Em meio a preocupações com ameaças à democracia tanto em um eventual governo do PT quanto do PSL, presidenciáveis que se enfrentam no segundo turno afirmaram respeitar a Constituição de 1988.
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Os candidatos à Presidência Fernando Haddad (PT) e Jair Bolsonaro (PSL), que disputarão o segundo turno das eleições no fim de outubro, negaram a possibilidade de elaborar uma nova Constituição, e afirmaram que, caso vençam, apenas farão mudanças na atual por meio de emendas constitucionais.
Os presidenciáveis participaram de entrevistas ao Jornal Nacional na noite desta segunda-feira (08/10), quando foram questionados sobre preocupações sobre o futuro da democracia brasileira tanto por parte de críticos do PT quanto dos opositores de Bolsonaro.
A Constituição de 1988, que completou 30 anos na semana passada, permite reformas somente por meio de emenda constitucional, que requer a aprovação de três quintos da Câmara dos Deputados e do Senado.
Na entrevista, Haddad afirmou ter revisto o posicionamento apresentado em seu programa de governo sobre a convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte. O programa de governo do petista afirma que "para assegurar as conquistas democráticas inscritas na Constituição de 1988, as reformas estruturais indicadas neste plano e a reforma das instituições, é necessário um novo processo constituinte".
"Nós revimos o nosso posicionamento. Nós vamos fazer as reformas devidas por emenda constitucional", afirmou. Detalhando seu programa, Haddad disse que, se eleito, promoveria as reformas tributária, bancária e o fim do congelamento de gastos implementado no governo Michel Temer.
Por sua vez, Bolsonaro buscou se distanciar de colocações de seu candidato a vice-presidente, o general da reserva Hamilton Mourão, que afirmou durante uma entrevista que, na hipótese de anarquia, o presidente poderia realizar um "autogolpe" com o apoio das Forças Armadas.
"Ele é general, eu sou o capitão. Mas eu sou o presidente. O desautorizei nesses dois momentos. Ele não poderia ir além daquilo que a Constituição permite", disse Bolsonaro, referindo-se tanto à afirmação sobre o "autogolpe" quanto a outra em relação à elaboração de uma nova Constituição.
Mourão havia afirmado que a elaboração de uma Constituição nova "não precisa ser feita por eleitos pelo povo" e poderia ser feita por um conselho de notáveis e depois apenas referendada pelos eleitores. "Jamais eu posso admitir uma nova Constituinte, até por falta de poderes para tal", completou Bolsonaro.
O ex-capitão tem sido descrito por veículos da mídia internacional como um populista de direita. A revista The Economist publicou uma reportagem de capa sobre Bolsonaro, em que o classifica de um risco à democracia e uma "ameaça ao Brasil e à América Latina".
Realizando o mesmo movimento que Bolsonaro, Haddad também se colocou contra declarações associadas negativamente à sua campanha, como uma fala do ex-presidente do PT José Dirceu ao jornal El País, nas quais afirmou ser "uma questão de tempo para a gente tomar o poder", o que seria "diferente de ganhar uma eleição".
Haddad afirmou discordar das declarações de Dirceu e que o ex-ministro não participaria de seu governo em caso de vitória. "Para mim, a democracia está sempre em primeiro lugar", disse.
Tanto Haddad quanto Bolsonaro também buscaram fazer acenos a seus eleitores antes do segundo turno. O petista ressaltou o "desejo de promover desenvolvimento com inclusão social", afirmando que uma reforma tributária isentaria de Imposto de Renda quem ganha até cinco salários mínimos.
"Apesar de eu ter perdido lá, nunca alguém que fez oposição ao PT teve uma votação tão expressiva [no Nordeste] como eu tive", disse o candidato. Ele afirmou ainda que pretende manter o Bolsa Família e não pretende aumentar o Imposto de Renda. "A proposta do nosso economista Paulo Guedes é: quem ganha até cinco mínimos não descontará Imposto de Renda. E, acima disso, uma tabela de 20% para todos", disse.
Com 46,03% dos votos válidos, Bolsonaro chega em vantagem ao segundo turno contra Haddad, que teve 29,28%.
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Treze candidatos se apresentaram para disputar o Planalto. O líder das pesquisas acabou fora da corrida, e vários nomes tentam contornar isolamento partidário. Veja os principais episódios da disputa.
Foto: Reuters/A. Machado
Bolsonaro é eleito presidente
Em segundo turno, os brasileiros elegeram Jair Bolsonaro (PSL) como presidente. Após uma campanha eleitoral polarizada, o militar reformado de extrema direita recebeu 55,13% dos votos, contra 44,87% de Fernando Haddad (PT). Com bandeiras do Brasil e vestidos nas cores verde e amarelo, eleitores comemoram pelo país. No discurso da vitória, Bolsonaro prometeu um governo constitucional e democrático.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S.Izquierdo
TSE abre investigação contra Bolsonaro
A pouco mais de uma semana do segundo turno, o Tribunal Superior Eleitoral abriu uma ação para investigar suspeitas de compra de disparos de mensagens antipetistas no WhatsApp por parte de empresários aliados a Bolsonaro. O pedido de investigação foi feito pelo PT, após uma reportagem do jornal "Folha de S. Paulo". A PF também abriu inquérito para investigar a disseminação em massa de "fake news".
Foto: Reuters/R. Moraes
Bolsonaro e Haddad vão ao segundo turno
Numa das eleições mais polarizadas da história, em 7 de outubro os brasileiros levaram ao segundo turno os dois candidatos que, segundo sondagens, são também os mais rejeitados: Bolsonaro (PSL) e Haddad (PT). Favorito no Sul e Sudeste, o ex-militar teve 46% dos votos válidos contra 29% do petista, que foi o mais votado em oito estados do Nordeste e no Pará. Em terceiro, Ciro Gomes (PDT) teve 12%.
