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Há 90 anos, Tintim vivia sua primeira aventura

Carl Holm av
10 de janeiro de 2019

O eternamente jovem repórter e seu terrier branco são uma das duplas mais famosas da literatura juvenil, e a eles a Bélgica deve a fama como país dos quadrinhos. Porém seu criador, Hergé, tinha um lado controverso.

Tintim e Milu
Tintim e seu fiel companheiro Milu Foto: picture-alliance/dpa

Exatamente há 90 anos, em 10 de janeiro de 1929, o jovem repórter Tintim e seu cão Milu apareceram pela primeira vez nas páginas do jornal católico belga Le Vingtième Siècle, mais exatamente no suplemento infantil Le Petit Vingtième. Nos primeiros episódios, ambos se aventuraram pela União Soviética de Stalin, sempre vigiados pela temida polícia secreta.

A história em quadrinhos continuou sendo publicada até maio de 1930, e em seguida foi lançada em forma de livro sob o título Tintim na terra dos soviéticos. Em termos de conteúdo, essa primeira história era sobretudo propaganda anticomunista, em embalagem emocionante para crianças e adolescentes.

O criador, Georges Remi, mais conhecido como Hergé, explorou com seus heróis os mais diversos gêneros, de histórias de detetive à ficção científica, passando pelo thriller político. Além do fiel terrier branco Milu, ele inventou diversos outros companheiros de aventuras, como, por exemplo, o Capitão Haddock, colérico e notoriamente bêbado; o genial, porém bastante surdo Professor Girassol; ou os atrapalhados detetives Dupond e Dupont.

Aventura no Congo reforçava estereótipos racistas e colonialistasFoto: picture-alliance/dpa

O Congo Belga foi o palco da segunda aventura de Tintim e Milu. Como a versão original difundia estereótipos colonialistas e racistas, países como Bélgica, Suécia e Estados Unidos ameaçaram, mais tarde, proibir o livro. Em reação, Hergé adaptou a história, mas sua fascinação por culturas diferentes e antigas civilizações permaneceu. Durante seus estudos universitários em Bruxelas, ele encontrou, por exemplo, o artista chinês Zhang Chongren, que o ajudou a apresentar a China em o Lótus Azul, de 1934.

As histórias de Hergé do fim dos anos 30 continham críticas mais ou menos sutis aos regimes fascistas da Europa. Em O cetro de Ottokar, ele enviou Tintim à ficcional Sildávia, no Leste da Europa, onde lutou contra o vilão Mustler (uma combinação dos nomes dos ditadores Benito Mussolini e Adolf Hitler), que tentava anexar o país à chamada Bordúria.

Quando em 1940 a Wehrmacht alemã invadiu a Bélgica, os ocupadores mandaram fechar o jornal que publicava os quadrinhos. O caricaturista se adaptou à nova situação, passando para o Le Soir, um órgão de propaganda dos nazistas. Após a libertação da Bélgica, em setembro de 1944, o jornal foi fechado e seus empregados, acusados de colaboradores. Hergé foi preso diversas vezes e foi proibido de exercer a profissão durante dois anos.

Georges Remi, conhecido como Hergé, criou o personagem Tintim em 1929Foto: picture-alliance/dpa/belga

No pós-guerra produziram-se diversas adaptações para a televisão e o teatro das aventuras de Tintim, assim como meia dúzia de versões cinematográficas, cinco das quais ainda durante a vida do autor.

Hergé morreu em 1983, aos 75 anos. Ao todo foram publicadas 24 histórias da dupla, a última postumamente, em 1986. Ele expressara o desejo de que, depois dele, nenhum outro artista desenhasse Tintim e Milu. E assim se encerrou a trajetória da dupla em papel.

No entanto, em 2011 o cineasta americano Steven Spielberg inspirou nova vida ao repórter belga, com o filme de animação 3D As aventuras de Tintim. Segundo Spielberg, está sendo produzida uma continuação, com direção a cargo do neozelandês Peter Jackson (O Senhor dos Anéis). E assim Tintim e Milu devem seguir entusiasmando futuras gerações de fãs.

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