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Hallig, as peculiares ilhas alemãs que somem no mar

19 de janeiro de 2020

Quem mora nas pequenas ilhas Hallig, no norte da Alemanha, precisa compartilhar sua propriedade com o mar, que a inunda com regularidade. Moradores de Hooge contam como é viver com o fenômeno.

Enchente com bancos de praça inundados e casas ao fundo em parte mais alta
Inundação em Hooge mostra a "Warft", parte alta, onde ficam as casasFoto: picture-alliance/dpa/H. Dell-Missier

Entre as ilhas da Frísia, na costa alemã do Mar do Norte, há uma série de pequenas elevações conhecidas como Halligen, ou ilhas Hallig. Elas quase não têm defesa costeira. Por isso, sempre que uma tempestade atinge as águas a sua volta, o mar sobe com facilidade e inunda tudo, exceto os montes artificiais de terra, onde vivem seus habitantes.

A diferença das Halligen para ilhas comuns é que, durante uma forte maré alta, só ficam visíveis suas partes mais altas, chamadas warften, sobre as quais se localizam as edificações.

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Já houve mais de 100 Halligen, porém hoje não são mais do que dez. Dividida entre a Alemanha e a Dinamarca, sua população não chega a 400 pessoas, ainda marcadas pela vida isolada de seus antepassados. Apesar do isolamento, o turismo substituiu a pescaria, agropecuária e comércio de sal como principal fator econômico.

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Uma das Hallig é Hooge, com 5,6 Km2 e 107 habitantes. Seus moradores explicam o que acontece quando o mar chega. Eles chamam o fenômeno de Land unter, literalmente, terra abaixo. Como esse Hallig tem um pequeno dique de pouco mais de um metro de altura, sua área é amplamente poupada de inundação nos meses de verão. No inverno, há em média quatro a cinco inundações. Outras Halligen que não têm dique podem sofrer até 50 inundações por ano.

Karin em traje típico da regiãoFoto: Martin Strauß

Karen Tiemann nasceu e foi criada em Hooge, mas passou algum tempo fora e voltou com 20 e poucos anos. Feliz por ter morado em outro lugar, mas também por ter retornado. ela diz que a vida na Hallig a faz perceber como os seres humanos realmente são pequenas. Ela administra uma casa de férias e um café num prédio construído em 1750.

"Para mim, as inundações fazem parte da vida normal. É cansativo quando chega muito cedo, quando ainda há muito gado no pasto, que precisa ser trazido às áreas mais altas. E na temporada turística do verão, caminhões-sanitários, cadeiras de praia, baldes de lixo, tudo tem que ser levado para as partes secas."

"Testemunhei uma forte tempestade em 1976. O porão da casa em frente estava alagado e aqui em casa a água chegou a dez centímetros de altura. Você tem tanto a fazer que não tem tempo para ter medo. Na época, eu ainda era criança. Como todos ficaram calmos, não entrei em pânico. Só num momento, quando quis ver a altura da água no porão e não consegui mais fechar a porta. Mas depois funcionou."

"Em 1976, tudo aconteceu durante o dia, o que significa que se podia ver as coisas. Esse não havia sido o caso nas fortes tempestades anteriores. Elas aconteceram durante a noite, e isso sempre é muito desagradável."

Jan conta que é natural todos se ajudaremFoto: DW/T. Walker

A família de Jan Dell Missier vive em Hooge há várias gerações. Ele ajuda a fixar o pequeno dique de contenção para que o Hallig não seja inundado com muita frequência durante o verão, quando as vacas e ovelhas pastam entre as colinas. Ele descreve os procedimentos durante uma enchente.

"Se acontece durante o verão, as vacas ainda estão fora, então é preciso garantir que todos possam vir ajudar rapidamente. Todos se ajudam. Todos tentam trazer para as áreas mais altas o que está na área de inundação. Mas como recebemos as advertências a tempo, sempre funciona muito bem."

"Quando recebemos o aviso de tormenta e a previsão de que a água vai subir um metro ou um metro e meio, primeiro esperamos para ver se ela vem. E quando começa, a gente fica um pouco mais agitada. Então aqui em cima fica tudo cheio de animais . Eles não vêm sozinhos, é preciso guiá-los. Eles ficam aqui até a água baixar."

Para Sandra, inundações são período de contemplaçãoFoto: DW/T. Walker

Sandra Wendt também nasceu em Hooge. Como muitos outros habitantes da ilha, ela aluga uma casa de férias. E também trabalha num cinema que mostra apenas um filme sobre uma inundação. Depois de vivenciar várias enchentes, ela se acostumou ao fenômeno natural.

"É realmente sensacional! Você sabe que a água sobe, o dique transborda, e vai desaparecer. Sem provocar grandes prejuízos. É algo que muitos gostariam de vivenciar, porque você pode ver o ritmo da natureza, e é incrivelmente bonito, faz parte da vida aqui."

"Sabemos quando temos que estar em casa. As ruas que levam às partes altas são as primeiras atingidas pelas enchentes. Você faz algumas compras, vai para casa, assa uns biscoitos e finalmente tem tempo para conversar com os vizinhos."

"Para nós é sempre uma boa época para simplesmente observar a natureza. No inverno é quando encontramos nosso descanso, o que significa também ter tempo para nossa terra e podermos encontrar nosso próprio ritmo."

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