Há 60 anos, era concluído o "Dicionário Alemão" dos Grimm
Sven Töniges
4 de janeiro de 2021
Em 4 de janeiro de 1961, era publicado o último volume do "Deutsches Wörterbuch", iniciado por Jacob e Wilhelm Grimm em 1838. A obra, superlativo em vários campos, unificou o idioma alemão.
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Extremamente pesado e composto por 32 volumes: o Dicionário Alemão (Deutsches Wörterbuch) dos irmãos Grimm é uma obra de superlativos. Os pesquisadores etnográficos Jacob e Wilhelm Grimm categorizaram a letra "A" como "o mais nobre e o mais original de todos os sons". O importante dicionário diacrônico (desenvolvimento de uma língua ao longo do tempo) iniciado pelos irmãos Grimm é considerado o mais abrangente da língua alemã.
A sequência de letras "AA", além de um nome de rio bastante corriqueiro na Alemanha, também tem a explicação de que, na linguagem infantil, "aa machen" significa "fazer cocô".
Esse foi o prelúdio linguístico para um projeto megalomaníaco que os irmãos Grimm iniciaram em Kassel em 1838. Eles queriam registrar a origem e o uso de cada palavra alemã, na verdade, todo o novo alto-alemão, de Lutero a Goethe, "em todos os detalhes". Um plano ambicioso e uma obra secular.
Como tudo começou
O projeto foi iniciado num momento em que os dois professores de linguística dispunham de muito tempo, pois haviam sido demitidos da Universidade de Göttingen, após protestarem contra a suspensão da constituição local pelo novo rei de Hanover.
Enquanto Jacob e Wilhelm Grimm estavam desempregados, o editor Salomon Hirzel, de Leipzig, os encorajou a "compilar um novo e grande dicionário da língua alemã". Hirzel se ofereceu para publicar o projeto. Em 1838, os irmãos começaram a trabalhar no Dicionário Alemão. Uma tarefa gigantesca que eles não conseguiram completar.
O projeto também tinha uma dimensão política, de busca de unidade nacional. O objetivo era unir a Alemanha, na época fragmentada em pequenos reinos. A "diversidade de dialetos" deve ser preservada, disse Wilhelm Grimm: "A linguagem escrita é a coisa comum que conecta todas as tribos". O empreendimento ganhou força e acabou envolvendo mais de 80 funcionários que, junto com os Grimm, logo reuniram meio milhão de documentos históricos linguísticos.
Em um encontro de linguistas em 1846, Wilhelm Grimm pediu paciência a seus colegas. O dicionário, que os irmãos pretendiam terminar em dez anos, ainda não estava pronto: "Uma obra deste tipo requer um longo e árduo trabalho preparatório, cuja conclusão não pode ser forçada."
O primeiro volume só seria publicado em 1854. Cinco anos depois, morria Wilhelm Grimm, responsável pela letra "D". Jacob conseguiu terminar A, B, C e E. Quando morreu, em 1863, ele estava na palavra "Frucht" (fruto).
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Prosseguimento durante a Guerra Fria
A obra seria concluída 107 anos após a publicação do primeiro volume. Gerações de filologistas assumiram o gigantesco projeto após a morte dos irmãos Grimm. A partir do governo de Otto von Bismarck, em 1862, a Academia Prussiana de Ciências cuidou da implementação do dicionário. A tarefa prosseguiu mesmo durante a Guerra Fria, tanto na Alemanha Oriental quanto na Ocidental. Finalmente, em 4 de janeiro de 1961, era publicado o último volume, com a última entrada para a letra "Z", "Zypressenzweig" (ramo de cipreste).
Nesta época, os verbetes originais reunidos pelos Grimm no século 19 já estavam tão desatualizadas que estavam sendo completamente revisados. Este trabalho só seria concluído em 2016. Após 178 anos, era colocado o ponto final no Dicionário Alemão de Jacob e Wilhelm Grimm.
Hoje, a obra, que em forma analógica pesa 84 quilos, está disponível na versão digital. Trata-se de uma obra monumental sobre o idioma alemão, que consta inclusive no Guinness.Os 32 volumes do dicionário reúnem 350 mil verbetes em 70 mil colunas, com a indicação de mais de 25 mil fontes. O Dicionário Alemão documenta a história da língua alemã desde o alto-alemão antigo do século 8º até o estágio linguístico do século 20.
