Entre suas obras mais citadas estão "O Vampiro de Düsseldorf" e "Metrópolis". Da República de Weimar ao exílio hollywoodiano, o austro-teuto-americano Fritz Lang influencia até hoje o cinema mundial.
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O cineasta alemão Fritz Lang (1890-1976) permanece inesquecível: seus filmes seguem fascinando o público – e não só os cinéfilos. Em 2020 acabam de ser relançadas em DVD duas de suas obras-primas: O testamento do Dr. Mabuse e M, o Vampiro de Düsseldorf, acompanhadas de material histórico sobre o processo de produção.
Em 1995, a partir de uma enquete entre críticos e especialistas, o clássico M foi escolhido pela fundação berlinense Deutsche Kinemathek como "obra mais importante da história cinematográfica alemã".
Nascido em 5 de dezembro de 1890 em Viena, Lang é um dos principais artigos culturais de exportação da Alemanha – embora não seja tão simples definir a nacionalidade do diretor que atuou por longos anos nos Estados Unidos.
Além do passaporte da Áustria natal, em 1922, após casar-se com a roteirista e atriz Thea von Harbou, Lang naturalizou-se alemão. E, tendo emigrado para os EUA, recebeu em 1939 também a cidadania americana.
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Do cinema mudo ao sonoro
Com o filme mudo A morte cansada, em 1921 Fritz Lang alcançou seu primeiro sucesso na República de Weimar. Seguiram-se produções monumentais, que lhe valeram fama internacional: Os Nibelungos (1924), a visionária ficção científica Metrópolis (1927), A mulher na Lua (1929) e O testamento do Dr. Mabuse (1933).
No entanto, até hoje sua obra mais influente é M, O Vampiro de Düsseldorf, de 1931. O papel do sinistro assassino de crianças definiria a carreira futura do ator de origem húngara Peter Lorre. Thea von Harbou, que se divorciaria de Lang em 1933, foi celebrada pelo inquietante roteiro.
Por ocasião da estreia, em 11 de maio de 1931, na Lichtbildbühne de Berlim, o crítico Hans Wollenber escreveria: "Há muito não se via na tela de projeção um filme de tamanho significado. Uma obra cinematográfica dessas eleva a sala de exibição a teatro fílmico, a palco da arte poética interpretativa."
Em 1933, porém, Lang rompeu com a indústria cinematográfica alemã e a produtora Universum Film (futura UFA): Josef Goebbels tentara instrumentalizar o celebrado diretor para fins de propaganda nazista.
Admirador de seus filmes, o ministro da Propaganda de Hitler lhe ofereceu o posto de superintendente de Cinema do Terceiro Reich. Mas Lang pediu um tempo para decidir – e, segundo a lenda, no mesmo dia resolveu emigrar da Alemanha nazista.
Na biografia Ich bin ein Augenmensch (Sou um ser visual), de 2014, porém, o autor Norbert Grob desmente que Lang tenha deixado o país imediatamente após essa tão citada conversa pessoal com Goebbels, mas sim: o bem-sucedido de início seguiu trabalhando na Alemanha, só partindo para o exílio meses mais tarde, no fim de 1933.
Hollywood e volta à Alemanha
Durante sua breve estada na França, Fritz Lang realizou com o produtor Erich Pommer, igualmente emigrado da Alemanha, Coração vadio, tendo Charles Boyer no papel principal.
Em 1934, o cineasta conseguiu dar o salto para Hollywood. Mas, apesar de altamente produtivo no exílio, ele nunca conseguiu lançar raízes nos EUA. Em sua minuciosa biografia, Grob explica que, possuidor de uma personalidade autoritária, Lang era mal adequado a funcionar no rígido sistema dos estúdios americanos, onde quem detinha o poder eram os poderosos produtores e os influentes chefes de estúdio, não o diretor.
Na década de 1940, tendo se empenhado pela criação da Anti-Nazi-League nos EUA, ele fez alguns filmes de cunho político, como O homem que quis matar Hitler, em 1941, e, dois anos mais tarde, Os carrascos também morrem, em cooperação com um outro emigrante famoso, o dramaturgo Bertolt Brecht.
Em 1944, seguiu-se Quando desceram as trevas, estrelado por Ray Milland. Nos anos 1950, foi a vez do western O diabo feito mulher (1952), tendo como protagonista a alemã Marlene Dietrich, em 1953, lançou o policial Os corruptos, com Glenn Ford.
Em 1956, retornou à Alemanha, para rodar suas últimas obras, ao lado do produtor judeu Artur (Atze) Brauner: em 1959, a dupla exótica O tigre de Bengala e O sepulcro indiano, em 1960, Os mil olhos do Dr. Mabuse. Entretanto ele não reencontrou sua potência artística na Alemanha do pós-guerra. Quase cego, morreu em 2 de agosto de 1976, em Beverly Hills, na sua pátria de exílio.
Fritz Lang deixou para o mundo do cinema filmes inspiradores, visionários, até hoje, fascinantes; muitos se tornaram clássicos. Em 2020 transcorrem os 130 anos seu nascimento: seu lugar no panteão da história da sétima arte está garantido.
