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Imigração

Ludger Kazmierczak (sv)2 de novembro de 2006

Dois anos após o assassinato do cineasta Theo van Gogh, o balanço da política imigratória no país é claro: menos estrangeiros com passaporte holandês e uma "dama de ferro" que dá as cartas.

Ruas de Amsterdã: mudança na postura liberal dos holandesesFoto: AP

Pouco depois que um jovem holandês de origem marroquina, no 2 de novembro de 2004, atirou em Theo van Gogh, cineasta e crítico ferronho do fundamentalismo islâmico, o clima nos Países Baixos tornou-se mais que tenso. Mesquitas e escolas islâmicas foram incendiadas em todo o país e o governo passou a reagir com a força da lei, cerceando rapidamente os direitos dos estrangeiros.

O cineasta morto Theo van GoghFoto: AP

Hoje, passados exatos dois anos, a situação obviamente já se tornou mais branda. Os efeitos da morte de Van Gogh, porém, ainda podem ser sentidos, principalmente pelos estrangeiros que vivem na Holanda. Como Taida Pasic, por exemplo, que foi deportada de volta à Bósnia pouco antes de fazer as provas que possibilitam o ingresso numa universidade do país.

Ou Hui Chen, um menino chinês de oito anos que acabou indo parar na prisão junto com sua mãe, depois que o pedido de asilo político da família foi recusado pelas autoridades. Além do caso da emigração para os Estados Unidos da ativista e crítica do islã Hirsi Ali, depois que as autoridades holandesas ameaçaram tirar seu passaporte devido a uma declaração dada por ela décadas atrás – um caso que causou polêmica para além das fronteiras holandesas.

De um dia para o outro

Essas são histórias que, na Europa, assustam qualquer pessoa habituada à imagem da Holanda como um país liberal e tolerante. "Eu não acreditava que nossa sociedade iria passar por transformações tão rápidas. E que princípios, valores e formas de comportamento, antes tidos como absolutamente normais, de um dia para o outro simplesmente desapareceriam. Achava que isso não seria possível", diz Kees Groenendijk, diretor do Centro de Pesquisa sobre Migração da Universidade de Nijmegen.

"Dama de ferro" à holandesa

Rita Verdonk, ministra holandesa da IntegraçãoFoto: AP

Rita Verdonk é o nome da mulher que dá as cartas e comanda mudanças tão radicais no país. A ministra da Integração tem como prioridade enviar, o mais depressa possível, os cerca de 30 mil requerentes de asilo que se encontram na Holanda de volta para seus países de origem. Cerceando, desta forma, a imigração.

Para isso, Verdonk criou a obrigatoriedade de um teste para todos os estrangeiros que pretendem adquirir a cidadania holandesa. Passar no teste antes mesmo de deixar seus países de origem passou a ser pré-requisito para conseguir um visto de entrada na Holanda.

"Argumentos hipócritas"

Verdonk afirma que "essas pessoas precisam vir para cá preparadas, para que tenham oportunidades reais no mercado de trabalho ou encontrem um vaga de aprendiz em alguma empresa".

O pesquisador Groenendijk vê, contudo, uma boa dose de hipocrisia no argumento da ministra. E acredita que as regras só foram criadas para dificultar a vinda de parentes ou impedir casamentos de estrangeiros que vivem na Holanda com cônjujes de seus países de origem.

Exclusão e seleção

Escola islâmica em Eindhoven: corrente pela pazFoto: AP

Os testes obrigatórios custam nada menos que 350 euros, o que, para uma pessoa que vem do Marrocos, da Indonésia (ex-colônia holandesa) ou da Turquia, pode representar uma verdadeira fortuna. O ministério comandado por Verdonk, embora seja intitulado "da Integração", não costuma fazer jus ao nome. "O que os políticos querem com isso é uma redução da migração, exclusão e seleção de estrangeiros", acusa Groenendijk.

A partir da perspectiva do governo de centro-direita, os testes para aquisição da cidadania holandesa, introduzidos em março último, são um verdadeiro sucesso, pois o número de pedidos a serem analisados pelas autoridades por mês caiu de 2.500 para 150 a 200. Fazendo com que a imigração se transformasse numa verdadeira roleta russa, onde a sorte, e não os direitos, é o que conta.

Amada e odiada

Com sua política linha-dura, Verdonk fez muitos amigos no país, mas também muitos inimigos. Se por um lado alguns holandeses a têm como a política mais adorada, por outro ela vem sendo ofendida, atacada e até ameaçada. "Se eu tenho medo? É claro que sim, às vezes. É realmente bizarro que no dia da homenagem em memória de Theo van Gogh eu tenha que usar um colete antibalas. Nunca pensei que chegaríamos a este ponto, mas isso não é, para mim, razão para parar", diz Verdonk.

Segundo as análises de Groenendijk, a mudança de curso na política de integração e asilo na Holanda já havia começado pouco depois do 11 de setembro de 2001. Os atentados às torres gêmeas nos Estados Unidos levaram a Holanda a ver em qualquer cidadão muçulmano um suspeito em potencial. E os populistas de direita, na época, souberam aproveitar o momento.

Ultrapassando pela direita

Pim Fortuyn, líder populista de direita, também assassinadoFoto: AP

Por fim, um homem como Pim Fortuyn conseguiu fazer com que chavões xenófobos fossem vistos com normalidade. Sua morte e o assassinato de Theo van Gogh abriram as portas para os partidos ultraconservadores.

No entanto, nas eleições do próximo 22 de novembro, estima-se que os populistas de direita não tenham uma presença tão forte quanto nas eleições anteriores. Afinal, Rita Verdonk já os ultrapassou há muito com suas posturas. Neste ponto, tanto seus críticos quanto seus admiradores estão de acordo.

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