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Há uma relação entre a vitamina D e a covid-19?

30 de outubro de 2020

Estudos da Alemanha e Espanha associam deficiência de vitamina D a desenvolvimento de quadros mais graves da doença causada pelo coronavírus. Especialista, entretanto, ressalta que efeitos não foram comprovados.

Mão segura comprimido
Vitamina D vem se tornando cada vez mais popular como complemento alimentarFoto: picture-alliance/dpa/empics/C. Ball

É indiscutível que a vitamina D desempenha um papel em todo o corpo e cumpre funções importantes. Uma grave deficiência de vitamina D, considerada quando o valor é igual ou inferior a 12 nanogramas por mililitro de sangue, leva a deformações ósseas graves e dolorosas, chamadas de raquitismo em bebês e crianças pequenas e osteomalacia em adultos. É aqui que o consenso científico termina.

Ninguém sabe exatamente de quanta vitamina D as pessoas realmente precisam. A questão de quando passa a haver um quadro de deficiência também é controversa. Por esse motivo, vários valores-limite são frequentemente usados como critério. Fato é, no entanto, que a vitamina D está se tornando cada vez mais popular.

Não apenas a literatura pseudocientífica faz com que haja uma onda de novas publicações sobre a vitamina D, o número de estudos publicados sobre o tema também aumentou enormemente nos últimos anos. A vitamina D é vista atualmente não apenas como responsável por um esqueleto funcional, mas também está associada a doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2 e vários tipos de câncer.

O nível de vitamina D no sangue depende principalmente da luz solar. Se a radiação UV atingir a pele em quantidade suficiente, o corpo poderá produzir ele mesmo a vitamina. Estima-se que apenas de 10% a 20% da necessidade do organismo sejam cobertos através dos alimentos.

A vitamina D que sintetizamos através da radiação solar ou dos alimentos não é inicialmente biologicamente ativa. Alguns processos metabólicos devem ocorrer antes que a forma biologicamente ativa da vitamina, o chamado calcitriol, seja formada nos rins e liberada no sangue.

Além disso, muitos órgãos têm receptores aos quais a substância precursora do calcitriol se liga. Ela também está presente no sangue.

Os órgãos então usam essa substância preliminar para produzir calcitriol, que é usado para inúmeros outros processos no corpo. Esta forma de vitamina D regula a liberação de insulina, inibe o crescimento de tumores, promove a formação de glóbulos vermelhos e a sobrevivência e atividade dos macrófagos, importantes para o sistema imunológico.

Conexão com a covid-19?

Diversos estudos estão agora estabelecendo uma ligação entre a deficiência de vitamina D, certas doenças pré-existentes e casos mais graves de covid-19. Uma pesquisa realizada pela Universidade de Cantábria, na Espanha, mostrou que mais de 80% dos pacientes com covid-19 tratados em um hospital apresentavam deficiência de vitamina D.

Em junho, uma análise da Universidade de Hohenheim, na Alemanha, teve resultado semelhante. O texto diz: "Existem inúmeros indícios de que várias doenças não transmissíveis (pressão alta, diabetes, doenças cardiovasculares, síndrome metabólica) estão associadas a baixos níveis plasmáticos de vitamina D. Essas comorbidades, juntamente com a deficiência de vitamina D com que são frequentemente associadas, aumentam o risco de eventos graves de covid-19".

"Esta afirmação está completamente correta", diz Martin Fassnacht, chefe de endocrinologia do Hospital Universitário de Würzburg. No entanto, ele ressalva que é uma pura associação, "uma mera observação de que esses eventos ocorrem juntos".

O endocrinologista vê de forma bastante crítica essa moda de vitamina D. Não porque negue suas funções importantes, mas porque, até agora, estudos em humanos não foram capazes de mostrar que a vitamina D tem os poderes de cura frequentemente propagados, diz Fassnacht.

"Se você olhar mais atentamente, as esperanças de que a administração de vitamina D tenha um efeito curativo não foram confirmadas até agora", afirma.

Estudos de associação versus de intervenção

O endocrinologista ressalta que muitos estudos sobre a vitamina são estudos observacionais ou de associação. "Por definição, esses estudos não podem provar a relação causal, mas apenas apontam para meras correlações", diz Fassnacht.

O médico tenta ilustrar isso com um exemplo. "Imagine dois grupos de pessoas de 80 anos. Um grupo é alegre, ativo e pratica esportes. Se você compará-los com o outro grupo na casa de repouso, a diferença nos níveis de vitamina D será dramática. Também a expectativa de vida seria extremamente diferente."

No entanto, segundo o especialista, tentar explicar os diferentes níveis de condicionamento físico apenas com base no status da vitamina D deixa muito a desejar. "O nível de vitamina D no sangue é uma boa referência de quão doente alguém está. Mas nada mais do que isso", diz Fassnacht.  

Segundo Fassnacht, nenhum dos estudos de intervenção realizados até o momento, nos quais o efeito da administração de vitamina D em várias doenças foi examinado especificamente, conseguiu confirmar os estudos anteriores de associação e de laboratório que alegavam um suposto efeito positivo da vitamina D.

O artigo publicado pela Universidade de Hohenheim recomenda que "se houver suspeita de infecção pelo coronavírus, o status da vitamina D deve ser verificado e um possível déficit, sanado rapidamente".

"Estão sendo realizados estudos para verificar se a vitamina D ajuda em relação à infecção por covid-19, mas pessoalmente eu não acredito que isso ocorra", diz o endocrinologista. No entanto, ele frisa que essas pesquisas devem ser feitas.

"Não quero descartar que existam realmente subgrupos de pessoas que se beneficiam de uma dose adicional de vitamina D", diz, acrescentando que, afinal, está comprovado que um déficit grave é prejudicial. "Minha crença de que a vitamina ajuda é muito pequena. Mas é claro que posso estar errado."

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