Os primeiros cineastas alemães
Alguns são nomes consagrados do expressionismo alemão, muitos fugiram do país após a ascensão do nazismo e outros se firmaram em Hollywood. Conheça alguns dos diretores que marcaram o início da sétima arte na Alemanha.
Foto: ullstein bild
Fritz Lang (1890-1976)
Nascido em Viena, o cineasta é um dos nomes mais importantes dos primórdios do cinema alemão. Diretor de clássicos como "Metrópolis", considerado o precursor dos filmes de ficção científica, "Dr. Mabuse" e "M, o vampiro de Düsseldorf", entre outros, Lang criou personagens caricatas que mais tarde se tornariam realidade na política nazista. Sua estética inspirou muitos nomes do cinema no mundo.
Foto: ullstein bild
Lotte Reiniger (1899-1981)
Autora, entre outros, do primeiro longa-metragem de animação da história do cinema ("As aventuras do Príncipe Ahmed", 66 minutos), a diretora berlinense é admirada pela precisão com a qual esboçava suas figuras. Fã confessa da dança e do teatro, recorreu com frequência aos contos de fadas, mitos e libretos de ópera para realizar seus filmes. É a grande pioneira do cinema de animação na Alemanha.
Foto: picture-alliance / KPA/TopFoto
Friedrich Wilhelm Murnau (1888-1931)
Autor do clássico "Nosferatu", que popularizou os filmes de vampiro, Murnau dirigiu longas que antecipariam nas telas os horrores da Segunda Guerra. Em "Fausto", o diabo Mefisto quer dominar o mundo e corrompe a alma de um professor. Filme de contrastes fortes, típicos do expressionismo alemão, é admirado até hoje por sua precisão estética. Murnau deixou a Alemanha antes da ascensão do nazismo.
Foto: Friedrich Wilhelm Murnau Stiftung
Ernst Lubitsch (1892-1947)
Considerado mestre das comédias, Lubitsch trabalhou com grandes atores e atrizes de seu tempo, como Marlene Dietrich e Greta Garbo. Admirado posteriormente por nomes como Orson Welles e Alfred Hitchcock, era um dos poucos diretores capazes de entusiasmar público e crítica ao mesmo tempo. Um dos primeiros estrangeiros respeitados em Hollywood, realizou em torno de 70 filmes.
Georg Wilhelm Pabst (1885-1967)
Cineasta controverso por ter continuado a trabalhar na Alemanha durante o nazismo, G.W. Pabst foi importante para o cinema da República de Weimar. Além de "Segredos de uma Alma", sobre obsessão e fobia, realizado com apoio de psicanalistas, adaptou "A ópera dos três vinténs", de Bertolt Brecht. O filme resultou em um processo movido por Brecht, avesso a ver sua obra "transformada em mercadoria".
Foto: picture-alliance /
Walter Ruttmann (1887-1941)
Diretor do clássico "Sinfonia de uma metrópole", filme de 1927 tem Berlim como protagonista (em 2002, foi rodado um remake dirigido por Thomas Schadt). O filme, que documenta o cotidiano da cidade durante um dia, é considerado obra pioneira do documentário – gênero ainda não categorizado como tal nos anos 1920. Ruttmann concentrava-se em apresentar, de maneira abstrata, o movimento na tela.
Foto: picture-alliance/akg-images
Robert Wiene (1873-1938)
É o diretor de "O gabinete do Doutor Caligari" (1920), obra prima do expressionismo alemão e um dos primeiros filmes produzidos em estúdio. Construído como um delírio projetado na tela, o longa-metragem questiona o conceito de "normal", tendo se tornado obra obrigatória para qualquer cinéfilo. Suas imagens distorcidas e o uso da luz expõem os efeitos do autoritarismo e da tirania entre as massas.
Foto: picture-alliance
Leni Riefenstahl (1902-2003)
A mais controversa entre as cineastas alemãs foi a diretora predileta de Hitler e colocou sua produção a serviço do nazismo. Diretora de sete filmes, passou anos no ostracismo até ser "redescoberta" por especialistas que dissociam seus filmes do contexto político para analisá-los apenas como expressões estéticas – postura vista como inviável por outras correntes de pensamento.
Foto: Presse
Max Ophüls (1902-1957)
O franco-alemão Max Ophüls começou sua carreira na década de 1920. Mais tarde, mudou-se para Hollywood, onde fez quatro filmes antes de retornar à Alemanha. Hoje, dá nome a uma das principais premiações de cinema do país. Nascido no Sarre, chamava-se de fato Max Oppenheimer. O belo "Carta de uma desconhecida" foi seu filme mais elogiado, admirado entre outros pelo cineasta americano Joseph Losey.
Foto: imago/United Archives
Billy Wilder (1906-2002)
Nascido na Polônia, cresceu Viena e mudou-se em 1929 para Berlim, de onde fugiu em 1933, com a ascensão do nazismo, devido à origem judaica. Vários de seus parentes, inclusive sua mãe, foram assassinados em Auschwitz. Cineasta alemão mais premiado em Hollywood, recebeu seis Oscars e foi indicado 21 vezes para o prêmio. Entre seus filmes estão "O pecado mora ao lado" e "Quanto mais quente melhor".