Apenas dez anos após o fim da guerra iniciada pela Alemanha, o país tinha de novo um Exército. Oposição e grande parte da população, ainda traumatizada, eram contra, mas o pensamento estratégico de Adenauer se impôs.
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Alemanha após a Segunda Guerra Mundial: a Wehrmacht, como eram chamadas as Forças Armadas, havia sido dissolvida. O país fora ocupado e desmilitarizado. Nunca mais uma guerra deveria ser provocada a partir de solo alemão. Homens alemães armados – naquele momento, algo inimaginável.
Mas a situação política mundial mudaria rapidamente: logo após o fim da guerra, a aliança formada contra Hitler se desintegrou. As tensões entre a União Soviética e os aliados ocidentais Estados Unidos, Reino Unido e França aumentaram. A Alemanha se encontrava numa posição geográfica estratégica, no meio do confronto entre os blocos.
Como resultado dessa situação, dois Estados alemães foram criados em 1949 – em maio, a República Federal da Alemanha; em outubro, a República Democrática Alemã.
O medo de um ataque da Rússia
Quando a Guerra da Coreia eclodiu, em 1950, os aliados ocidentais abriram mão de sua política de desmilitarização da Alemanha. Febrilmente, eles se preparavam para um possível ataque da União Soviética. O então chanceler federal Konrad Adenauer exigiu garantias de segurança dos aliados ocidentais e um reforço das tropas de ocupação. Em contrapartida, os aliados exigiram a colaboração da própria Alemanha. Assim foi aberto o debate sobre o rearmamento (Wiederbewaffnung, como ficou conhecido).
No entanto, ainda não se falava na possibilidade de Forças Armadas alemãs, mas de tropas europeias com um pequeno contingente alemão. Esse modelo deveria prover segurança com a Alemanha, mas também segurança diante da Alemanha.
Em novembro de 1950, o Bundestag, câmara baixa do Parlamento alemão, debateu pela primeira vez sobre o rearmamento – durante todo um dia. Em sua declaração de governo, Adenauer defendeu o plano de posicionar soldados do país como parte de um Exército da Europa. O chanceler democrata-cristão via o mundo ocidental e principalmente a República Federal da Alemanha "verdadeiramente em grande perigo" e apresentou cenários amedrontadores. "Todos estavam com medo de que os russos também viessem até nós", descreveu uma testemunha da época o clima no país.
"Guerra nunca mais!"
Os sociais-democratas estremeciam com a ideia de ver soldados alemães marchando novamente. Eles acusavam Adenauer de usar o "medo perante o Leste" como instrumento de propaganda para a militarização. De acordo com os adversários políticos de Adenauer, o verdadeiro perigo para a República Federal da Alemanha era o rearmamento. Além disso, os oposicionistas argumentavam que ele cimentaria a divisão do país.
A grande maioria da população também reagiu com horror aos planos de Adenauer. Sob o lema "Sem mim!", cidadãos revoltados protestavam contra o rearmamento, inclusive muitos inválidos de guerra, com muletas ou pernas de madeira. Em 1950, por volta de três quartos da população da então Alemanha Ocidental eram contra a Wiederbewaffnung.
Adenauer assegurou aos críticos que faria de tudo para evitar, em qualquer circunstância, a volta do "pensamento militarista". Para ele, um político renano e católico que não tinha nenhuma afinidade pessoal com os militares, os objetivos estratégicos estavam em primeiro plano. Em seu ponto de vista, a contribuição alemã para a defesa era um meio de reintroduzir a República Federal da Alemanha na comunidade de Estados ocidentais. Dessa forma, ele pôde recuperar parte da soberania e da liberdade de ação diplomática do país.
Novo Exército
No final, Adenauer conseguiu se impor. Em fevereiro de 1952, o Bundestag aprovou a presença alemã num Exército europeu. Mas esse Exército da Europa nasceu morto – o Parlamento francês votou contra. Somente com os Tratados de Paris foi possível a fundação de um Exército alemão. Em 1955, a República Federal da Alemanha foi aceita na União da Europa Ocidental e na Otan, podendo estabelecer as suas próprias Forças Armadas. Ao mesmo tempo, foi revogado o estado de ocupação.
Em julho de 1955, o Bundestag aprovou uma lei que previa a formação de um Exército com 6 mil voluntários. Em 12 de novembro de 1955, o primeiro ministro da Defesa da República Federal da Alemanha, o político democrata-cristão Theodor Blank, entregou os diplomas de nomeação aos primeiros 101 voluntários no quartel de Ermekeil, em Bonn. Era o 200° aniversário de Gerhard Scharnhorst, general prussiano e reformador do Exército. Assim ficava claro que a que tradições militares a Bundeswehr, inicialmente denominada de "nova Wehrmacht", pretendia se filiar.
