Ministério Público aponta que empresas de Paulo Guedes, cotado para a Fazenda em um eventual governo do ex-capitão, registraram lucros excessivos na captação de recursos de fundos de pensão de estatais.
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O economista Paulo Guedes, que coordena o programa econômico do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) e é cotado para assumir o Ministério da Fazenda em um eventual governo do ex-capitão, está sendo investigado pelo Ministério Público Federal (MPF) em Brasília. Ele é suspeito de ter cometido fraudes na captação de recursos de fundos de pensão de estatais. O procedimento foi instaurado no último dia 2 de outubro. As informações são do jornal Folha de S.Paulo.
De acordo com a publicação, os procuradores apontaram que Guedes se associou com políticos do MDB e do PT entre 2009 e 2013 que atuavam como gestores de fundos de pensão e da sociedade por ações BNDESPar. Esses gestores são suspeitos de terem facilitado negócios que geraram lucros excessivos para o economista.
A intenção dos negócios, segundo o MPF, seria a de cometer "crimes de gestão fraudulenta ou temerária de instituições financeiras e emissão e negociação de títulos imobiliários sem lastros ou garantias".
De acordo com a Folha de S.Paulo, Guedes captou ao menos R$ 1 bilhão de sete fundos como o Previ (Banco do Brasil), Petros (Petrobras), Funcef (Caixa) e Postalis (Correios), além do BNDESPar — um dos braços do BNDES.
Ainda segundo o jornal, à época dos negócios, a Previ era gerida por Sérgio Rosa, um militante do PT e o Postalis, por Alexej Predtechensky, ligado ao MDB.
Um dos negócios suspeitos citados pelo jornal envolve o Fundo de Investimento em Participações (FIP) BR Educacional, que tinha participação de Guedes. O fundo captou entre as estatais 400 milhões de reais entre 2009 e 2013 para projetos educacionais.
No primeiro ano do negócio, em 2009, 62 milhões de reais foram direcionados para uma única empresa, a HSM Educacional, também controlada por Guedes. A HSM Educacional, por sua vez, usou parte desses recursos para adquirir outra empresa na mesma época, chamada HSM do Brasil, que praticamente só existia no papel.
Apesar da injeção de recursos, as duas empresas passaram então a registrar prejuízos seguidos. De acordo com as investigações, os maus resultados foram impactados por custos altos com pagamento de palestras e de pessoal. A HSM do Brasil, por exemplo, gastou entre 2009 e 2012 11,9 milhões de reais em remuneração de palestrantes. Na mesma época, Guedes viajava pelo Brasil participando de palestras promovidas pela HSM.
Procurado pela Folha de S.Paulo, Guedes não comentou o caso.
Essa não é a primeira vez que Guedes viu seu nome ligado a um caso de suspeita de fraude. Em setembro, ele foi apontado pela Justiça do Rio de Janeiro como um dos beneficiários de uma fraude que causou prejuízos para a Fapes, fundação responsável pelas aposentadorias de funcionários do BNDES.
Em uma decisão proferida em julho, a Justiça citou Guedes em uma lista de clientes da corretora Dimarco que registraram ganhos atípicos no período em que as fraudes ocorreram.
Três executivos da Dimarco foram condenados por gestão fraudulenta de instituição financeira. Guedes, no entanto, não é réu no processo.
Cotado para a Fazenda no caso de uma vitória de Bolsonaro, Guedes defende uma agenda ultraliberal de privatizações e reformas tributárias e da Previdência. Ao longo do ano, ele foi apresentado de forma entusiasmada pelo candidato do PSL, que apelidou o economista de seu "posto Ipiranga", uma figura que ele pode consultar sobre todos os assuntos econômicos, tema que Bolsonaro já admitiu não dominar.
No final do ano passado, Guedes chegou a se aproximar de Luciano Huck, mas acabou se associando a Bolsonaro quando o apresentador de TV desistiu de concorrer à Presidência. PhD pela Universidade de Chicago - berço do neoliberalismo econômico -, Guedes também se destacou ao longo da campanha pela controvérsia gerada em torno de comentários sobre uma eventual recriação da CPMF e a adoção de uma alíquota única de Imposto de Renda, que acabaria por beneficiar pessoas mais ricas.
Treze candidatos se apresentaram para disputar o Planalto. O líder das pesquisas acabou fora da corrida, e vários nomes tentam contornar isolamento partidário. Veja os principais episódios da disputa.
Foto: Reuters/A. Machado
Bolsonaro é eleito presidente
Em segundo turno, os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro (PSL) como presidente. Após uma campanha eleitoral polarizada, o militar reformado de extrema direita recebeu 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). Com bandeiras do Brasil e vestidos nas cores verde e amarelo, eleitores comemoram pelo país. No discurso da vitória, Bolsonaro prometeu um governo constitucional e democrático.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S.Izquierdo
TSE abre investigação contra Bolsonaro
A pouco mais de uma semana do segundo turno, o Tribunal Superior Eleitoral abriu uma ação para investigar suspeitas de compra de disparos de mensagens antipetistas no WhatsApp por parte de empresários aliados a Bolsonaro. O pedido de investigação foi feito pelo PT, após uma reportagem do jornal "Folha de S. Paulo". A PF também abriu inquérito para investigar a disseminação em massa de "fake news".