Palavras alemãs no cotidiano brasileiro
O idioma alemão está mais presente no nosso dia a dia do que se imagina. Além de termos como blitz, kitsch ou diesel, outras palavras, como encrenca, chique e até mesmo o nome da Torre Eiffel, têm origem germânica.
Foto: Picture-alliance/dpa/M. Becker
Química e guerra
Boa parte das palavras alemãs presentes no nosso cotidiano está ligada ao setor militar ou a elementos químicos, fato explicado pela autoridade que a Alemanha, durante muito tempo, exerceu nessas áreas. O que nem todos sabem é que na língua portuguesa, como também em outros idiomas, palavras que nada têm a ver com química ou guerra e que não soam alemãs também têm origem germânica.
Foto: Colourbox
Torre Eiffel
A família de Alexandre Gustave Eiffel, engenheiro que deu nome à celebre construção parisiense, veio de uma área montanhosa no oeste alemão chamada Eifel. Na verdade, seu sobrenome era Bönickhausen, algo impronunciável para muitos franceses. A família adicionou, então, o nome da região de origem e passou a se chamar Bönickhausen Eiffel. E o engenheiro entrou para a história com o novo sobrenome.
Foto: picture-alliance/epa/J. Rodriguez
O que é isto?
Numa competição de migração de palavras organizada pelo Conselho da Língua Alemã (Deutscher Sprachrat), pessoas de 70 países sugeriram termos germânicos que "viajaram" para outros idiomas. Das seis mil palavras apresentadas, a mais recorrente foi "vasistas", termo francês para janela basculante ou claraboia. A palavra vem do alemão "was ist das?" – literalmente, "o que é isto?".
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Encrenca
Nem todos sabem que a palavra "encrenca" tem origem alemã. Quando achavam que um cliente tinha uma doença venérea, as prostitutas que chegaram ao Brasil no final do século 19 e que falavam iídiche, um dialeto alemão da Europa Central, falavam "ein krenke" ("krank" significa doente em alemão). Assim nascia o termo "encrenca", usado hoje no português do Brasil para designar uma situação difícil.
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Níquel e cobalto
Níquel e Cobalto, do alemão Nickel e Kobalt, eram gnomos que habitavam, na crença dos mineiros da Idade Média, as montanhas alemãs. Os trabalhadores medievais acreditavam que espíritos maus ("Kobold" em alemão) eram responsáveis pela presença de níquel e cobalto, considerados impurezas, na prata, no ferro e no cobre.
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Chope não é cerveja
O chope de cada dia não tem a ver, na sua etimologia, com a palavra cerveja. Trata-se de uma unidade de medida originada do alemão "Schoppen", equivalente a cerca de meio litro. O termo foi integrado ao português através do francês, depois que a corte portuguesa, fugindo de Napoleão, chegou ao Rio de Janeiro, no início do século 19.
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Schick, chic e chique
Já a palavra chique, considerada por muitos um patrimônio da língua francesa, é na verdade um termo alemão que chegou ao português através do francês. Muito antes de os costureiros franceses arrasarem nas passarelas, os alemães usavam expressões como "schicklich" ou "sich schickt" para designar apropriado ou bem arrumado. No alemão medieval, a palavra "schick" significa forma, costume.
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Fanta
Devido à escassez de matéria-prima, a Coca-Cola da Alemanha foi impedida de produzir seu principal produto durante a Segunda Guerra. Para garantir a própria subsistência, a companhia desenvolveu um novo refrigerante, que na época era feito à base de soro de leite. Um concurso entre os empregados da empresa resultou no nome "Fanta", pois a nova bebida era fantástica – em alemão, "fantastisch".
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Bulevar
Quando Luís 14 derrubou as muralhas de Paris, que se tornaram obsoletas para fins de defesa, mandou fazer um anel viário ou bulevar ao redor da cidade. A origem do nome dos antigos baluartes vem do alemão "Bollwerk" – literalmente, paliçada, barreira. "Boulevard" era a forma como os franceses pronunciavam "Bollwerk", termo que acabou dando nome às largas avenidas que substituíram as fortificações.
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Blitz, hamster e kombi
Há muitas outras palavras de origem alemã, como blitz, de "Blitz" (raio); Kombi, de "Kombinationsfahrzeug" (veículo combinado) ou hamster, de "hamstern" (juntar), devido às bochechas dos roedores que acumulam alimentos. Já o termo gás, que muitos creem ser de origem germânica, vem do holandês. A palavra foi cunhada pelo químico flamengo Jan Baptista van Helmont, a partir do termo grego "caos".