Apoio ao Haiti
14 de janeiro de 2010Antes mesmo do abalo sísmico da última terça-feira (12/01), o mais grave em 100 anos, a situação do Haiti era calamitosa. Mais da metade de seus cerca de 9 milhões de habitantes dispõe de menos de um dólar por dia para sobreviver. Ao lado da penúria econômica, a instabilidade política e a insegurança social assolam a população do Estado insular.
Estes e outros fatores dificultam agora seriamente os trabalhos de resgate e ajuda humanitária após a catástrofe natural. Como cada minuto conta, a Organização das Nações Unidas mobilizou imediatamente 37 equipes de resgate para as zonas de calamidade, com o apoio tanto dos vizinhos diretos do Haiti como dos Estados Unidos e da Europa.
Proporções ainda incalculáveis
Segundo Simone Pott, da organização alemã de combate à fome Ação Agrária Alemã, é muito difícil ter uma visão total dos estragos, devido à falta de eletricidade e ao funcionamento extremamente irregular das linhas telefônicas.
"Ouvimos falar de grandes destruições [na capital] Porto Príncipe. Consta que os edifícios maiores tombaram. A capital tem também muitos morros, e justamente nos bairros pobres, muito populosos, partimos do princípio de que tenha sido grande o número de vítimas", calcula Pott.
Diretamente do local, Astrid Nissen, da ONG Diakonie Katastrophenhilfe, confirma a dificuldade de se avaliar a extensão do cataclismo. Ela menciona edifícios "danificados, demolidos ou balançando" e os "tímidos" trabalhos de resgate, que se concentram sobretudo nos prédios maiores.
"As casas nas encostas dos morros caíram como cartas. As pessoas escavam os destroços com as próprias mãos, ou com o que encontram pela frente, à procura de sobreviventes ou mortos. No pequeno perímetro que percorri a pé, vi um número enorme de mortos e feridos pelas ruas."
Coordenação in loco e virtual
Klaus Buchmüller, chefe da seção de operações da Defesa Civil Alemã (THW), também envolvida nos trabalhos de salvamento no Haiti, explica que o principal nesta fase é coordenar as ações. Essa função é assumida pela ONU, em conjunto com a União Europeia.
"Para tal, há equipes treinadas, mobilizadas para o local, mas que também se coordenam pela internet, num espaço virtual, por assim dizer. Nele, as ofertas de ajuda são distribuídas, de modo que unidades credenciadas e grandes organizações como a THW tenham uma visão global dos trabalhos."
O tsunami de 2004 deixou lembranças negativas desse tipo de auxílio internacional abrangente. Na época, a iniciativa foi enorme, porém descoordenada, até mesmo contraproducente, chegou-se a falar em pura ação cega. Um dos meios para evitar que as circunstâncias se repitam é o credenciamento dos participantes, esclarece o chefe de operações da THW.
"Há um grupo internacional da ONU, de assessoria à busca e ao salvamento para terremotos, chamado Search and Rescue Advisory Group, com o qual as grandes organizações colaboram e cujas regras obedecem. Porém os doadores de verbas também exigem cada vez mais a apresentação de resultados, justamente para que se possa oferecer uma assistência sólida", declarou Buchmüller.
Ele informa que, além dos mecanismos de coordenação da ONU e da UE, a Defesa Civil Alemã também trabalha em colaboração estreita com a embaixada alemã no Haiti e com o Ministério das Relações Exteriores, "para não mandar ajuda para onde ela não é mais necessária".
A THW enviou às regiões de calamidade especialistas em construção civil, água, eletricidade e coordenação, assim como uma equipe de 10 pessoas para o processamento de água potável, também capacitada a realizar reparos de infraestrutura.
"Uma espécie de Plano Marshall"
Apesar das enormes dificuldades enfrentadas, o Haiti encontrava-se "no bom caminho" para melhorias tanto no tocante à política e à segurança como na economia, comenta Günther Maihold, vice-diretor do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e de Segurança (SWP). Em 2009, o país acusou um crescimento econômico de 1,5%, e tinha prognósticos de 2,5% para o ano corrente.
Apenas dois dias após o violento terremoto, cujas proporções e número de vítimas estão longe de ser conhecidos, é difícil manter perspectivas positivas, a curto e médio prazo, para um dos mais pobres países do mundo. O embaixador haitiano na Alemanha, Jean Robert Saget, aborda o problema:
"Apelamos a todas as organizações humanitárias que nos possam ajudar. É certo que o governo alemão nos prometeu 1,5 milhão de euros. Mas do que o Haiti precisa no momento é de uma espécie de Plano Marshall. Precisamos de algo assim para sair dessa situação."
Autor: Augusto Valente / dw
Revisão: Roselaine Wandscheer