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125 anos do automóvel

28 de janeiro de 2011

A Alemanha se considera o país do automóvel. Não só a grande paixão dos alemães por carros, como também a série de montadoras do país documentam isso. E tudo começou com um triciclo.

Carl Benz ao volante de seu triciclo motorizadoFoto: Daimler AG

A história do automóvel moderno começou em 29 de janeiro de 1886. Nesse dia, o engenheiro alemão Carl Benz entrou com o pedido de patente de seu carro motorizado em Mannheim. Tratava-se de um veículo de três rodas, – um "triciclo", como especifica o texto da patente – equipado com um motor de combustão. A potência dessa máquina era de 0,8 hp (0,6 kw), o arranque era feito através de uma manivela e sua velocidade máxima, de 18 km/h.

Independentemente de Benz, o especialista em fabricação de armas Gottlieb Daimler construiu também pouco tempo depois um automóvel em Stuttgart. Com 16 km/h ele não era tão veloz, mas já tinha quatro rodas. Visualmente, parecia uma carruagem adaptada. Daimler trabalhava juntamente com o projetista de motores Wilhelm Maybach – até hoje uma parceria lendária.

Motores Otto e diesel

Nikolaus August Otto (1832-1891) patenteou motor com seu nomeFoto: Picture-alliance/dpa

O projetista alemão Nikolaus August Otto já havia patenteado, em 1876, o motor batizado com seu nome. Em 1892, Rudolf Diesel entrou com o pedido de patente em Berlim de sua versão de motor de combustão, que se diferenciava por um maior rendimento. Por ironia da história, no entanto, os primeiros recordes de velocidade foram estabelecidos por carros elétricos. Em 1901, um automóvel desse tipo atingiu, pela primeira vez, a marca dos 100 km/h.

Na virada do século, o motor a gasolina ainda não havia se afirmado, sofrendo a concorrência de diferentes formas de propulsão. Isso fica comprovado através de uma estatística de produção de automóveis nos EUA em 1900. No total, 75 fabricantes produziram 4.192 veículos, entre eles, 1.688 com propulsão a vapor, 1.575 elétricos, mas somente 929 com motor a gasolina.

Apenas na década de 1920 o motor a gasolina conseguiu se impor. As razões para isso foram a velocidade mais alta graças a motores cada vez melhores, combustível barato à base de petróleo, e autonomia significantemente maior do que os motores elétricos, com suas fracas baterias.

Ford inventa a linha de montagem

Nesse período, diversos pioneiros desenvolveram veículos motorizados. As primeiras fábricas de automóveis surgiram por volta de 1890 na Europa e nos Estados Unidos, onde um certo Henry Ford fez história.

Lendário Ford Modelo T, carro mais vendido de sua épocaFoto: AP

Enquanto, por muito tempo, os automóveis só eram acessíveis aos mais abastados, a empresa de Henry Ford em Detroit apostou em veículos que também podiam ser pagos por pessoas comuns.

Já em 1908, o popular modelo T chegava ao mercado. Pouco tempo depois, em 1913, Henry Ford introduzia a produção em massa de seu Ford T, através da linha de montagem. Com esse conceito, Ford iniciou uma nova era não somente na produção automotiva, mas também a produção industrial global.

Segundo a teoria de Ford, todo funcionário seu deveria poder comprar um carro. Assim, ele pagava salários bem melhores do que os de outros setores. E, devido ao enorme sucesso econômico, reduziu, ao mesmo tempo, a carga de trabalho. Os trabalhadores de Ford deveriam dispor de tempo livre suficiente para poder aproveitar a vida, e de dinheiro suficiente para comprar seus automóveis. Ford criava assim a base da sociedade moderna de consumo.

Até 1927, o modelo Ford T foi fabricado sem modificações em seu design. Ao todo, foram produzidos 15 milhões de unidades do mesmo veículo. Tal recorde só foi quebrado 45 anos mais tarde.

Fusão de Daimler e Benz

Mercedes Jellinek deu nome à celebre marcaFoto: picture-alliance/ dpa

Na Alemanha, em 1926, ocorreu a fusão das montadoras Daimler e Benz. Gottlieb Daimler já havia falecido em 1900 e Carl Benz, por sua vez, já havia há muito tempo se afastado de forma litigiosa de sua empresa original. Nesse contexto, é interessante observar que Daimler e Benz nunca se encontraram pessoalmente.

Todos os automóveis fabricados por Daimler-Benz passaram a levar o nome "Mercedes". Os direitos sobre esse nome já haviam sido adquiridos legalmente em 1902 pela Sociedade de Motores Daimler. Sua origem remonta ao negociante Emil Jellinek. A filha desse importante vendedor dos automóveis Daimler se chamava Mercedes, que acabou cedendo seu nome à célebre marca.

O emblema da Daimler-Benz engloba a estrela da marca Mercedes e a coroa de louros da firma Benz. Ainda hoje, os automóveis dessa montadora são caros. Antigamente eles só podiam ser comprados por uma clientela muito exclusiva – da mesma forma que os produtos dos cerca de 90 fabricantes de automóveis existentes na Alemanha após a Primeira Guerra Mundial.

