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Há 70 anos terminava o bloqueio de Leningrado pelos alemães

Marie Todeskino (ca)27 de janeiro de 2014

Em entrevista, historiador Jörg Ganzenmüller fala sobre bloqueio à atual São Petersburgo como parte da guerra de extermínio de Hitler e sobre os crimes da Wehrmacht.

Foto: imago/ITAR-TASS

Durante quase 900 dias os moradores de Leningrado, a atual São Petersburgo, na Rússia, ficaram sitiados pelas Forças Armadas de Hitler, a Wehrmacht. Foram quase 900 dias de fome e frio. No dia 8 de setembro de 1941, os alemães fecharam o cerco em torno de Leningrado. Mas Hitler não pretendia conquistar a segunda maior cidade da Rússia. Ele queria fazer com que as pessoas em Leningrado morressem sistematicamente de fome.

Em seguida, teve início a luta pela sobrevivência numa cidade sitiada. Logo os moradores começaram a comer tudo o que podiam. Eles cozinhavam couro, raspavam a cola do papel de parede, caçavam gatos e ratos. A situação se tornou tão extrema que houve casos de canibalismo. Por volta de 1 milhão de pessoas passaram fome e congelaram até morrer.

Somente em 27 de janeiro de 1944, há exatos 70 anos, o Exército Vermelho conseguiu finalmente libertar a cidade sitiada. Jörg Ganzenmüller, professor de história europeia na Universidade de Jena, pesquisou intensamente a história do bloqueio. Ele escreveu artigos e um livro sobre o cerco de Leningrado. Em entrevista à Deutsche Welle, o historiador falou sobre a importância da tragédia na memória cultura da Alemanha e da Rússia e sobre o sofrimento da população civil.

Deutsche Welle: Por que Hitler queria destruir justamente Leningrado?

Jörg Ganzenmüller escreveu sobre bloqueio de LeningradoFoto: privat

Jörg Ganzenmüller: De modo geral, ele estava interessado na destruição das cidades soviéticas, especialmente no norte e na região central da Rússia. Muitas vezes, ele mencionava Leningrado e Moscou na mesma frase.

Em seu livro, você descreve o bloqueio como parte da política alemã de extermínio. Qual era o objetivo?

Durante a campanha militar alemã na Rússia, Leningrado se tornou um campo de batalha à parte. Para o lado alemão, a cidade era importante especialmente sob o aspecto do abastecimento de comida. Durante a campanha militar na Rússia, pretendia-se abastecer toda a Wehrmacht com alimentos do próprio país. De antemão, calculou-se que isso só seria possível se a população soviética passasse fome. Nesse contexto, a população das grandes cidades já havia sido considerada como aquela que não podia ser alimentada. Quando a Wehrmacht, em meados de 1941, passou a ter problemas de reposição e abastecimento, dizia-se que não se podia alimentar uma cidade de 3 milhões de habitantes.

Como as pessoas vivenciaram o fim do bloqueio de Leningrado?

O bloqueio foi levantado em duas etapas. No início de 1943, o Exército Vermelho conseguiu estabelecer um corredor de abastecimento até a cidade sitiada. Assim, os moradores da Leningrado puderam se alimentar bem melhor do que antes. Mas o fim definitivo do bloqueio, em 27 de janeiro de 1944, foi saudado com uma salva de tiros.

Certamente as pessoas estavam fracas demais para sair dançando nas ruas, mas foi grande o alívio na cidade. A importância desse dia também se reflete no fato de ele continuar vivo, até hoje, na memória cultural, sendo motivo de grande celebração anual em São Petersburgo.

Na Alemanha, no entanto, a memória do bloqueio de Leningrado não tem quase nenhuma importância. Por que isso?

Na Alemanha, durante muito tempo foram lembrados os locais da guerra teuto-soviética em que houve muitas vítimas alemãs. Por isso o cerco a Stalingrado (hoje Volgogrado) é consagrado como mito e "sacrifício alemão" na memória do país. Os crimes da Wehrmacht quase não foram lembrados até a década de 1980. O bloqueio de Leningrado era visto como um instrumento convencional de guerra. Com isso foi completamente negligenciado o fato de que Leningrado não deveria ser conquistada, mas esmagada pela fome.

Como o tema é tratado hoje em dia?

Em primeiro lugar, após a reunificação alemã, as imagens ocidental e oriental do bloqueio foram se unificando. Na Alemanha Oriental, a lembrança de Leningrado era muito mais presente do que na Alemanha Ocidental. O bloqueio, por exemplo, era mencionado em livros didáticos. A segunda exposição sobre a Wehrmacht [mostra que, entre 2001 e 2004, percorreu a Alemanha], em que Leningrado teve um papel de destaque, também foi importante.

Nessa exposição, a estratégia alemã do cerco foi incluída no contexto da política de extermínio. Hoje o bloqueio é muito mais presente na mídia. Em 2001, por exemplo, o então chanceler federal Gerhard Schröder e o presidente russo Vladimir Putin depositaram, juntos, uma coroa de flores no memorial do cerco em São Petersburgo.

Até que ponto Leningrado é um exemplo de crime de guerra da Wehrmacht?

A política alemã de inanição foi abrangentemente implementada em dois lugares: em Leningrado e no tratamento de prisioneiros de guerra soviéticos. Esses são crimes que aconteceram sob o comando da Wehrmacht. Dessa forma, trata-se de exemplos claros de crimes da Wehrmacht e não, por exemplo, de outras organizações como a SS [organização paramilitar do partido nazista].

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