Grupo autointitulado Cibercalifado interrompeu a transmissão de 11 canais da TV5 Monde e invadiu suas redes sociais. Premiê Valls qualificou ataque de "insulto inaceitável à liberdade de informação e de expressão".
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Hackers supostamente ligados à organização extremista "Estado Islâmico" (EI) iniciaram ataques à rede de televisão francesa TV5 Monde na noite desta quarta-feira (08/05), invadindo simultaneamente 11 canais e interrompendo brevemente as transmissões. O site e as redes sociais do grupo de mídia também foram atacados.
O diretor da TV5 Monde, Yves Bigot, disse que o ataque ainda continuava durante a manhã desta quinta-feira. Ele informou que a rede conseguiu restaurar os sinais, mas transmitia apenas programas previamente gravados.
O EI já havia assumido anteriormente a autoria de outros ataques cibernéticos de grande porte, mas a invasão à rede francesa parece ser um novo patamar de suas táticas de guerra de informação.
Bigot disse ter ficado em choque ao ver uma tela preta no lugar das transmissões. "Ao descobrirmos o teor das mensagens que apareciam em nossas mídias sociais e sites, entendemos o que estava acontecendo e ficamos, obviamente, preocupados."
A mensagem que aparecia no website da TV5 Monde tinha os dizeres "Eu sou o EI", juntamente com uma bandeira do grupo autointitulado Cibercalifado. Logo depois, foi substituída por outra que dizia apenas que a página estava em manutenção. Um grupo com o mesmo nomeinvadiu em fevereiro o perfil da revista americana Newsweek na rede social Twitter.
O primeiro-ministro francês, Manuel Valls, comentou via Twitter que o ataque é um "insulto inaceitável à liberdade de informação e de expressão", e declarou seu apoio aos funcionários do grupo de mídia. Os ministros do Interior, Bernard Cazeneuve, e da Cultura, Fleur Pellerin, visitaram na quinta-feira a sede da TV.
A TV5 Monde se considera o "canal cultural da França no mundo" e transmite programas produzidos no país, assim como na Bélgica, Suíça e no Canadá, além de filmes, noticiários e outros programas. Segundo a página da empresa no Facebook, a TV5 monde alcança 257 milhões de lares em mais de 200 países e territórios.
De acordo com as autoridades, após os atentados terroristas em Paris, em janeiro, hackers atacaram em torno de 19 mil sites de internet franceses.
RC/afp/ap
"Estado Islâmico": de militância sunita a califado
Origens do grupo jihadista remontam à invasão do Iraque, em 2003. Nascido como oposição ao domínio xiita e inicialmente um braço da Al Qaeda, EI passou por mudanças e virou uma ameaça internacional.
Foto: picture-alliance/AP Photo
A origem do "Estado Islâmico"
A trajetória do "Estado Islâmico" (EI) começou em 2003, com a derrubada do ditador iraquiano Saddam Hussein pelos EUA. O grupo sunita surgiu a partir da união de diversas organizações extremistas, leais ao antigo regime, que lutavam contra a ocupação americana e contra a ascensão dos xiitas ao governo iraquiano.
Foto: picture-alliance/AP Photo
Braço da Al Qaeda
A insurreição se tornou cada vez mais radical, à medida que fundamentalistas islâmicos liderados pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, fundador da Al Qaeda no Iraque (AQI), infiltraram suas alas. Os militantes liderados por Zarqawi eram tão cruéis que tribos sunitas no Iraque ocidental se voltaram contra eles e se aliaram às forças americanas, no que ficou conhecido como "Despertar Sunita".
Foto: AP
Aparente contenção
Em junho de 2006, as Forças Armadas dos EUA mataram Zarqawi numa ofensiva aérea e ele foi sucedido por Abu Ayyub al-Masri e Abu Omar al-Bagdadi. A AQI mudou de nome para Estado Islâmico do Iraque (EII). No ano seguinte, Washington intensificou sua presença militar no país. Masri e Bagdadi foram mortos em 2010.
Foto: AP
Volta dos jihadistas
Após a retirada das tropas dos EUA do Iraque, efetuada entre junho de 2009 e dezembro de 2011, os jihadistas começaram a se reagrupar, tendo como novo líder Abu Bakr al-Bagdadi, que teria convivido e atuado com Zarqawi no Afeganistão. Ele rebatizou o grupo militante sunita como Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL).
Foto: picture alliance/dpa
Ruptura com Al Qaeda
Em 2011, quando a Síria mergulhou na guerra civil, o EIIL atravessou a fronteira para participar da luta contra o presidente Bashar al-Assad. Os jihadistas tentaram se fundir com a Frente Al Nusrah, outro grupo da Síria associado à Al Qaeda. Isso provocou uma ruptura entre o EIIL e a central da Al Qaeda no Paquistão, pois o líder desta, Ayman al-Zawahiri, rejeitou a manobra.
Foto: dapd
Ascensão do "Estado Islâmico"
Apesar do racha com a Al Qaeda, o EIIL fez conquistas significativas na Síria, combatendo tanto as forças de Assad quanto rebeldes moderados. Após estabelecer uma base militar no nordeste do país, lançou uma ofensiva contra o Iraque, tomando sua segunda maior cidade, Mossul, em 10 de junho de 2014. Nesse momento o grupo já havia sido novamente rebatizado, desta vez como "Estado Islâmico".
Foto: picture alliance / AP Photo
Importância de Mossul
A tomada da metrópole iraquiana Mossul foi significativa, tanto do ponto de vista econômico quanto estratégico. Ela é uma importante rota de exportação de petróleo e ponto de convergência dos caminhos para a Síria. Mas a conquista da cidade é vista como apenas uma etapa para os extremistas, que pretenderiam avançar a partir dela.
Foto: Getty Images
Atual abrangência do EI
Além das áreas atingidas pela guerra civil na Síria, o EI avançou continuamente pelo norte e oeste iraquianos, enquanto as forças federais de segurança entravam em colapso. No fim de junho, a organização declarou um "Estado Islâmico" que atravessa a fronteira sírio-iraquiana e tem Abu Bakr al-Bagdadi como "califa".
Foto: Reuters
As leis do "califado"
Abu Bakr al-Bagdadi impôs uma forma implacável da charia, a lei tradicional islâmica, com penas que incluem mutilações e execuções públicas. Membros de minorias religiosas, como cristãos e yazidis, deixaram a região do "califado" após serem colocados diante da opção: converter-se ao islã sunita, pagar um imposto ou serem executados. Os xiitas também eram alvo de perseguição.
Foto: Reuters
Guerra contra o patrimônio histórico
O EI destruiu tesouros arqueológicos milenares em cidades como Palmira (foto), na Síria, ou Mossul, Hatra e Nínive, no Iraque. Eles diziam que esculturas antigas entram em contradição com sua interpretação radical dos princípios do Islã. Especialistas afirmam, porém, que o grupo faturou alto no mercado internacional com a venda ilegal de estátuas menores, enquanto as maiores eram destruídas.
Foto: Fotolia/bbbar
Ameaça terrorista
Durante suas ofensivas armadas, o "Estado Islâmico" saqueou centenas de milhões de dólares em dinheiro e ocupou diversos campos petrolíferos no Iraque e na Síria. Seus militantes também se apossaram do armamento militar de fabricação americana das forças governamentais iraquianas, obtendo, assim, poder de fogo adicional.