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Edson Cordeiro

12 de maio de 2011

Cantor paulista se declara apaixonado pela capital alemã, diz que aprendeu muito com o teatro e anuncia turnê pelo Brasil em junho.

Edson Cordeiro e a banda Klazz BrothersFoto: Mirko Joerg Kellner

O cantor brasileiro Edson Cordeiro voltou aos palcos de Berlim nesta semana para apresentar os espetáculos "Disco Lounge" e "Best of". Radiante, ele ganhou a simpatia do público com uma carismática presença de palco e com sua voz, que continua potente e versátil.

Em "Disco Lounge", Edson subiu ao palco ao lado dos Klazz Brothers. Juntos, fazem uma divertida mistura de jazz, pop e disco, com sucessos de Donna Summer, Gloria Gaynor e ABBA. "Best of Edson Cordeiro" é o show que fecha essa pequena temporada, nesta sexta-feira (13/05). Ao lado do pianista Broder Kühne, o cantor revisita várias fases da carreira.

Edson está há três anos morando em Berlim, onde costuma fazer shows para um público fiel. "Me pergunto como não vim morar aqui antes. Berlim é muito linda", diz. "Passei anos indo e voltando e me cansei. Resolvi que é melhor para minha carreira internacional ficar por aqui", completa.

Radicado no charmoso bairro de Schöneberg, o cantor conversou com a Deutsche Welle sobre morar na Alemanha, vozes femininas, envelhecer e a importância de se falar sobre os direitos dos homossexuais.

Cantor se apresenta em junho no BrasilFoto: Marcelo Navarro

Deutsche Welle: Como os shows "Disco Lounge" e "Best of Edson Cordeiro" foram concebidos?

Edson Cordeiro: No show "Disco Lounge" eu sou convidado dos Klazz Brother. Temos uma parceria já há quatro anos, desde que gravamos um CD e fizemos algumas turnês juntos. Eles são uma banda muito respeitada na cena do jazz crossover e nesse show fazemos essa releitura de clássicos da disco. Já o show "Best of" é uma parceria minha com o pianista Broder Kühne, e eu passeio pela minha carreira, cantando de Billie Holiday a Alexandra, passando por Amália Rodrigues e música brasileira.

Há quanto tempo você mora na Alemanha?

Já faz três anos que moro em Berlim. Meu primeiro show na Europa foi em Munique, e desde o início a minha aceitação de público e crítica foi muito boa por aqui. Passei anos indo e voltando e me cansei. Resolvi que é melhor para minha carreira internacional ficar por aqui.

Por que Berlim?

Eu sou de São Paulo, sou muito urbano. Então para mim é fácil viver numa cidade cosmopolita como Berlim. Para minha surpresa, a cidade também é muito verde, com parque e lagos. Me pergunto como não vim morar aqui antes. Berlim é muito linda.

Show "Disco Lounge" teve sua estreia em BerlimFoto: Mirko Joerg Kellner

Como foi a escolha de repertório do seu último disco, The Woman Voice?

A voz feminina é a razão pela qual eu canto, mas não só porque eu canto agudo. Voz de mulher para mim não tem a ver com timbre ou registro. O que importa é a alma. Eu sou de uma geração em que homens não podiam mostrar seus sentimentos. Quando ouço uma mulher cantar, aprendo a não ter medo de expressar minhas emoções e mostrar tudo. Temos uma abundância de cantoras maravilhosas no Brasil.

Tem alguma cantora da nova geração que você admira?

Fabiana Cozza é uma sambista paulista que canta lindamente, como há muito tempo eu não ouvia. Ela é muito teatral e tem uma afinação perfeita. O trabalho dela tem uma ligação muito forte com o candomblé e a cultura afrobrasileira.

Você gravou música eletrônica. O momento clubber foi uma fase da sua vida?

Sempre frequentei mais Alôca [tradicional clube techno de São Paulo] do que o teatro municipal. Trabalhei com grandes nomes da música eletrônica no Brasil, como Suba, DJ Mau Mau e Patife. Era do teatro, saía muito à noite. Era muito clubber. Hoje não aguento mais. Acompanho o que o meu corpo e minha alma pedem.

Essa versatilidade que você tem no palco é herança dos seus tempos como ator?

Preciso dos meus personagens para subir ao palco. Aprendi muito com o teatro. Eu fiz muito recital tradicional, mas não é isso que me dá prazer. O virtuosismo tem um preço. Já fiz de tudo na vida. Hoje não tenho mais minha juventude me apoiando. Eu quero continuar cantando e para isso tenho que respeitar o que minha voz quer fazer.

Como surgiu o convite para homenagear Klaus Nomi na entrega do Teddy Awards em 2008?

Eu já havia trabalhado com uma revista aqui de Berlim que estava envolvida na organização do Festival de Cinema de Berlim. Foi uma grande honra chamarem um brasileiro para homenagear esse grande cantor alemão, recriando um momento clássico de sua carreira, quando já muito doente ele se apresentou na ópera de Munique.

Você está feliz com a aprovação da parceria civil entre homossexuais no Brasil?

Eu fiquei muito feliz. Já me apresentei em diversas paradas gay no Brasil e aqui em Berlim. Estou muito emocionado com tudo que vem acontecendo. É bom saber que ainda há esperança, apesar de ainda haver muita homofobia no Brasil. Agora eu espero a criminalização da homofobia no país. Temos que aprender que parada gay não é só festa. Estou cansado de pessoas que dizem que não temos que levantar bandeiras. Temos que ser políticos e levantar sim essas bandeiras.

Como foi sua experiência como cantor de rua?

Sem o que aprendi na rua eu não estaria aqui. Foi lá que eu percebi que poderia cantar, ser aceito. As pessoas paravam para me ouvir em vez de me mandarem calar a boca. Na rua eu fazia o que queria e ganhava um bom dinheiro.

Quais são os seus planos para o futuro?

Em junho vou fazer uma turnê por diversas cidades do Brasil. Além disso tenho três projetos de shows: “Disco Lounge”, com o Klazz Brothers; “My Collection”, que é um projeto de música brasileira com dois violonistas brasileiros; e estou preparando também um novo show, chamado “Samba Deluxe”. Quero mostrar para os gringos o que aconteceu antes da maravilhosa Bossa Nova, cantando artistas como Nelson Cavaquinho, Donga e Assis Valente. A música brasileira tem que ser tratada com a nobreza que merece.

Autor: Marco Sanchez
Revisão: Alexandre Schossler

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