Foto: Reuters/P. Whitaker/N. Doce
Bolsonaro cresce nas pesquisas
Já líder nas pesquisas, o candidato do PSL ampliou sua vantagem no início de outubro, ultrapassando pela primeira vez a marca de 30% em sondagens do Ibope e do Datafolha. Ao longo da semana que antecedeu as eleições, o ex-capitão foi subindo e, na véspera do pleito, cruzou a barreira de 40% dos votos válidos. Após ser esfaqueado, a campanha do candidato se concentrou nas redes sociais.
Foto: Reuters/P. Whitaker
A troca de Lula por Haddad
Após meses de suspense e com aval de Lula, Fernando Haddad foi oficializado candidato à Presidência pelo PT em 11 de setembro, a menos de um mês do primeiro turno, após se esgotarem as chances de o ex-presidente concorrer. Preso e virtualmente inelegível pela Ficha Limpa, Lula era líder nas pesquisas de intenção de voto. O desafio agora será transferir votos para o ex-prefeito.
Foto: Agencia Brasil/R. Rosa
Ataque a Bolsonaro
O candidato do PSL foi esfaqueado durante um ato de campanha em Juiz de Fora, um ataque que prometia mudar os rumos da corrida presidencial. Seus adversários condenaram a agressão, e alguns chegaram a mudar o tom da campanha. Não houve, contudo, um impacto decisivo sobre o eleitorado. Ele segue líder das intenções, mas com percentual praticamente igual. A rejeição a ele, por outro lado, aumentou.
Foto: picture-alliance/dpa/Agencia O Globo/A. Scorza
O "plano B" do PT
Com Lula virtualmente inelegível, a escolha do seu vice passou a ser encarada como um trampolim para um candidato substituto. No início de agosto, o PT acabou indicando Fernando Haddad, que desde o início do ano era cotado como "plano B". Manuela D'Ávila (PCdoB) ficou com a curiosa posição não oficial de "vice do vice", assumindo a posição com Lula candidato ou não.
Foto: Agência Brasil/F.Rodrigues Pozzebom
A novela dos vices
A fase de convenções começou no fim de julho sem que a maioria dos pré-candidatos tivesse um vice. Bolsonaro teve três convites recusados até fechar com o general Mourão (PRTB). Henrique Meirelles (MDB) e Ciro Gomes (PDT) se contentaram com nomes do próprio partido. Alckmin teve convite recusado pelo empresário Josué Alencar, cuja família é ligada a Lula, antes de optar por Ana Amélia (PR).
Foto: Agência Brasil/F.Frazão
Os candidatos isolados
A jogada de Alckmin com o "centrão" acabou isolando outros candidatos. Jair Bolsonaro (PSL) tentou negociar com o PR, mas teve que se contentar com o nanico PRTB. Ciro Gomes (PDT) também viu suas investidas no grupo naufragarem. Marina Silva (Rede) e Ciro também não conseguiram apoio do PSB, que ficou neutro numa manobra do PT. Os três terminaram a fase de convenções com pouco apoio e tempo de TV.
Alckmin fecha com o "centrão"
Em julho, o tucano Geraldo Alckmin ainda patinava nas pesquisas, mas criou um fato novo na campanha ao conseguir o apoio do "centrão", as siglas que costumam emprestar seu apoio a governos em troca de cargos e verbas. Ao se aliar com PR, PP, PSD, DEM e SD, Alckmin passou a dominar 44% da propaganda eleitoral na TV. Sua coligação também recebe 48% do novo fundo de campanhas.
Foto: Getty Images/AFP/E. Sa
Candidaturas descartadas
A eleição de 2018 parecia destinada a superar o número de candidatos de 1989, quando 22 disputaram. Em abril, 23 manifestavam interesse em concorrer, entre eles o presidente Michel Temer, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e o ex-presidente Fernando Collor. Mas eles logo desistiram ou foram abandonados por seus partidos. Outros aceitaram ser vices. Em agosto, só 13 permaneciam na corrida.
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Os "outsiders" saem de cena
A possibilidade de Lula ficar de fora e o sentimento antipolítico entre a população sinalizavam que esta seria a eleição dos "outsiders". O ex-ministro do Supremo Joaquim Barbosa e o apresentador Luciano Huck chegaram a ser incluídos em pesquisas. O empresário Flávio Rocha anunciou candidatura. Em julho, todos já haviam desistido, e a disputa ficou restrita a velhos nomes da política.
Foto: Imago/ZUMA Press/M. Chello
Lula é condenado e preso
Quando anunciou, em 2016, a intenção de disputar a eleição, Lula se tornou o líder nas pesquisas. Em janeiro, porém, sua situação se complicou após uma condenação em segunda instância que o deixou virtualmente inelegível. Em abril, foi preso. Com a possibilidade de a candidatura ser barrada, o PT passou a ter dificuldades em formar alianças, e o desfecho do pleito ficou ainda mais imprevisível.
Foto: Reuters/L. Benassatto
Entra em cena o fundo de campanhas
Diante da proibição das doações por empresas, o Congresso criou em outubro de 2017 um novo fundo de R$ 1,7 bilhão para financiar candidaturas, já definindo a capacidade financeira de várias campanhas. Quase 60% do valor ficou concentrado em seis legendas: MDB, PT, PSDB, PP, PSB e PR, deixando candidatos à Presidência de pequenas e médias siglas com menos recursos na largada.