Porsche e Volkswagen

Ferdinand Porsche (1875-1951)Foto: picture-alliance/ dpa

O projetista austríaco Ferdinand Porsche pretendia mudar essa situação. O inventor já havia construído, como empregado de várias empresas, os primeiros automóveis do mundo com tração nas quatro rodas e até mesmo com sistema híbrido de propulsão. Por questão de custos, tais inovações não foram levadas adiante.

Antes de se tornar autônomo, Porsche foi, ao longo de sua movimentada carreira, entre outros, diretor técnico e diretor geral da Sociedade de Motores Daimler.

Logo após a fundação da Dr. Ing. h.c. F. Porsche Ltda., em Stuttgart, no ano de 1930, ele iniciou o planejamento de um automóvel acessível a uma grande camada da população. Em 1934, Porsche assinou com o governo em Berlim um contrato para a construção de um "Volkswagen" (automóvel popular).

Em 1937, o Volkswagen ganhou sua forma definitiva. Através da fusão de diversas comunidades no norte da Alemanha, foi fundada em 1938 a "Cidade do Carro KdF em Fallersleben". KdF era a sigla em alemão da "Força através da Alegria", organização nazista de atividades recreativas e uniformização da população alemã. Ali viviam os trabalhadores que iriam fabricar o Volkswagen numa nova fábrica.

No entanto, já em 1940 teve início a produção de armamentos devido à guerra. Apesar da destruição da maior parte das instalações industriais, a produção de automóveis foi retomada já algumas semanas após o fim da Segunda Guerra Mundial. Quatro anos mais tarde, o "novo" Volkswagen de número 50 mil era fabricado em Wolfsburg, nome que a cidade automotiva ganhou após o fim da guerra.

O Fusca

Último Fusca, fabricado em 2003, está no Museu da VW em WolfsburgFoto: AP

Käfer (besouro) era o nome oficial do veículo compacto de pouco mais de quatro metros de comprimento, com carroceria marcante e motor boxer traseiro de quatro cilindros refrigerado a ar. No Brasil, ele foi chamado "Fusca". O veículo se tornou símbolo do milagre econômico alemão. Em 5 de agosto de 1955, era fabricada sua milionésima unidade.

Em 1972, a produção do Fusca superou a marca dos 15 milhões de unidades. Ele ultrapassava assim o Ford T como automóvel mais fabricado no mundo. Em 30 de julho de 2003, o último Fusca deixava a fábrica, no México, para onde a produção fora transferida mais de 30 anos antes.

O último dos 21.529.464 Fuscas fabricados até 2003 faz parte hoje do acervo do Museu da Volkswagen em Wolfsburg.

Globalização e convergência

Desde seus primórdios, a indústria automotiva "pensa" de forma global. Para empresários norte-americanos, a Alemanha é vista como mercado interessante. No fim dos anos 1920, sete montadoras dos EUA haviam se estabelecido na Alemanha. Já em 1925, a Ford fundou em Berlim uma subsidiária alemã com capital aberto. Em 1931, a Ford berlinense foi fechada, sua produção foi então transferida para a cidade de Colônia, onde funciona até hoje.

No final dos anos 1920, a empresa familiar Opel era a maior fabricante de automóveis da Alemanha. Sob o impacto da iminente crise econômica mundial, os herdeiros de Adam Opel transformaram sua firma em empresa de capital aberto. A General Motors comprou, inicialmente, uma grande parcela de ações e assumiu, em 1931, o controle definitivo da montadora alemã. Apesar disso, a empresa continuou a ser administrada por alemães, assim como ficaram garantidas a manutenção do nome Opel e uma política autônoma de modelos de carros.

As cinco grandes

Poucas montadoras alemãs resistiram ao pós-guerra

Ainda que, a rigor, elas não pertençam ao rol das montadoras alemãs, a Ford da Alemanha e a Opel, subsidiária da GM, estão entre os poucos fabricantes de automóveis que restaram no país.

Das dezenas de montadoras atuantes após as duas guerras mundiais, somente três subsistiram como empresas autônomas. Ou seja, a Volkswagen com a subsidiária Audi e, mais recentemente, também a Porsche, a Daimler com sua tradicional marca Mercedes, e a BMW.

Junto com a Toyota e a General Motors, a Volkswagen está entre os três maiores fabricantes de automóveis do mundo. Considerando o volume de vendas, Daimler e BMW conseguem estar no topo das 15 maiores empresas mundiais.

"A demanda mundial por automóveis não irá ultrapassar 1 milhão de unidades – já devido à falta de chauffeurs": esse prognóstico atribuído ao pioneiro do automóvel, Gottlieb Daimler, mostra como um inventor genial também pode se enganar.

Em 2010, foram vendidos 60 milhões de automóveis em todo o mundo. Para 2011, esperam-se cerca de 67 milhões de novos licenciamentos.

Autor: Klaus Ulrich (ca)
Revisão: Augusto Valente

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