Com uma biografia marcada pelas terríveis consequências da Segunda Guerra Mundial, ex-chanceler federal soube guiar a Alemanha para a Reunificação e a integração europeia.
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Ao ser indagado certa vez sobre o que achava de todos os memoriais erigidos em sua honra, Helmut Kohl reagiu com humor: quando os visitantes vão embora, primeiro vêm os pombos, depois os cães, e "o que ambos fazem, sabe-se bem", disse.
Com a queda do Muro de Berlim e a forma enérgica como ele organizou a Reunificação da Alemanha, o ex-chanceler federal, falecido em 2017, foi alçado ao posto de figura histórica. O fato de ter ganhado um memorial ainda em vida por si só já o destaca no meio de tantos poderosos.
Na verdade, porém, no histórico ano de 1989 o democrata-cristão já se encontrava no fim de sua trajetória política. Os críticos dentro de seu partido fizeram campanha contra ele, num verdadeiro motim. Só com muito esforço ele retomou as rédeas de sua União Democrata Cristã (CDU): mesmo com a saúde abalada, uma grande força de sobrevivência o caracteriza.
Além disso, Kohl foi um realizador astuto, que soube combinar um infalível instinto de poder com um modo de proceder estratégico. A isso, acrescente-se a chegada do momento certo, o destino e a história, com o colapso da Alemanha Oriental e a queda do Muro. Kohl reconheceu a oportunidade única e age. E agiu certo.
Unidade interna, consideração com os vizinhos
Apenas três semanas depois da acorrida às fronteiras em Berlim, Kohl apresentou no Parlamento o roteiro para a Reunificação alemã: seu plano de dez pontos é um trabalho de mestre. Sua meta, a unificação do país até então dividido entre o comunismo e o capitalismo, ainda despertava reações mistas no exterior.
Mas o então chanceler alemão enfrentou os céticos na qualidade de europeu. Por exemplo, em 19 de dezembro de 1989 em Dresden, diante de dezenas de milhares de alemães-orientais eufóricos. Na manifestação não planejada, ele escolhe com cuidado as palavras diante da multidão e gera confiança. A ênfase no discernimento e moderação ganha força, as reações contrárias se esvaziam, em grande parte.
Helmut Kohl, o arquiteto da reunificação alemã
07:30
Ao lado da configuração da Reunificação da Alemanha, a política externa foi também um ponto alto dos 16 anos de Kohl no governo federal. A amizade com a França, a reconciliação com a Polônia e uma relação marcada por compreensão e sensibilidade com a debilitada União Soviética foram características de sua política prudente em relação às nações vizinhas.
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Europa como tarefa alemã
A experiência da Segunda Guerra Mundial marcou de forma definitiva a biografia de Kohl. A morte como soldado do irmão mais velho, Walter, o ocupou por toda a vida. A divisão da Europa em Leste e Oeste também foi decisiva para ele, que tinha 15 anos de idade ao fim do conflito mundial.
Sendo tão jovem, ele não se tornara culpável na Alemanha nazista. Esse fato o político denominava "a bênção do nascimento tardio", o que por muito tempo lhe valeu críticas severas.
Tendo passado a infância na guerra e a juventude entre os escombros, Kohl foi um clássico representante da "geração nunca mais". Consequentemente, a integração da Alemanha na Europa, em especial da nação expandida a partir de 1990, é uma espécie de segunda linha mestra na vida do homo politicus.
Com sua característica habilidade de unir política e simbolismo histórico, o conservador alemão estendeu a mão ao socialista francês François Mitterrand por sobre as trincheiras da Primeira Guerra Mundial em Verdun.
Kohl encarou a Europa como uma tarefa alemã. Ele empregou seu poder na luta pelo euro, visando tornar irrevogável a unificação do bloco. E impõs a ampliação da União Europeia com os países do Leste – mesmo ao preço de uma sobrecarga das estruturas europeias.
Um europeu simplesmente alemão
Também fica na lembrança o ser humano Helmut Kohl. Ao contrário de seus antecessores social-democratas – o visionário Willy Brandt e o perito em economia Helmut Schmidt –, durante muitos anos ele permaneceu subestimado, como homem e político.
