Há 100 anos morria Gustav Klimt, autor de "O Beijo"
Günther Birkenstock sv
6 de fevereiro de 2018
Pintor austríaco foi um dos expoentes da Art Nouveau. Suas pinturas são hoje famosas e valiosas, mas há quem veja nelas fortes elementos kitsch, como o frequente uso do dourado.
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Sua obra mais conhecida, O beijo, já foi reproduzida milhares, talvez milhões de vezes. E não somente em papel, mas também em xícaras de café, estojos para óculos, gravatas, sacolas e em incontáveis outros objetos cotidianos. Todos celebrando Gustav Klimt, um favorito do público. O artista se tornou representante da Art Nouveau, embora tenha sido alguém que quisesse acabar com a arte do seu tempo, diz Alfred Weidinger, historiador da arte especializado em Klimt e curador do Museu do Palácio Belvedere, em Viena.
Nascido em 14 de julho de 1862 em Baumgarten, nas proximidades da capital austríaca, de pais pobres, Klimt conseguiu frequentar a Escola de Artes Aplicadas de Viena graças a uma bolsa de estudos. Junto com o irmão Ernst e o colega Franz Matsch, trabalhou assiduamente e logo se destacou. Além de decorações para tetos e teatros, Klimt se tornou também o retratista preferido da alta burguesia judaica.
Ele não apenas pintava, como também cooperava com arquitetos na decoração de casas e mansões, concebidas como obras de arte total. Em 1894 foi incumbido de fazer três pinturas monumentais no teto do auditório principal da Universidade de Viena. As representações alegóricas das três faculdades – Direito, Filosofia e Medicina – provocaram escândalo.
Autêntico demais, nu demais
Klimt mostrou um excesso de carne desnuda para a pudica Viena da época, analisa Weidinger: "Ele expôs os vienenses a si mesmos como eles de fato eram – esse foi o problema". Em vez de representar as mulheres nuas como deusas, apresentava a vizinha do lado. "E a apresentava em sua beleza, mas também em sua feiura". E isso em pinturas gigantescas, no teto de uma universidade conservadora. "Aí os vienenses explodiram", conclui o historiador.
Mas não se tratava de uma provocação planejada, ressalva o historiador da arte: "Klimt era muito autêntico. Ele simplesmente queria pintar como lhe dava prazer". E se ateve a essa postura, apesar de grandes prejuízos financeiros. Mais tarde, com a ajuda de um mecenas, acabou comprando as pinturas de volta da universidade. Naquela época, elas já custavam uma fortuna.
Os amantes de arte de hoje só podem apreciar essas obras em fotografias, pois os originais foram destruídos no Palácio Immendorf, na Áustria, incendiado pelos nazistas no fim da Segunda Guerra.
Clássicos da Pintura: "O Beijo", de Gustav Klimt
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Artesanato pintado
Em 1907, Klimt criou uma entre as suas mais famosas obras: o retrato de Adele Bloch-Bauer 1ª, filha de um banqueiro vienense. Vendida em 2006 por 135 milhões de dólares a um empresário norte-americano, foi durante um tempo o quadro mais caro do mundo. Trata-se de um retrato com um rosto extremamente realista, rodeado por vários tons de dourado.
Weidinger acredita que Klimt não teria se importado com as críticas ao excesso de dourados, apontado por alguns como kitsch: "Klimt não era um pintor acadêmico". Há de se lembrar que ele não frequentou uma Academia de Belas Artes, mas a Escola de Artes Aplicadas. "A obra de Klimt não tem nada que ver com a pintura clássica. Ele empregou a diversidade de materiais de que se ocupara durante o estudo. Era artesanato pintado", diz Weidinger.
E são essas "imagens materiais" que fazem a obra de Klimt tão peculiar, um nicho no qual ninguém o seguiu. Segundo o historiador, o aspecto decorativo e o caráter autêntico impediram que se oferecesse a Klimt uma cátedra de professor. "Ele era um artista decorativo", diz, intencionalmente provocador. Mas Weidinger sempre notou que a forma como Klimt pinta desencadeia nas pessoas um sentimento de devoção.
"Cara bonitão"
Gustav Klimt e as mulheres é um capítulo à parte na história da arte, e não apenas por ele as ter eternizado em cores e formas. Não se sabe ao certo quantos filhos ele de fato teve. Após sua morte surgiram 14, todos exigindo seu quinhão na herança: quatro foram reconhecidos. O pintor nunca se casou: ele vivia suas paixões sem restrições, observa Weidinger.
Também nesse aspecto Klimt era autêntico, sem afetação. "Do contrário, como explicar que, ainda em maio de 1899, ele mantinha um relacionamento com a cunhada Helene Klimt, ao mesmo tempo que começara a flertar com Alma Mahler-Werfel. Na época Marie Ucicky e Marie Zimmermann estavam grávidas dele, e ele foi se encontrar com Emilie Flöge."
Impossível viver em tal poligamia sem discussões nem estresse. Isso fica visível nas numerosas cartas de amor de Klimt que foram preservadas. "Ele era mesmo um cara bonitão", diz Weidinger.
No dia 6 de fevereiro de 1918, Gustav Klimt morreu aos 55 anos em Viena, de um derrame cerebral.
