Durante seu governo, ex-chanceler federal alemão manteve linha direta com três presidentes em Washington. Confiança dos americanos foi particularmente importante durante o processo de reunificação da Alemanha.
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"De Bonn saiu um grande chanceler federal", escreveu em verso o ex-presidente americano George H. W. Bush em 1990, durante uma conferência de dois dias em Paris, em que ele estava supostamente entediado. Somente seu antigo chefe de gabinete John Sununu conhece a continuação do poema, cujas primeiras linhas foram divulgadas recentemente em livro. Mas não é nenhum segredo que Bush tinha muito apreço por Helmut Kohl, morto nesta sexta-feira (16/06), aos 87 anos.
Em entrevista à Deutsche Welle, o ex-presidente americano falou de uma "relação estreita e de confiança" entre ele e Kohl. Por esse motivo, no início do processo de reunificação, não foi difícil para ele tomar "a decisão de maior alcance" que poderia haver nesse contexto: apoiar, em princípio, a Unidade Alemã – contra todas as ressalvas de britânicos e franceses.
"Eles eram unidos, nutriam um apreço mútuo e sabiam que precisavam um do outro", afirma sobre os dois estadistas Stephen Szabo do think tank Fundo Marshall Alemão, baseado em Washington. A aptidão de Kohl de travar amizades permitiu que ele lidasse da mesma forma confiante com três presidentes americanos tão diferentes, como Ronald Reagan, George W. Bush e Bill Clinton – e isso além das linhas partidárias.
"Na memória dos americanos, Kohl não ficou somente como um amigo próximo de Reagan, mas, curiosamente, também de Clinton", explica Jackson Janes, do Instituto Americano de Estudos Alemães Contemporâneos. "A relação com Bush foi a mais intensa, pois foi ela que fez história", diz Janes, aludindo à Unidade Alemã.
Confiabilidade de Kohl
Kohl é visto pelos americanos, em primeira linha, como "o chanceler federal da unificação dos dois Estados alemães", afirma Michael Werz, do centro de investigação Center for American Progress.
Segundo ele, o antigo presidente Bush apoiou a Reunificação alemã por "legítimo interesse nacional". No entanto, diz Werz, muitos conservadores nos EUA interpretaram o processo de Reunificação também como "um signo da vitória sobre a União Soviética".
No caminho rumo à Reunificação alemã, Kohl teria "garantido que a Alemanha não se distanciasse dos europeus", assegura Jackson Janes. "Foi um ato de equilíbrio, que funcionou em grande parte."
Mas, além da habilidade de estadista de Kohl, os americanos apreciavam principalmente a sua confiabilidade. O fato de Margaret Thatcher não poder ter convencido o ex-presidente americano Ronald Reagan a apoiar a sua política de rejeição aguda à Unidade Alemã tem a ver também com a grande confiança que Kohl conseguiu junto a Reagan.
À época da decisão da Otan de instalar mísseis nucleares na Europa em oposição às armas soviéticas, o especialista Szabo explica que, junto a Reagan, Kohl "passou por um momento muito difícil".
"Em 1982, Kohl se tornou chanceler federal e o país todo estava em alvoroço. Muitos aqui se perguntavam como o chefe alemão de governo conseguiria lidar com a situação", resume Szabo a posição dentro do governo Reagan.
"Ele [Kohl] disse simplesmente, nós vamos fazer isso" – e não vacilou. Isso impressionou tremendamente Reagan e criou um "laço de confiança" entre os dois políticos, explica o especialista.
Unidade em primeiro plano
Enquanto nos EUA Kohl deverá ficar na memória principalmente como o chanceler federal responsável pela Reunificação, seus esforços pela unidade europeia e introdução do euro ficam em segundo plano. Também o infame escândalo de financiamento partidário chama atenção somente de especialistas, ressalta Janes.
Helmut Kohl, o arquiteto da reunificação alemã
07:30
O mesmo vale para a sua controversa doutrina da "revolução espiritual e moral", que Werz diz ver de forma crítica, já que "tem como objetivo uma revisão do movimento estudantil inspirado nas manifestações contra a Guerra do Vietnã e na cultura de protesto dos EUA".