Também devido a sua origem provinciana, que nunca tentou esconder, e a seu jeito um tanto desengonçado de caminhar, grande parte da sociedade alemã não o considera digno de ser levado a sério como personalidade pública. Ele é visto como um tipo inadequado à época – e isso apesar de a CDU ter apresentado nessas décadas resultados eleitorais com que hoje só pode sonhar.
O sucesso de Kohl no período anterior à Reunificação alemã deveu-se justamente a sua qualidade de alemão mediano – na melhor acepção do termo, de quem se identifica com os gostos e o jeito de ser da média da população. Ele incorporou a essência do homem alemão na segunda – e melhor – metade do século 20. E por isso revelou tanto sobre o seu povo.
"Helmut Kohl é uma parte considerável de mim", comentou certa vez um colaborador próximo. A descrição procede: ele era simplesmente alemão. E, no entanto, um grande europeu.
A trajetória política de Helmut Kohl
Ele governou a Alemanha ao longo de 16 anos, mais do que qualquer outro chanceler federal. A queda do Muro de Berlim e a Reunificação são os pontos altos da carreira política de Helmut Kohl, que completa 85 anos.
Foto: picture-alliance/dpa
O pai da Reunificação
Ele governou a Alemanha de 1982 a 1998, mais tempo do que qualquer outro chanceler federal. A queda do Muro de Berlim e a Reunificação são os pontos altos da carreira política de Helmut Kohl.
Foto: dapd
Nos passos de Adenauer
Kohl entrou para a União Democrata Cristã (CDU) em 1946, quando era um estudante secundarista de 16 anos. Foi eleito deputado estadual da Renânia-Palatinado em 1959, aos 29 anos, e virou líder da bancada aos 33. Em 1966, tornou-se presidente estadual da CDU. A foto de 5 de janeiro de 1967 mostra Kohl e o primeiro chanceler federal do pós-Guerra, Konrad Adenauer, na festa de seus 91 anos, em Bonn.
Foto: picture alliance / dpa
Governador aos 39 anos
Em 1969, com a renúncia do então governador da Renânia-Palatinado, Peter Altmeier, Kohl foi eleito seu sucessor. Ele comandaria o estado até dezembro de 1976, e o cargo não seria o auge de sua carreira política. A foto é de 1971, ano em que a CDU obteve a maioria absoluta no parlamento regional.
Foto: Imago
Em família
A família foi muito importante para a formação da imagem pública de Kohl. Ele costumava passar suas férias de verão com a esposa e os filhos sempre no mesmo lugar, no lago Wolfgangsee, na Áustria. Esta foto é de 1974, e mostra Kohl ao lado da esposa Hannelore e dos filhos Peter (d) e Walter (e) na residência da família, em Oggersheim.
Foto: imago/Sven Simon
Kohl na chancelaria federal
Em 1973, Kohl se tornaria presidente nacional da CDU. Mas ele ainda não tinha atingido sua grande meta: a chancelaria federal. Foi só em 1982, quando divergências entre social-democratas e liberais levaram ao fim da coalizão que sustentava o então chanceler federal Helmut Schmidt, que Kohl finalmente conseguiu alcançar seu objetivo. Na foto, de 1º de outubro de 1982, Schmidt parabeniza o sucessor.
Foto: picture-alliance/dpa
Chanceler federal por 16 anos
Kohl foi três vezes reeleito para a chancelaria federal, ocupando o cargo ao longo de 16 anos, de 1982 a 1998. Ele permaneceu na presidência da CDU, para a qual havia sido eleito em 1973, até 1998. A partir de 2000, passou a ser o presidente de honra do partido. A foto é de 11 de setembro de 1989, quando Kohl foi reeleito para a presidência da CDU.
Foto: picture alliance/Martin Athenstädt
Gesto de reconciliação
Esta foto, que mostra Kohl ao lado do primeiro-ministro da França, François Mitterrand, correu mundo. Ela foi tirada em 22 de setembro de 1984, durante um evento para celebrar a reconciliação franco-alemã, perto do cemitério de Verdun, onde estão enterrados soldados que morreram na batalha de 1916. Ao se darem as mãos, os dois líderes criaram uma forte imagem de unidade e reconciliação.
