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Há 50 anos, Concílio Vaticano buscou atualizar Igreja Católica

11 de outubro de 2012

O Concílio Vaticano Segundo, entre 1962 e 1965, foi um esforço de atualização empreendido pela Igreja Católica: também por isso o encontro atraiu a atenção de todo o mundo e é até hoje motivo de discussão.

Foto: picture-alliance/dpa

O Concílio Vaticano Segundo, que começou há 50 anos, no dia 11 de outubro de 1962, tornou-se um acontecimento de importância internacional. O evento reuniu 2.800 bispos católicos e mais de 100 observadores não católicos oriundos de cinco continentes e de sistemas sociais e políticos totalmente distintos. Foi o primeiro grande encontro da Igreja Católica na era da mídia moderna e da mobilidade, o que colaborou para chamar a atenção para o evento.

Mas o interesse despertado pelo encontro se deveu sobretudo aos anúncios e expectativas em torno dele. Pois quando o papa João 23, que não tinha completado quatro meses no cargo, anunciou a realização do concílio, no dia 25 de janeiro de 1959, a surpresa foi geral – para além das fronteiras da Igreja Católica. A proposta era reunir todos os bispos da Igreja Católica do mundo para um debate em torno da fé nos tempos modernos, visando uma eventual aprovação de mudanças.

Papa João 23Foto: dpa

Antes do início do encontro, João 23 já havia alertado que não queria uma simples repetição de velhos ensinamentos. E foi nesse espírito que, entre os dias 11 de outubro de 1962 e 8 de dezembro de 1965, os participantes do Concílio debateram, em quatro sessões, uma série de temas que haviam se acumulado no decorrer das décadas. O último encontro do gênero – o Concílio Vaticano Primeiro, em 1870 – havia ocorrido 92 anos antes.

Atualização da Igreja

Com um resultado final de 16 documentos, o concílio tentou se reaproximar de questões da atualidade e iniciou amplas reformas na Igreja. As primeiras palavras do documento Gaudium et Spes sobre a Igreja no mundo nos dias de hoje exemplificam o estilo de linguagem que na época impressionou muita gente: "As alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos discípulos de Cristo; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração."

Joseph Ratzinger (e), hoje Bento 16, no Concílio do VaticanoFoto: dpa

Durante as consultas do concílio aconteceram debates controversos, em grupos maiores ou menores, com discussões muitas vezes acaloradas – algo que não pode ser visto negativamente em se tratando de um encontro cujo objetivo é o diálogo.

Concílio do Vaticano em 1963Foto: dpa

Entre os mais importantes defensores da forças reformistas estavam alguns alemães, além de outros representates do norte da Europa. Entre eles contam o cardinal Josef Frings (1887-1978), de Colônia, e o então jovem teólogo Joseph Ratzinger (hoje com 85 anos) e Hans Küng (hoje com 84 anos), cujos caminhos iriam, contudo, divergir drasticamente a seguir. Enquanto Ratzinger é desde 2005 o papa Bento 16, Küng é há décadas o mais conhecido crítico dos rumos tomados por Roma.

O cardeal alemão Walter Kasper, que tinha 29 anos à época, avalia hoje que o clima no início do concílio era de "realização de um desejo". Para ele, o concílio reforçou a Igreja como força carismática e não a viu primeiramente como instituição. Kasper diz que gostaria de ver um retorno a esse clima inicial e à dimensão espiritual da Igreja.

Discussões até hoje

A declaração ecoa uma desilusão com as duas correntes opostas que se formaram na Igreja no decorrer dos últimos 50 anos: o fortalecimento da Curia Romana, de um lado, e o desejo de reformas por parte das bases da Igreja, do outro.

Basílica de São Pedro em RomaFoto: picture-alliance/dpa

No fim das contas, a Igreja Católica debate até hoje a correta interpretação dos conceitos de continuidade e mudança, suscitados pelo Concílio Vaticano Segundo. No seu cerne teológico, ela é, portanto, a mesma de antes do Concílio. Não se trata de uma nova Igreja, mas de uma Igreja renovada no rastro da tradição.

As discussões em torno das orientações do concílio e da Igreja pós-concílio ainda marcam a Igreja Católica. Os rumos defendidos pelo grupo relativamente pequeno em torno do cardeal francês Marcel Lefebvre (1905-1991) – que durante o encontro foi um dos críticos mais ferrenhos das reformas – colocam as lideranças católicas até hoje diante de problemas.

Durante o concílio, a força dos opositores das reformas manteve-se relativamente baixa. Os participantes aprovaram – muitas vezes após debates calorosos – todos os documentos por ampla maioria. Como por exemplo a participação dos fiéis na liturgia em língua materna, a ênfase na liberdade religiosa do Estado, o fortalecimento do corpo de bispos frente ao Papa, a rejeição ao antijudaísmo e a defesa do respeito ao judaísmo.

Autor: Christoph Strack (sv)
Revisão: Alexandre Schossler

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