Para Werz, o chamado movimento de 1968 seria uma continuação do processo de desnazificação da República Federal da Alemanha. Por esse motivo, do ponto de vista americano, era difícil entender a "atitude agressiva de Kohl contra tal movimento".
"Dedicado às pessoas"
Szabo avalia que, em termos relativos, Kohl permanece na memória somente de poucos americanos. "Faz bastante tempo, e as pessoas têm memória curta." Por outro lado, acrescenta Szabo, a chanceler federal Angela Merkel goza hoje de grande popularidade, até mesmo entre os taxistas americanos.
Para todos aqueles que se lembram dele nos EUA, Kohl foi um parceiro acessível e simpático. "De certa forma, ele era como Clinton", aponta Szabo. "Ele era dedicado às pessoas e sabia lidar com elas."
Para alguns também ficaram na memória as comilanças de Kohl e Clinton no Filomenia, um restaurante nobre italiano em Washington. "Era quase lendário que ele e Clinton fizessem grandes refeições no Filomenia, com um enorme apetite", recorda Szabo.
A trajetória política de Helmut Kohl
Ele governou a Alemanha ao longo de 16 anos, mais do que qualquer outro chanceler federal. A queda do Muro de Berlim e a Reunificação são os pontos altos da carreira política de Helmut Kohl, que completa 85 anos.
Foto: picture-alliance/dpa
O pai da Reunificação
Ele governou a Alemanha de 1982 a 1998, mais tempo do que qualquer outro chanceler federal. A queda do Muro de Berlim e a Reunificação são os pontos altos da carreira política de Helmut Kohl.
Foto: dapd
Nos passos de Adenauer
Kohl entrou para a União Democrata Cristã (CDU) em 1946, quando era um estudante secundarista de 16 anos. Foi eleito deputado estadual da Renânia-Palatinado em 1959, aos 29 anos, e virou líder da bancada aos 33. Em 1966, tornou-se presidente estadual da CDU. A foto de 5 de janeiro de 1967 mostra Kohl e o primeiro chanceler federal do pós-Guerra, Konrad Adenauer, na festa de seus 91 anos, em Bonn.
Foto: picture alliance / dpa
Governador aos 39 anos
Em 1969, com a renúncia do então governador da Renânia-Palatinado, Peter Altmeier, Kohl foi eleito seu sucessor. Ele comandaria o estado até dezembro de 1976, e o cargo não seria o auge de sua carreira política. A foto é de 1971, ano em que a CDU obteve a maioria absoluta no parlamento regional.
Foto: Imago
Em família
A família foi muito importante para a formação da imagem pública de Kohl. Ele costumava passar suas férias de verão com a esposa e os filhos sempre no mesmo lugar, no lago Wolfgangsee, na Áustria. Esta foto é de 1974, e mostra Kohl ao lado da esposa Hannelore e dos filhos Peter (d) e Walter (e) na residência da família, em Oggersheim.
Foto: imago/Sven Simon
Kohl na chancelaria federal
Em 1973, Kohl se tornaria presidente nacional da CDU. Mas ele ainda não tinha atingido sua grande meta: a chancelaria federal. Foi só em 1982, quando divergências entre social-democratas e liberais levaram ao fim da coalizão que sustentava o então chanceler federal Helmut Schmidt, que Kohl finalmente conseguiu alcançar seu objetivo. Na foto, de 1º de outubro de 1982, Schmidt parabeniza o sucessor.
Foto: picture-alliance/dpa
Chanceler federal por 16 anos
Kohl foi três vezes reeleito para a chancelaria federal, ocupando o cargo ao longo de 16 anos, de 1982 a 1998. Ele permaneceu na presidência da CDU, para a qual havia sido eleito em 1973, até 1998. A partir de 2000, passou a ser o presidente de honra do partido. A foto é de 11 de setembro de 1989, quando Kohl foi reeleito para a presidência da CDU.
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Gesto de reconciliação
Esta foto, que mostra Kohl ao lado do primeiro-ministro da França, François Mitterrand, correu mundo. Ela foi tirada em 22 de setembro de 1984, durante um evento para celebrar a reconciliação franco-alemã, perto do cemitério de Verdun, onde estão enterrados soldados que morreram na batalha de 1916. Ao se darem as mãos, os dois líderes criaram uma forte imagem de unidade e reconciliação.
