade de Chicago, em 1890. "A University of Chicago tinha, como muitas universidades norte-americanas em suas fases de criação, grandes dificuldades financeiras", conta Mazur. O rabino mais influente naquela época era Emil G. Hirsch, que se empenhou muito pelo financiamento da universidade", acentua. Graças às influências de Hirsch, fluía dinheiro regularmente para a universidade. Hoje, ela é uma das mais renomadas universidades particulares dos EUA.

Imigrantes judeus do Leste Europeu em Chicago, por volta de 1900Foto: Chicago History Museum Collection

Mazur aponta que, naquela época, bastava olhar para o lado para se deparar com as influências dos judeus alemães na cidade. Muitas das grandes lojas de departamento foram criadas por judeus de origem alemã, E o mesmo vale em relação a museus e entidades culturais. Mahoney acentua que a onda de imigração posterior, durante o Holocausto da Segunda Guerra, não teria sido viável sem a infraestrutura que já havia sido criada para a comunidade judaica. Pois os judeus alemães, que chegaram a Chicago em meados do século 19, já haviam fincado ali raízes sólidas e profundas, contribuindo até hoje para a atmosfera viva desta metrópole.

Autor: Jan Bruck (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer

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