Nazistas entre o pessoal
A Bundeswehr, no entanto, não dispensou antigos oficiais da Wehrmacht: por volta de 1960, mais de 12 mil antigos oficiais da Wehrmacht e 300 do esquadrão nazista SS estavam a serviço das Forças Armadas da República Federal da Alemanha. Ainda levaria muito tempo para que a Bundeswehr pudesse se livrar desse legado.
Para evitar que a Bundeswehr se tornasse um Estado dentro de um Estado, ela foi estritamente acoplada aos mecanismos de controle da democracia parlamentar. A sua tarefa era meramente defensiva: a defesa da Alemanha em caso de um ataque. O número máximo de soldados foi fixado em 500 mil, que estavam sob o comando da Otan.
No entanto, isso não mudou nada no fato de não somente a oposição formada pelo Partido Social-Democrata, mas também uma grande parte da população alemã considerar errônea a decisão em favor do rearmamento, há 60 anos.
Cronologia da Segunda Guerra Mundial
Em 1° de setembro de 1939, as Forças Armadas alemãs atacaram a Polônia, sob ordens de Hitler. A guerra que então começava duraria até 8 de maio de 1945, deixando um saldo até hoje sem paralelo de morte e destruição.
Foto: U.S. Army Air Forces/AP/picture alliance
1939
No dia 1° de setembro de 1939, as Forças Armadas alemãs atacaram a Polônia sob ordens de Adolf Hitler – supostamente em represália a atentados poloneses, embora isso tenha sido uma mentira de guerra. No dia 3 de setembro, França e Reino Unido, que eram aliadas da Polônia, declararam guerra à Alemanha, mas não intervieram logo no conflito.
1939
A Polônia mal pôde oferecer resistência às bem equipadas tropas alemãs – em cinco semanas, os soldados poloneses foram derrotados. No dia 17 de setembro, o Exército Vermelho ocupou o leste da Polônia – em conformidade com um acordo secreto fechado entre o Império Alemão e a União Soviética apenas uma semana antes da invasão.
Foto: AP
1940
Em abril de 1940, a Alemanha invadiu a Dinamarca e usou o país como base até a Noruega. De lá vinham as matérias-primas vitais para a indústria bélica alemã. No intuito de interromper o fornecimento desses produtos, o Reino Unido enviou soldados ao território norueguês. Porém, em junho, os aliados capitularam na Noruega. Nesse meio tempo, a Campanha Ocidental já havia começado.
1940
Durante oito meses, soldados alemães e franceses se enfrentaram no oeste, protegidos por trincheiras. Até que, em 10 de maio, a Alemanha atacou Holanda, Luxemburgo e Bélgica, que estavam neutros. Esses territórios foram ocupados em poucos dias e, assim, os alemães contornaram a defesa francesa.
Foto: picture alliance/akg-images
1940
Os alemães pegaram as tropas francesas de surpresa e avançaram rapidamente até Paris, que foi ocupada em meados de junho. No dia 22, a França se rendeu e foi dividida: uma parte ocupada pela Alemanha de Hitler e a outra, a "França de Vichy", administrada por um governo fantoche de influência nazista e sob a liderança do general Pétain.
Foto: ullstein bild/SZ Photo
1940
Hitler decide voltar suas ambições para o Reino Unido. Seus bombardeios transformaram cidades como Coventry em cinzas e ruínas. Ao mesmo tempo, aviões de caça travavam uma batalha aérea sobre o Canal da Mancha, entre o norte da França e o sul da Inglaterra. Os britânicos venceram e, na primavera europeia de 1941, a ofensiva alemã estava consideravelmente enfraquecida.
Foto: Getty Images
1941
Após a derrota na "Batalha aérea pela Inglaterra", Hitler se voltou para o sul e posteriormente para o leste. Ele mandou invadir o norte da África, os Bálcãs e a União Soviética. Enquanto isso, outros Estados entravam na liga das Potências do Eixo, formada por Alemanha, Itália e Japão.
1941
Na primavera europeia, depois de ter abandonado novamente o Pacto Tripartite, Hitler mandou invadir a Iugoslávia. Nem a Grécia, onde unidades inglesas estavam estacionadas, foi poupada pelas Forças Armadas alemãs. Até então, uma das maiores operações aeroterrestres tinha sido o ataque de paraquedistas alemães a Creta em maio de 1941.
Foto: picture-alliance/akg-images
1941
O ataque dos alemães à União Soviética no dia 22 de junho de 1941 ficou conhecido como Operação Barbarossa. Nas palavras da propaganda alemã, o objetivo da campanha de invasão da União Soviética era uma "ampliação do espaço vital no Oriente". Na verdade, tratava-se de uma campanha de extermínio, na qual os soldados alemães cometeram uma série de crimes de guerra.