Foto: ullstein bild/Sven Simon
Queda do Muro
Kohl foi literalmente surpreendido pela queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989. Ele estava em viagem pela Polônia quando os cidadãos da Alemanha Oriental invadiram a fronteira interna alemã, com a anuência dos guardas do lado oriental. Kohl interrompeu imediatamente sua visita à Polônia. Na foto, de 10 de novembro de 1989, ele é cercado por berlinenses na avenida Kurfürstendamm.
Foto: picture-alliance/dpa
Negociações com a União Soviética
Na foto Kohl (d) aparece junto com Mikhail Gorbatchov (centro), e o ministro alemão do Exterior, Hans-Dietrich Genscher (e), durante uma visita ao Cáucaso, em 15 de julho de 1990, para discutir a reunificação alemã. Durante uma caminhada com Gorbatchov, Kohl obtivera do então chefe do Kremlin a aprovação da reunificação do país e da retirada das tropas soviéticas da Alemanha Oriental.
Foto: picture-alliance/dpa
Acordo entre as Alemanhas
Na presença do chanceler da Alemanha Oriental, Lothar de Maizière (esq. atrás) e do chanceler federal Helmut Kohl (centro atrás), os ministros da Finanças da Alemanha Ocidental e Oriental, Theo Waigel (dir.) e Walter Romberg (esq.), assinam, em 18 de maio de 1990, o acordo que abriria caminho para a Reunificação.
Foto: picture-alliance/dpa
Chanceler da Reunificação
A Reunificação alemã, em 3 de outubro de 1990, foi o ponto alto da carreira de Helmut Kohl. Ele entraria para a história como o "chanceler da Reunificação". Na foto, Kohl aparece ao lado da esposa Hannelore, do ministro do Exterior Hans-Dietrich Genscher (e) e do presidente Richard von Weizsäcker (d).
Foto: picture-alliance/dpa
Paisagens florescentes
No início dos anos 1990, Kohl é festejado pelos alemães-orientais como promotor da Reunificação. É dessa época a famosa expressão "paisagens florescentes", que ele usou para se referir ao futuro imediato da antiga Alemanha Oriental. A foto mostra o então chanceler cercado por admiradores em Leipzig, durante uma campanha eleitoral, em 14 de março de 1990.
Foto: picture-alliance/dpa
Mentor da primeira chanceler
Sem Kohl, o sucesso da atual chanceler federal alemã, Angela Merkel, é praticamente inconcebível. Foi ele que apoiou a política oriunda da Alemanha Oriental no início da sua carreira nacional, escolhendo-a para ser ministra da Família e, mais tarde, do Meio Ambiente. A foto é de 16 de dezembro de 1991, quando Merkel era ministra da Família.
Foto: picture-alliance/dpa
Fim de uma era
Em setembro de 1998, a CDU perdeu as eleições parlamentares, o que abriu caminho para o primeiro governo de uma coalizão entre social-democratas e verdes. A foto mostra uma cerimônia de despedida para Kohl, em Berlim, com honras militares.
Foto: picture-alliance/dpa
Escândalo de caixa dois
Em 1999, a imagem de Kohl é duramente atingida por um escândalo de doações ilegais para campanhas eleitorais da CDU ao longo dos anos 1990. O partido vira as costas para Kohl, e a primeira a fazê-lo é Merkel, sua protegida. Na foto, de dezembro de 1999, Kohl deixa mais cedo uma entrevista coletiva sobre o caso. Ao fundo, o presidente da CDU, Wolfgang Schäuble, e a secretária-geral Angela Merkel.
Foto: picture-alliance/dpa
Relação rompida
Kohl acabou admitindo que sabia das doações, mas se recusou a dar o nome dos doadores, anônimos até hoje. O processo contra Kohl foi arquivado em troca de uma multa milionária, e ele se afastou da política. Merkel tentou várias vezes se reconciliar com seu antigo mentor, que rejeitou todas as tentativas de aproximação. A foto mostra os dois na festa de 75 anos de Kohl, em Berlim, em 2005.