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Hipnose pode ajudar fumantes a largar o cigarro

Diana Fong (md)8 de janeiro de 2015

Terapia, segundo especialistas, atua no inconsciente. Paciente relata ter deixado tabagismo após somente uma sessão. Médicos, entretanto, ressaltam que vontade é principal requisito para se atingir meta.

Foto: Fotolia/nikkytok

Fumantes sabem que o uso do tabaco está ligado ao câncer e a doenças cardíacas. No entanto, não é a mente racional e cognitiva que mantém o hábito da nicotina, mas, sim, o inconsciente. E este, segundo especialistas, pode ser alcançado através da hipnose.

Na Alemanha, a hipnose é reconhecida como um método de tratamento no campo da psicoterapia desde 2006 – mas ainda sofre de um problema de imagem. Isso pode ter a ver com a forma como a prática da hipnoterapia é, muitas vezes, confundida com a hipnose de palco, onde um sujeito pode ser instruído a engolir uma meia dúzia de ovos crus na frente de uma audiência na TV e, depois, não se lembra mais do ocorrido.

"Na hipnose de palco, a pessoa está em um transe tão profundo que o pensamento cognitivo é desligado", explica o hipnoterapeuta Norbert Schick, da cidade alemã de Bonn. "Menos de um terço de todos os adultos é capaz de ser hipnotizado até este ponto. É como um apagão", acrescenta Schick, que tem ajudado pacientes a superar seus medos e vícios nos últimos 20 anos.

Quando paciente entra em transe, seu inconsciente se abre ao tratamento

Ponte entre consciente e inconsciente

Em contrapartida, um fumante sob hipnoterapia para deixar de fumar fica bastante consciente do que está acontecendo em torno de si. "É um estado natural no qual todo mundo é capaz de entrar. Quando você está profundamente envolvido com um bom livro ou filme, você está em um estado de hipnose", compara Schick.

A mente sabe que está assistindo a um filme de ficção com atores interpretando personagens, mas é capaz de suspender a descrença por duas horas em um cinema escuro. "Neste estado, parecido com o transe, o hipnotizador se comunica com a mente. Você ri, você chora, emoções vêm à tona, e o inconsciente se abre", afirma.

Onde há vontade, há solução

O advogado Jochen Gerhard, de 58 anos, fumava pelo menos um maço por dia durante 40 anos, até parar, abruptamente, há dois anos. Apesar de uma cirurgia de ponte de safena aos, Gerhard continuou a fumar até que seu médico lhe deu um ultimato hipotético, mas realista: parar de fumar ou morrer de um ataque cardíaco. O médico, então, recomendou uma hipnoterapeuta local.

"Nesse ponto, minha vontade de parar de fumar era tanta que eu disse, tudo bem, eu vou tentar", lembra Gerhard. Ele não tinha nada a perder, a não ser os 150 euros que custa uma sessão de grupo de um dia inteiro na Alemanha.

Fotos em maços de cigarro: vontade de parar é principal ingrediente para sucesso de qualquer terapia contra tabagismoFoto: picture-alliance/dpa

No princípio, Gerhard era cético em relação à hipnose – especialmente quando o dia começou com o hipnoterapeuta fazendo um empolgado sermão de encorajamento, digno de um pastor evangélico. "Ele gritava e ficava repetindo: 'vocês não querem mais fumar! Vocês podem parar, vocês são fortes'. E nós gritamos de volta 'sim! nós podemos, nós somos fortes!'", recorda.

Ao grupo heterogêneo de homens e mulheres, jovens e velhos, foram mostradas imagens de pulmões de um fumante, enegrecidos por alcatrão, e dentes amarelados pelo tabaco, entre outras fotos arrepiantes. Depois, eles saíram para fumar seu último cigarro.

De cético a convencido

Quando eles voltaram para a sala, se deitaram em macios colchonetes, ouvindo música suave. As luzes se apagaram e uma vela foi acesa, para induzir a um estado hipnótico. "Eu me perguntava se aquilo não era coisa de esotéricos. Mas, então, tentei deixar de lado esses pensamentos e se concentrar na voz do hipnotizador", afirma Gerhard. "Ele ficava repetindo o que havia dito anteriormente, mas desta vez de forma muito lenta e enfática."

Então, acabou. As luzes foram acesas, e Gerhard jogou fora seu maço restante de cigarros. "Desde então, não tive mais vontade de fumar. Eu não sinto falta. Não sei explicar o porquê", garante Gerhard.

O teste para a resistência de Gerhard ao cigarro veio no último Natal, quando ele e sua esposa, Sabine, passaram as férias com os pais dele, que são fumantes inveterados. "Ele não acendeu um cigarro", conta Sabine Gerhard, que testemunhou as tentativas anteriores fracassadas de Jochen para deixar o tabagismo. "Ele costumava ser uma pilha de nervos (sem cigarros). Mas agora ele se comporta como uma pessoa normal, emocionalmente equilibrada", ressalta.

Descrédito na hipnoterapia é atribuído à associação com a hipnose de palco, usada para entretenimentoFoto: Fotolia/S. Botas

Reprogramando a mente

"É como uma reprogramação do inconsciente. O cigarro se torna cada vez menos atraente até que o fumante passa a ser indiferente a ele", explica o hipnoterapeuta Norbert Schick.

Segundo ele, as primeiras tentativas de parar de fumar muitas vezes fracassam. Mas não é dependência da nicotina que impede fumantes de parar de fumar, já que o produto químico, rapidamente metabolizado, deixa o corpo em questão de dias.

"Deixar de fumar é uma decisão mental, e se a pessoa não está pronta, então nenhum método será bem-sucedido", avalia Martina Pötschke-Langer, chefe da unidade de prevenção do câncer do Centro Alemão de Pesquisa do Câncer, em entrevista à DW. "Mais de 80% das pessoas conseguem deixar o cigarro sem qualquer apoio ou métodos. Elas decidem que querem parar de fumar e param", sublinha, acrescentando que menos de 1% de todos os ex-fumantes na Alemanha usaram a hipnose para parar de fumar.

"Não há recomendação de associações médicas que classifique a hipnose como um método adequado para se parar de fumar", destaca Pötschke-Langer. Mas ela admite que, em casos individuais, a hipnose pode ajudar fumantes a largarem o vício, dependendo da habilidade e qualificação do hipnoterapeuta.

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