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Hollande dribla rachas no partido e tenta levar política econômica adiante

Andreas Becker (pv)25 de agosto de 2014

Após receber duras críticas de seu correligionário e ministro da Economia, presidente francês ordena que primeiro-ministro Manuel Valls forme novo governo e diz que país precisa avançar rápido contra a crise.

Presidente François Hollande deu um dia ao primeiro-ministro Manuel Valls para formar um novo governoFoto: picture-alliance/dpa

O gabinete francês apresentou sua renúncia nesta segunda-feira (25/08) e, após reunião no Palácio do Eliseu, o presidente François Hollande encarregou o primeiro-ministro Manuel Valls de formar um novo governo até terça-feira. "O presidente pediu a ele [Valls] que monte uma equipe em conformidade com os objetivos traçados para o nosso país", destacou o comunicado divulgado pela Presidência.

No cargo há apenas cinco meses, o gabinete estava rachado. À frente da oposição interna, estava o ministro da Economia Arnaud Montebourg, da ala mais à esquerda do Partido Socialista e duro crítico das políticas econômicas de Hollande e Valls. Montebourg já comunicou que não pretende ocupar qualquer cargo no novo governo.

"A Europa está ameaçada por uma recessão", afirmou Montebourg, em entrevista ao jornal Le Monde publicada no sábado. No segundo trimestre, a economia na zona do euro deixou de crescer. "O término da crise deve ser a prioridade agora, e não a redução dogmática do déficit. Isso só leva a cortes nos gastos e a um novo crescimento do desemprego", declarou o agora ex-ministro.

O índice de desemprego na França é superior a 10%, o dobro da Alemanha, maior economia do euro. Montebourg responsabilizou o governo Angela Merkel pela crise contínua na França e em outros países da zona de moeda única.

"A Alemanha está sentada na armadilha da política de austeridade, que ela impõe à toda a Europa", afirmou Montebourg. Para ele, não é do interesse da França "seguir os princípios ideológicos dos alemães conservadores".

Dentro do Partido Socialista, Montebourg pertence ao grupo dos "frondeurs", como são chamados dentro da legenda os críticos que se manifestam contra novos planos de corte de gastos e reformas, e apoiam programas estatais de investimentos.

Reformas

Do ponto de vista de Hollande e do primeiro-ministro Valls, a saída apenas de Montebourg não seria suficiente. "A renúncia do governo é um sinal para o Partido Socialista inteiro e toda a Esquerda na França", opina Claire Demesmay, especialista em França da Sociedade Alemã de Relações Exteriores. "A ação tem por objetivo mostrar aos parceiros europeus quem manda no governo, e que a França ainda deve ser levada a sério."

O primeiro-ministro Manuel Valls (esq.) e o ministro da Economia Arnaud MontebourgFoto: Philippe Desmazes/AFP/Getty Images

Na semana passada, Hollande reforçou suas metas de reforma e deixou claro que os recentes fracos dados econômicos não seriam motivo para desviar o curso de seus planos.

"Muito pelo contrário: nós precisamos avançar ainda mais rápido", defendeu Hollande ao jornal Le Monde. Segundo o presidente, constantes discussões e um "curso em ziguezague" deixariam a política apenas "incompreensível" e sem resultado prático.

Porém, o próprio Hollande é acusado por muitos de adotar um curso ziguezague. Para Demesmay, as reformas que o presidente divulga como "pacto de responsabilidade" são pautadas principalmente em cortes de gastos públicos e incentivos fiscais para empresas. "Mas reformas estruturais reais, dolorosas, não foram realizadas até então", afirma a analista política.

E isso incluiria a reforma do mercado de trabalho. Em comparação com outros países europeus, há na França mais tributos sociais, o trabalhador goza de uma proteção mais forte do emprego e de um maior subsídio para desempregados. Além disso, desde a década de 90, a carga de trabalho é de 35 horas semanais.

Baixa popularidade

Na França, aumenta o clamor por reformas semelhantes as que o ex-chanceler alemão Gerhard Schröder implementou em meados da década passada, sob o slogan de Agenda 2010. "Nós precisamos de uma Agenda 2020", disse o economista francês Alain Minc recentemente à revista Wirtschaftswoche. Mas se tais reformas são possíveis na França, com seus sindicatos tradicionalmente combativos, ainda está em aberto.

Hollande, cuja popularidade está em baixa recorde, dá sinais de que quer ser ativo em ambas as frentes. De um lado, ele pretende levar adiante seu plano de reformas; mas, por outro, quer estimular o crescimento econômico por meio de programas estatais.

Arnaud Montebourg anunciou que não pretende ocupar nenhum cargo no novo gabinete de governoFoto: picture-alliance/dpa

Um dilema praticamente insolúvel, segundo Demesmay: "Ele precisa mostrar que é soberano e que pode governar da maneira que ele acha correto. Em contrapartida, ele precisa obedecer às regras da União Europeia, onde ele não tem escolha."

O chamado Pacto de Estabilidade e Crescimento da Zona do Euro determina que os governos precisam manter o déficit público abaixo da marca de 3% do Produto Interno Bruto (PIB).

No passado, França e Itália pediram repetidamente mais tempo para cumprir essa regra. Principalmente o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schäuble, é contra uma mudança. "Não é preciso mudar as regras, é preciso cumpri-las", declarou em junho.

O governo alemão não quis comentar a renúncia do governo francês. "No momento, isso é um problema interno da França", declarou um porta-voz nesta segunda-feira em Berlim.

Em todo o caso, Mario Draghi, presidente do Banco Central Europeu (BCE), deu sinais no fim de semana que não pretende combater a crise financeira com corte de gastos, e sim, com injetando mais dinheiro.

Num encontro recente de chefes dos bancos centrais, nos Estados Unidos, Draghi assegurou que, caso necessário, usará todos os recursos disponíveis para manter a baixa inflação na zona do euro. E para isso, segundo Draghi, seria de grande utilidade se a política fiscal tivesse um papel maior. Em outras palavras: os governos devem gastar novamente mais dinheiro.

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