Foto: Getty Images
1942
No começo, o Exército Vermelho apresentou pouca resistência. Aos poucos, no entanto, o avanço das tropas alemãs chegou a um impasse na Rússia. Fortes perdas e rotas inseguras de abastecimento enfraqueceram o ataque alemão. Hitler dominava quase toda a Europa, parte do norte da África e da União Soviética. Mas no ano de 1942 houve uma virada.
1942
A Itália havia entrado na guerra em junho de 1940, como aliada da Alemanha, e atacado tropas britânicas no norte da África. Na primavera de 1941, Hitler enviou o Afrikakorps como reforço. Por muito tempo, os britânicos recuaram – até a segunda Batalha de El Alamein, no outono de 1942. Ali a situação mudou, e os alemães bateram em retirada. O Afrikakorps se rendeu no dia 13 de maio de 1943.
Foto: Getty Images
1942
Atrás do fronte leste, o regime de Hitler construiu campos de extermínio, como Auschwitz-Birkenau. Mais de seis milhões de pessoas foram vítimas do fanatismo racial dos nazistas. Elas foram fuziladas, mortas com gás, morreram de fome ou de doenças. Milhares de soldados alemães e da SS estiveram envolvidos nestes crimes contra a humanidade.
Foto: Yad Vashem Photo Archives
1943
Já em seu quarto ano, a guerra sofreu uma virada. No leste, o Exército Vermelho partiu para o contra-ataque. Vindos do sul, os aliados desembarcaram na Itália. A Alemanha e seus parceiros do Eixo começaram a perder terreno.
1943
Stalingrado virou o símbolo da virada. Desde julho de 1942, o Sexto Exército alemão tentava capturar a cidade russa. Em fevereiro, quando os comandantes desistiram da luta inútil, cerca de 700 mil pessoas já haviam morrido nesta única batalha – na maioria soldados do Exército Vermelho. Essa derrota abalou a moral de muitos alemães.
Foto: picture-alliance/dpa
1943
Após a rendição das tropas alemãs e italianas na África, o caminho ficou livre para que os Aliados lutassem contra as potências do Eixo no continente europeu. No dia 10 de julho, aconteceu o desembarque na Sicília. No grupo dos Aliados estavam também os Estados Unidos, a quem Hitler havia declarado guerra em 1941.
Foto: picture alliance/akg
1943
Em setembro, os Aliados desembarcaram na Península Itálica. O governo em Roma acertou um armistício com os Aliados, o que levou Hitler a ocupar a Itália. Enquanto os Aliados travavam uma lenta batalha no sul, as tropas de Hitler espalhavam medo pelo resto do país.
No leste, o Exército Vermelho expulsou os invasores cada vez mais para longe da Alemanha. Iugoslávia, Romênia, Bulgária, Polônia... uma nação após a outra caía nas mãos dos soviéticos. Os Aliados ocidentais intensificaram a ofensiva e desembarcaram na França, primeiramente no norte e logo em seguida no sul.
1944
Nas primeiras horas da manhã do dia 6 de junho, as tropas de Estados Unidos,Reino Unido, Canadá e outros países desembarcaram nas praias da Normandia, no norte da França. A liderança militar alemã tinha previsto que haveria um desembarque – mas um pouco mais a leste. Os Aliados ocidentais puderam expandir a penetração nas fileiras inimigas e forçar a rendição de Hitler a partir do oeste.
Foto: Getty Images
1944
No dia 15 de agosto, os Aliados deram início a mais um contra-ataque no sul da França e desembarcaram na Provença. As tropas no norte e no sul avançaram rapidamente e, no dia 25 de agosto, Paris foi libertada da ocupação alemã. No final de outubro, Aachen se tornou a primeira grande cidade alemã a ser ocupada pelos Aliados.
Foto: Getty Images
1944
No inverno europeu de 1944/45, as Forças Armadas alemãs reuniram suas tropas no oeste e passaram para a contra-ofensiva em Ardenne. Mas, após contratempos no oeste, os Aliados puderam vencer a resistência e avançar inexoravelmente até o "Grande Império Alemão" – a partir do leste e do oeste.
Foto: imago/United Archives
1945
No dia 8 de maio de 1945, os nazistas se renderam incondicionalmente. Para escapar da captura, Hitler se suicidou com um tiro no dia 30 de abril. Após seis anos de guerra, grande parte da Europa estava sob entulhos. Quase 50 milhões de pessoas morreram no continente durante a Segunda Guerra Mundial. Em maio de 1945, o marechal de campo Wilhelm Keitel assinava a ratificação da rendição em Berlim.