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Holanda homenageia os mortos da queda de avião na Ucrânia

Bernd Riegert, de Roterdã (ca)24 de julho de 2014

Com um minuto de silêncio, toques de sinos e passeatas, holandeses lembram vítimas do voo MH17. Com 193 dos 298 mortos, Holanda foi o país mais atingido pela tragédia.

Flores em frente ao restaurante Asian Glory, em Roterdã, cujos proprietários morreram na queda do aviãoFoto: DW/B. Riegert

A calçada do restaurante Asian Glory, na rua Leuwenstraat em Roterdã, está repleta de flores, coroas e velas. Lírios brancos, cravos, rosas. Centenas de amigos, conhecidos e clientes do restaurante depositam ali, já há vários dias, o seu último adeus aos dois proprietários do restaurante que morreram sobre a Ucrânia.

Três estudantes holandesas de origem asiática depositam suas flores em frente ao restaurante e tiram uma foto. "Nós não conhecíamos estas pessoas, mesmo assim queríamos estar aqui", diz uma delas. Um senhor com sacolas de compras para em frente ao local e faz o sinal da cruz.

Ao pegar o voo MH17, o chef de cozinha e dono do restaurante Fan Shun Po, de 60 anos, e sua esposa Jenny Loh (55) queriam ir a Hong Kong, terra natal de Po. Depois, eles pretendiam viajar para a Malásia, onde mora a família de Loh. O filho permaneceu em Roterdã. Agora, Kevin Fan (30) perdeu, no acidente trágico, seus pais e a sua avó Tan Siew Poh (85), que também estava a bordo.

"A família é forte"

O cozinheiro e sua esposa, cujo restaurante chinês recebeu uma estrela no Guia Michelin, eram populares e conhecidos em Roterdã. Po apareceu até mesmo num programa de culinária na TV holandesa. Para lembrar Po e Loh, já no último domingo, por volta de mil pessoas vestidas de branco caminharam em silêncio pelas ruas do centro da cidade. O prefeito de Roterdã, Ahmad Aboutaleb, também filho de migrantes, disse que todos iriam sentir falta dos empresários.

O filho enlutado é procurado diariamente por visitantes, mas ele não quer falar muito, nem mesmo com jornalistas. Em frente à porta do restaurante, um amigo próximo da família fornece informações. "A família vai bem. Eles são fortes. Naturalmente, foi um choque, mas a solidariedade é impressionante", relatou o amigo, cujo nome preferiu não revelar. Após as férias do meio do ano, o restaurante deverá reabrir em meados de agosto. "Ele deve continuar funcionando normalmente, de alguma forma", diz o jovem um pouco perplexo, levantando os ombros.

Nem todos choram

Nesta quarta-feira (23/07), o governo holandês decretou luto nacional pelas vítimas do voo MH17. Trata-se do primeiro dia desse tipo desde que a popular rainha Guilhermina morreu, em 1962. No dia de luto pelas vítimas, a rua Leuwenstraat estava mais movimentada do que em outros dias. Até mesmo um jornal de Hong Kong veio escrever sobre o assunto. O momento em que todos os holandeses deveriam fazer uma pausa e ficar quietos por um minuto foi marcado para as 16h.

Condolências ao amigo da família PohFoto: DW/B. Riegert

Naquele instante, o primeiro avião com caixões fúnebres proveniente da Ucrânia estava aterrissando em Eindhoven. Na cerimônia com honras militares que aconteceu no local estavam presentes o rei Willem-Alexander, a rainha Máxima e o primeiro-ministro Mark Rutte.

Em todo o país, os sinos das igrejas anunciaram o minuto de silêncio, e as bandeiras tremulavam a meio mastro. Em Roterdã, num cruzamento movimentado não muito longe do restaurante Asian Glory, o tráfego continuava circulando. Em algumas lojas, os clientes olhavam para os aparelhos de TV, que transmitiam a chegada dos restos mortais em Eindhoven. Somente no calçadão da rua de compras, a maioria dos transeuntes parou às 16h.

Entre eles, Marlis Cornilsen, natural de Roterdã. Ela desceu da bicicleta, "por respeito às vítimas inocentes", disse. "Fiquei muito decepcionada, também devido aos carros. Mesmo com o sinal verde pode-se ficar parado. Aqui, nas calçadas, as pessoas pararam, mas todo o tráfego, os carros, as bicicletas e motocicletas simplesmente prosseguiram."

Marlis Cornilsen em silêncio junto a outros moradores de RoterdãFoto: DW/B. Riegert

Com 193 das 298 pessoas a bordo do MH17, a Holanda foi o país mais atingido pela tragédia. A pedido da Ucrânia, especialistas holandeses assumiram a identificação dos corpos. A identificação dos proprietários do restaurante e da avó ainda pode levar dias ou semanas. Só então o filho Kevin poderá levar os restos mortais de seus pais e de sua avó para a Malásia, onde deverão ser enterrados. Alguns especialistas também são da opinião que certos corpos nunca serão encontrados, porque eles poderiam ter sido queimados dentro da bola de fogo de 1.000°C durante o acidente.

"Punição não traz os mortos de volta"

Marlis Cornilsen diz achar terrível e desrespeitosa a forma como os separatistas no leste da Ucrânia lidaram com os restos mortais das vítimas após a queda da aeronave. "Espero que eles encontrem os responsáveis. Mas o problema é tão internacional, que vai ser difícil", disse Cornilsen após o minuto de silêncio. A moradora de Roterdã afirmou achar bom que o primeiro-ministro tenha prometido, em discurso televisionado, que não descansaria até que tivesse encontrado todos os responsáveis e garantido justiça.

Cornilsen disse ser insensata a proposta de círculos conservadores de enviar aviões militares holandeses para o local da queda. "É importante que nenhuma guerra surja a partir daí. Tantas pessoas estão com raiva. Eu não estou irada, mas triste. Mesmo punindo os responsáveis, não se podem trazer de volta as pessoas que tiveram de morrer."

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