Foto: ullstein bild/Sven Simon
Queda do Muro
Kohl foi literalmente surpreendido pela queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989. Ele estava em viagem pela Polônia quando os cidadãos da Alemanha Oriental invadiram a fronteira interna alemã, com a anuência dos guardas do lado oriental. Kohl interrompeu imediatamente sua visita à Polônia. Na foto, de 10 de novembro de 1989, ele é cercado por berlinenses na avenida Kurfürstendamm.
Foto: picture-alliance/dpa
Negociações com a União Soviética
Na foto Kohl (d) aparece junto com Mikhail Gorbatchov (centro), e o ministro alemão do Exterior, Hans-Dietrich Genscher (e), durante uma visita ao Cáucaso, em 15 de julho de 1990, para discutir a reunificação alemã. Durante uma caminhada com Gorbatchov, Kohl obtivera do então chefe do Kremlin a aprovação da reunificação do país e da retirada das tropas soviéticas da Alemanha Oriental.
Foto: picture-alliance/dpa
Acordo entre as Alemanhas
Na presença do chanceler da Alemanha Oriental, Lothar de Maizière (esq. atrás) e do chanceler federal Helmut Kohl (centro atrás), os ministros da Finanças da Alemanha Ocidental e Oriental, Theo Waigel (dir.) e Walter Romberg (esq.), assinam, em 18 de maio de 1990, o acordo que abriria caminho para a Reunificação.
Foto: picture-alliance/dpa
Chanceler da Reunificação
A Reunificação alemã, em 3 de outubro de 1990, foi o ponto alto da carreira de Helmut Kohl. Ele entraria para a história como o "chanceler da Reunificação". Na foto, Kohl aparece ao lado da esposa Hannelore, do ministro do Exterior Hans-Dietrich Genscher (e) e do presidente Richard von Weizsäcker (d).
Foto: picture-alliance/dpa
Paisagens florescentes
No início dos anos 1990, Kohl é festejado pelos alemães-orientais como promotor da Reunificação. É dessa época a famosa expressão "paisagens florescentes", que ele usou para se referir ao futuro imediato da antiga Alemanha Oriental. A foto mostra o então chanceler cercado por admiradores em Leipzig, durante uma campanha eleitoral, em 14 de março de 1990.
Foto: picture-alliance/dpa
Mentor da primeira chanceler
Sem Kohl, o sucesso da atual chanceler federal alemã, Angela Merkel, é praticamente inconcebível. Foi ele que apoiou a política oriunda da Alemanha Oriental no início da sua carreira nacional, escolhendo-a para ser ministra da Família e, mais tarde, do Meio Ambiente. A foto é de 16 de dezembro de 1991, quando Merkel era ministra da Família.
Foto: picture-alliance/dpa
Fim de uma era
Em setembro de 1998, a CDU perdeu as eleições parlamentares, o que abriu caminho para o primeiro governo de uma coalizão entre social-democratas e verdes. A foto mostra uma cerimônia de despedida para Kohl, em Berlim, com honras militares.
Foto: picture-alliance/dpa
Escândalo de caixa dois
Em 1999, a imagem de Kohl é duramente atingida por um escândalo de doações ilegais para campanhas eleitorais da CDU ao longo dos anos 1990. O partido vira as costas para Kohl, e a primeira a fazê-lo é Merkel, sua protegida. Na foto, de dezembro de 1999, Kohl deixa mais cedo uma entrevista coletiva sobre o caso. Ao fundo, o presidente da CDU, Wolfgang Schäuble, e a secretária-geral Angela Merkel.
Foto: picture-alliance/dpa
Relação rompida
Kohl acabou admitindo que sabia das doações, mas se recusou a dar o nome dos doadores, anônimos até hoje. O processo contra Kohl foi arquivado em troca de uma multa milionária, e ele se afastou da política. Merkel tentou várias vezes se reconciliar com seu antigo mentor, que rejeitou todas as tentativas de aproximação. A foto mostra os dois na festa de 75 anos de Kohl, em Berlim, em 2005.