Por que as anotações pessoais de uma menina judia assassinada no Holocausto interessam ainda hoje jovens de todo o mundo, num momento em que cresce o interesse histórico pela era nazista.
Diário de Anne Frank foi escrito entre 1942 e 1944 Foto: Insa Kohler/dpa/picture alliance
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Tudo começou de forma modesta: quando Otto Frank publicou o diário de sua filha Anne em 25 de junho de 1947, HetAchterhuis ("O quarto anexo", em holandês) inicialmente teve uma tiragem de apenas 3.036. A primeira edição em alemão surgiu em 1950, com modestos 4.600 exemplares.
Isso mudou com uma edição barata em brochura em alemão e uma peça sobre o livro estreada em 1956, seguida por um filme de Hollywood três anos depois: a circulação total disparou para 700 mil exemplares. Até hoje, O diário de Anne Frank foi vendido milhões de vezes e está disponível em 70 idiomas, o que o torna um dos livros mais traduzidos do mundo.
Linguagem e preocupações dos jovens
Em seu diário, a menina judia Anne Frank descreve o tempo em que ela e a família se escondiam dos nazistas na Amsterdã ocupada pelos alemães.
Até hoje a obra aproxima crianças e jovens de todo o mundo dos horrores do Holocausto. Veronika Nahm, diretora do Centro Anne Frank, em Berlim, disse em entrevista à DW: "Anne Frank escreve sobre coisas que são relevantes para os jovens nessa fase da vida: família, apaixonar-se, brigas com a mãe. Mas também quem determina quem eu sou, o que eu quero ser quando crescer, como será o mundo no futuro?"
O Centro Anne Frank usa o diário para dar aos jovens "uma introdução aos tópicos do Holocausto e do nazismo", segundo Nahm. A vida da família e dos amigos de Anne Frank também desempenha um papel importante: o pai, Otto Frank, por exemplo, testemunhou a queima de livros em Frankfurt, os tios de Anne foram presos durante pogroms, sua melhor amiga, Hannah Pick-Goslar, sobreviveu ao campo de concentração de Bergen-Belsen e testemunha o Holocausto até hoje.
Inspiração para projetos com jovens hoje
Um estudo de 2022 confirmou que os jovens da Alemanha estão mais preocupados com a era nazista e o Holocausto do que a geração de seus pais. Nahm também observou isso: "Podemos ver que os jovens estão muito interessados no Holocausto e na história do nacional-socialismo." O número de visitantes da exposição no Centro Anne Frank também atestaria isso. "Não fosse a pandemia, teríamos números crescentes a cada ano."
Mas as questões estão se tornando mais diversas no século 21: por exemplo, jovens da Turquia e da Alemanha estão atualmente trabalhando num projeto sobre judeus turcos em Berlim durante a era nacional-socialista, e os jovens também se ocupam das voluntária e voluntários do Norte da África que defenderam seus concidadãos judeus.
O ponto de partida para todos esses projetos é o diário de uma menina judia, que queria transformá-lo em romance depois da guerra. Anne Frank sonhava em se tornar escritora e jornalista. Nunca chegou a isso: em 1944, o esconderijo em Amsterdã foi denunciado à Gestapo e a família foi deportada. Anne Frank morreu no campo de concentração de Bergen-Belsen em 1945.
Quem foi Anne Frank?
Jovem alemã escondeu-se na Holanda durante 25 meses, até que a família foi descoberta e deportada para Auschwitz. Graças ao diário que escreveu, Anne Frank ainda é conhecida mundo afora, 90 anos após seu nascimento.
Foto: picture-alliance/dpa
Fugindo dos nazistas
Em 1933, Anne Frank e a família fugiram da Alemanha para Holanda. Para escapar dos nazistas, eles tiveram de se esconder durante a Segunda Guerra Mundial. Viveram dois anos nos fundos de uma casa em Amsterdã. Mas alguém denunciou o esconderijo, e, em 4 de agosto de 1944, a família foi descoberta, presa e deportada para o campo de extermínio de Auschwitz.
Foto: Anne Frank Fonds Basel
A família
Anne (na frente, à esquerda) tinha uma irmã três anos e meio mais velha, Margot (no fundo, à direita). O pai Otto Frank tirou esta foto no aniversário de oito anos de Margot, em fevereiro de 1934, quando a família já estava na Holanda.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Escondidos em Amsterdã
Em Amsterdã, o pai de Anne assumiu a filial da empresa Opekta (foto). Quando a perseguição aos judeus começou, ele montou um esconderijo nos fundos da casa. De 1942 a 1944, os quatro membros da família viveram no local junto com outros quatro judeus. No esconderijo, Anne escreveu seu famoso diário. Desde 1960, a casa é um museu.
Foto: Getty Images
O esconderijo
No museu em Amsterdã, os visitantes podem visitar hoje uma réplica do antigo esconderijo nos fundos da casa. Por meses, Anne dividiu um quarto apertado com o dentista judeu Fritz Pfeffer, que no diário ganha o nome "Albert Dussel". À direita, vê-se a escrivaninha sobre a qual ela escrevia quase todos os dias.
Foto: DW/H. Mund
Diário como confidente
O diário tornou-se uma espécie de amiga e confidente de Anne, que ela batizou de Kitty. A vida no esconderijo era totalmente diferente da que a jovem levava antes dele. "O melhor de tudo é que ao menos posso escrever o que penso e sinto, senão, ficaria completamente sufocada", diz um trecho do diário.
Foto: picture-alliance/dpa
Morte no campo de concentração
Em 30 de outubro de 1944, Anne e a irmã Margot foram levadas de Auschwitz para Bergen-Belsen, onde mais de 70 mil pessoas morreram. Após a libertação do campo de concentração sob a supervisão de soldados britânicos, caminhões transportaram as vítimas para valas comuns. Anne, que tinha apenas 15 anos, e a irmã estavam entre os mortos, em decorrência do tifo.
Foto: picture alliance/dpa
Vida interrompida
Em Bergen-Belsen, há uma lápide com o nome de Anne, que imaginava que a própria vida correria de maneira diferente. "Não quero ter vivido em vão como a maioria das pessoas. Quero ser útil e trazer alegria para as pessoas que vivem à minha volta e não me conhecem. Quero continuar viva, mesmo depois da morte", diz um trecho do diário do dia 5 de abril de 1944.
Foto: picture-alliance/dpa
Famosa pelo diário
O sonho de Anne era ser jornalista ou escritora. Graças ao pai, seu diário foi publicado pela primeira vez em 1947, com o título "Das Hinterhaus"("A casa dos fundos"). Depois, vieram diversas edições e traduções, e Anne tornou-se símbolo das vítimas do nazismo. "Todos vivemos com o objetivo de sermos felizes. Vivemos de maneira diferente e igual ao mesmo tempo", escreveu em 6 de julho de 1944.