Foto: Reuters/R. Moraes
Bolsonaro e Haddad vão ao segundo turno
Numa das eleições mais polarizadas da história, em 7 de outubro os brasileiros levaram ao segundo turno os dois candidatos que, segundo sondagens, são também os mais rejeitados: Bolsonaro (PSL) e Haddad (PT). Favorito no Sul e Sudeste, o ex-militar teve 46% dos votos válidos contra 29% do petista, que foi o mais votado em oito estados do Nordeste e no Pará. Em terceiro, Ciro Gomes (PDT) teve 12%.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
Bolsonaro cresce nas pesquisas
Já líder nas pesquisas, o candidato do PSL ampliou sua vantagem no início de outubro, ultrapassando pela primeira vez a marca de 30% em sondagens do Ibope e do Datafolha. Ao longo da semana que antecedeu as eleições, o ex-capitão foi subindo e, na véspera do pleito, cruzou a barreira de 40% dos votos válidos. Após ser esfaqueado, a campanha do candidato se concentrou nas redes sociais.
Foto: Reuters/P. Whitaker
A troca de Lula por Haddad
Após meses de suspense e com aval de Lula, Fernando Haddad foi oficializado candidato à Presidência pelo PT em 11 de setembro, a menos de um mês do primeiro turno, após se esgotarem as chances de o ex-presidente concorrer. Preso e virtualmente inelegível pela Ficha Limpa, Lula era líder nas pesquisas de intenção de voto. O desafio agora será transferir votos para o ex-prefeito.
Foto: Agencia Brasil/R. Rosa
Ataque a Bolsonaro
O candidato do PSL foi esfaqueado durante um ato de campanha em Juiz de Fora, um ataque que prometia mudar os rumos da corrida presidencial. Seus adversários condenaram a agressão, e alguns chegaram a mudar o tom da campanha. Não houve, contudo, um impacto decisivo sobre o eleitorado. Ele segue líder das intenções, mas com percentual praticamente igual. A rejeição a ele, por outro lado, aumentou.
Foto: picture-alliance/dpa/Agencia O Globo/A. Scorza
O "plano B" do PT
Com Lula virtualmente inelegível, a escolha do seu vice passou a ser encarada como um trampolim para um candidato substituto. No início de agosto, o PT acabou indicando Fernando Haddad, que desde o início do ano era cotado como "plano B". Manuela D'Ávila (PCdoB) ficou com a curiosa posição não oficial de "vice do vice", assumindo a posição com Lula candidato ou não.
Foto: Agência Brasil/F.Rodrigues Pozzebom
A novela dos vices
A fase de convenções começou no fim de julho sem que a maioria dos pré-candidatos tivesse um vice. Bolsonaro teve três convites recusados até fechar com o general Mourão (PRTB). Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT) se contentaram com nomes do próprio partido. Alckmin teve convite recusado pelo empresário Josué Alencar, cuja família é ligada a Lula, antes de optar por Ana Amélia (PR).
Foto: Agência Brasil/F.Frazão
Os candidatos isolados
A jogada de Alckmin com o "centrão" acabou isolando outros candidatos. Jair Bolsonaro (PSL) tentou negociar com o PR, mas teve que se contentar com o nanico PRTB. Ciro Gomes (PDT) também viu suas investidas no grupo naufragarem. Marina Silva (Rede) e Ciro também não conseguiram apoio do PSB, que ficou neutro numa manobra do PT. Os três terminaram a fase de convenções com pouco apoio e tempo de TV.
Alckmin fecha com o "centrão"
Em julho, o tucano Geraldo Alckmin ainda patinava nas pesquisas, mas criou um fato novo na campanha ao conseguir o apoio do "centrão", as siglas que costumam emprestar seu apoio a governos em troca de cargos e verbas. Ao se aliar com PR, PP, PSD, DEM e SD, Alckmin passou a dominar 44% da propaganda eleitoral na TV. Sua coligação também recebe 48% do novo fundo de campanhas.
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa
Candidaturas descartadas
A eleição de 2018 parecia destinada a superar o número de candidatos de 1989, quando 22 disputaram. Em abril, 23 manifestavam interesse em concorrer, entre eles o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ex-presidente Fernando Collor. Mas eles logo desistiram ou foram abandonados por seus partidos. Outros aceitaram ser vices. Em agosto, só 13 permaneciam na corrida.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Os "outsiders" saem de cena
A possibilidade de Lula ficar de fora e o sentimento antipolítico entre a população sinalizavam que esta seria a eleição dos "outsiders". O ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa e o apresentador Luciano Huck chegaram a ser incluídos em pesquisas. O empresário Flávio Rocha anunciou candidatura. Em julho, todos já haviam desistido, e a disputa ficou restrita a velhos nomes da política.
Foto: Imago/ZUMA Press/M. Chello
Lula é condenado e preso
Quando anunciou, em 2016, a intenção de disputar a eleição, Lula se tornou o líder nas pesquisas. Em janeiro, porém, sua situação se complicou após uma condenação em segunda instância que o deixou virtualmente inelegível. Em abril, foi preso. Com a possibilidade de a candidatura ser barrada, o PT passou a ter dificuldades em formar alianças, e o desfecho do pleito ficou ainda mais imprevisível.
Foto: Reuters/L. Benassatto
Entra em cena o fundo de campanhas
Diante da proibição das doações por empresas, o Congresso criou em outubro de 2017 um novo fundo de R$ 1,7 bilhão para financiar candidaturas, já definindo a capacidade financeira de várias campanhas. Quase 60% do valor ficou concentrado em seis legendas: MDB, PT, PSDB, PP, PSB e PR, deixando candidatos à Presidência de pequenas e médias siglas com menos recursos na largada.