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Heine, o cruel cosmopolita

Mathis Winkler (fm)21 de março de 2006

Em entrevista à DW-WORLD, Nigel Reeves, especialista inglês em literatura, fala sobre Heinrich Heine e a sua obra.

Heinrich Heine pode ser considerado um cidadão europeuFoto: Picture-Alliance/dpa

DW-WORLD: Por que se deveria ler Heine nos dias de hoje?

Nigel Reeves: Porque ele tinha um faro bastante aguçado para a pomposidade política, para posturas de fachada, para a retórica vazia. Ele ajuda a entender como os políticos tentam se apresentar no mundo atual, bem como no seu mundo do século 19. Satírico, ele serve a um propósito bastante útil, embora, atualmente o seu objeto de sátira – ou seja, sua Alemanha – não exista mais. Além disso, é divertido ler Heine. A literatura de entretenimento geralmente sobrevive por mais tempo, o melhor exemplo na Inglaterra talvez seja Charles Dickens. Uma razão a mais é ele ser um dos poucos grandes escritores alemães que tentaram interligar várias culturas. Pode-se argumentar que Thomas Mann também tentou fazê-lo. Porém, outros importantes poetas alemães, como Schiller e Goethe, estão muito enraizados em seus próprios mundos. Devido ao seu engajamento na França, Heine é considerado por alguns um poeta francês. Isso certamente lhe dá um certo realce.

Por que, na sua opinião, ele é mais popular em outros países do que na própria Alemanha?

Acho que as seus retratos satíricos da vida na Alemanha incomodam muito. Não há tantos poetas ou escritores no pais que hajam sido tão precisos e críticos na sua apreciação e descrição da terra natal. Heine foi bem cruel em muitos pontos.

Heine é geralmente chamado de "cosmopolita" e "cidadão europeu". Estas descrições são apropriadas?

Ele estava aberto à literatura de outros países. A França era, logicamente, sua grande paixão, mas ele se interessava pela Itália, foi um grande admirador da Grécia antiga. Acho que, em termos de abertura, ele foi um verdadeiro cosmopolita - um intelectual cosmopolita. Certamente pode ser chamado de cidadão europeu.

O que Heine diria sobre a Europa atual?

Ele se interessaria pelo lado divertido da coisa. Se prestasse atenção em algumas das coisas que acontecem no Parlamento Europeu, ele se divertiria bastante. Acho que perceberia a desunião e as cisões mais profundas, que não são perceptíveis superficialmente. Ele brincaria com a palavra "união". Se você se aprofunda um pouco mais, percebe que, no final das contas, cada país membro só está preocupado com os próprios interesses. Isto não quer dizer que ele não aprovaria a idéia de se unificar os países europeus. Heine seria a favor de uma quebra do nacionalismo estreito e rígido. Aprovaria o fato de se ter uma região mais multilingual, por onde se pode viajar mais livremente. Ele apontaria os aspectos positivos. Tenho certeza disso.

Nigel Reeves, especialista em Heinrich HeineFoto: Aston University

Nigel Reeves é professor de Alemão na Universidade Aston em Birmingham. Fez inúmeras pesquisas sobre Heine. É autor do livro Heinrich Heine: Poetry and Politics.

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