Gustav Klimt, um mestre da Art Nouveau
Há cem anos morria o pintor austríaco, cofundador e principal representante da Secessão Vienense. Motivo de escândalo em sua época, suas obras são hoje admiradas em todo o mundo.
Foto: picture-alliance/R. Hackenberg
Arte em vez de gravura
Gustav Klimt (1862-1918) deveria ter sido um gravador de ouro como seu pai, mas, depois de uma bolsa de estudos para a Escola de Artes Aplicadas de Viena, ele optou pela carreira de pintor. Inicialmente garantia seu sustento com pinturas de cortina e teto. Na foto, Klimt tinha 52 anos.
Foto: picture alliance/Imagno
Pintura de teto com querubim
Com o irmão Ernst e o colega Franz Matsch, Gustav Klimt montou a chamada "Künstlercompagnie" ou "companhia de artistas". Juntos, eles realizaram esta e outras pinturas de teto na Hermesvilla, um castelo que o imperador Francisco José 1° presenteou à imperatriz Sissi da Áustria. Não somente os aposentos particulares, mas também a sala de esportes estava adornada com obras da companhia de artistas.
Foto: picture-alliance/IMAGNO/Wien Museum
Mulheres escandalosas
Em 1894, Klimt realizou três pinturas de teto para a Universidade de Viena. Professores ficaram consternados com as representações da Jurisprudência, Filosofia e Medicina: as mulheres estariam "nuas e eróticas demais". Após longa disputa sobre a liberdade da arte, Klimt as comprou de volta em 1905. No fim da Segunda Guerra, elas foram destruídas num incêndio, restando apenas estas fotografias.
"O friso de Beethoven"
Em 1897, Klimt fundou com seus companheiros a Secessão Vienense, que rejeitava o estilo tradicional na arte. Mais uma vez, ele teve de fazer concessões ao público vienense conservador, cobrindo com ramos o órgão genital de seu Teseu no cartaz da primeira exposição da Secessão. Por mostrar pelos pubianos, também seu "Friso de Beethoven" foi motivo de escândalo em 1902.
Foto: picture-alliance/Rainer Hackenberg
Paisagens de veraneio
Menos conhecidas são as paisagens realizadas durante as férias de verão no lago Attersee, na região de Salzkammergut. Entre 1900 e 1916, o pintor viajou regularmente para lá, pintando ali a maioria dos seus cerca de 50 trabalhos paisagísticos. Um motivo recorrente foi o Palácio Kammer (foto). Por ocasião do 150º aniversário do artista, o Centro Gustav Klimt foi aberto no lago Attersee em 2012.
Foto: picture-alliance/akg-images
"Girassol"
Quando Klimt capturava a natureza na tela, ele não precisava de nenhum esboço. Seu "Girassol" foi realizado em 1907. Durante muito tempo, essa obra pertenceu ao colecionador de arte vienense Peter Parzer. Ele morreu em 2010 e deixou este e outros quadros para o Museu Belvedere, que possui 24 pinturas de Klimt.
Foto: picture-alliance/akg-images
Sonja Knips e uma abundância de tule
Além de paisagens e pinturas de teto, Gustav Klimt fez retratos com os quais ganhou bastante dinheiro. Um senhor da burguesia pagava nada menos que 20 mil coroas para que sua esposa fosse retratada. Pelo dobro, era possível na época comprar uma mansão mobiliada. "O retrato de Sonja Knips", de 1898, já indica como Klimt se dissociava do realismo de seus primeiros trabalhos.
Foto: AP
"O retrato de Adele"
Quando, em 1907, Klimt retratou Adele Bloch-Bauer, esposa de um comerciante de açúcar, seu cliente dificilmente poderia sonhar que, quase cem anos depois, o quadro seria vendido ao empresário americano Ronald Lauder pelo preço recorde de 135 milhões de dólares. Pouco antes, a pintura havia sido restituída aos herdeiros pela galeria austríaca Belvedere.
Gustav Klimt ganhou fama mundial com seu período dourado. A inspiração veio de uma viagem a Ravenna, onde pôde admirar os mosaicos dourados bizantinos das igrejas. "O beijo", de 1908, é certamente a obra mais importante dessa fase e é hoje uma das imagens mais reproduzidas da história da arte – em xícaras de café, gravatas ou bolsas de pano.
Foto: Belvedere Wien/Basiliscus Production
Klimt e as mulheres
"Dânae", uma figura da mitologia grega, era um popular motivo artístico por volta de 1900. Klimt também a imortalizou numa de suas pinturas mais famosas. Não se sabe, no entanto, se o pintor teve um relacionamento com sua modelo. Ele teve filhos com ao menos três mulheres. E também teve casos com algumas de suas clientes da alta burguesia. O artista nunca se casou.
Morte aos 55 anos
Embora suas obras tivessem grande aceitação entre a burguesia, o Ministério da Educação da época recusou quatro vezes a nomeação de Klimt como professor da Academia de Belas-Artes de Viena, da qual por fim se tornou um membro honorário em 1917. Depois de um acidente vascular cerebral, Klimt (na foto, em frente a seu ateliê) morreu em 6 de fevereiro de 1918.