Maike Kohl-Richter fracassa na tentativa de barrar discurso de Merkel em cerimônia de despedida, mas consegue impedir que ato oficial seja realizado na Alemanha. Em vez disso, será em Estrasburgo.
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A União Democrata Cristã (CDU), partido do ex-chanceler federal alemão Helmut Kohl, escapou por pouco de um constrangimento após a segunda esposa do antigo chefe de governo, Maike Kohl-Richter, ter tentado impedir que a chanceler federal Angela Merkel, antiga protegida de seu marido, falasse no serviço memorial oficial do chefe de Estado, reportou a revista Der Spiegel.
Kohl-Richter, no entanto, fracassou em seus planos. Além de ser chanceler federal da Alemanha, Merkel também é a atual presidente da CDU – dois títulos que antes pertenceram ao esposo de Kohl-Richter, morto na semana passada. Mas a viúva conseguiu impor que não haja um cerimônia oficial de despedida na Alemanha.
A única homenagem oficial prestada a Kohl na Alemanha aconteceu nesta quinta-feira (22/06) no Bundestag (Parlamento). Na ocasião, o presidente do Bundestag, Norbert Lammert, assinalou: "É evidente que a homenagem a Kohl, com todo o respeito, não é somente um assunto de família." Foi uma referência às dificuldades impostas pela viúva.
Na próxima terça-feira, muitos deputados participarão de uma missa fúnebre em homenagem ao antigo chanceler na Catedral St. Hedwig, em Berlim. Segundo o líder da bancada da CDU, Volker Kauder, muitos deputados querem se despedir de Kohl na capital da Alemanha reunificada. Mas não haverá um funeral de Estado na Alemanha, o que muitos políticos lamentam.
Cerimônia europeia
Em vez disso, Kohl será o primeiro a ser honrado com um serviço memorial europeu, no próximo dia 1° de julho, no Parlamento Europeu, em Estrasburgo. O evento será realizado em reconhecimento aos seus esforços para unificar a Europa, principalmente a façanha de conseguir a reunificação da Alemanha, como também por seu esforço por uma maior integração dentro da União Europeia.
Apesar da objeção da viúva de Kohl, a presença de Merkel como oradora na cerimônia foi confirmada. Além dela, falarão o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, o presidente da França, Emmanuel Macron, e o ex-presidente dos EUA Bill Clinton. Posteriormente, o serviço memorial em Estrasburgo será seguido de uma cerimônia fúnebre na catedral católica de Speyer, localizada perto da cidade natal de Kohl, Ludwigshafen, e local onde foram enterradas várias personalidades europeias.
Queda em desgraça
Kohl havia se afastado de Merkel depois que se retirou da política, em 2002. Ele nunca a perdoou por tê-lo forçado, na prática, a deixar a vida política por seu envolvimento num escândalo de financiamento partidário, em 1999, envolvendo doações anônimas, o que é ilegal na Alemanha.
Embora o caso de caixa dois eleitoral nunca tenha apagado seu legado como arquiteto da Reunificação, no fim da vida Kohl se afastou de muitos de seus antigos aliados políticos devido à campanha que eles estariam fazendo contra ele.
Conhecido por guardar rancores, Kohl teria rejeitado a ideia da presença de Merkel em seu enterro, segundo a sua viúva. Além disso, ele teria afirmado não querer receber um funeral de Estado.
Assim, o plano de honrar a sua memória com um funeral europeu é visto como um acordo de meio-termo frente aos desejos do falecido chefe de Estado. Consta que a viúva de Kohl concordou, somente com relutância, com a fala de Merkel no serviço memorial em Estrasburgo, depois de expressar a sua objeção sobre a questão.
A controvérsia Orbán
Trinta e quatro anos mais jovem que o ex-chanceler federal, Kohl-Richter afirmou que, em vez de Merkel, Kohl queria que o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán, discursasse em sua homenagem no memorial. Orbán havia sido orientado por Kohl nos primeiros anos após o colapso do comunismo no Leste Europeu, em 1989. Na época, como jovem político, Orbán defendia ideias liberais. Mais tarde, os dois se tornaram amigos de longa data.
Como primeiro-ministro da Hungria, no entanto, Orbán tem sido criticado por seguir um curso autoritário em seu país – algo que se considera estar em desacordo com o legado de Kohl. Com a sua postura anti-União Europeia e sua rejeição quanto à vinda de refugiados para a Europa, Orbán não será convidado para falar no evento em Estrasburgo.
Não houve nenhum comentário sobre a presença de Orbán no funeral. No entanto, ele enviou uma carta a Kohl-Richter, em que ele, reportadamente, elogia a obra de Kohl como uma "bússola".
Briga de família
Consta que a viúva também entrou em confronto com Walter Kohl, filho do ex-chefe de governo que havia se afastado do pai e que disse ter sido impedido de visitar a casa do casal no início da semana, para discutir os preparativos para o funeral. Mais tarde, essa alegação foi negada pelo advogado da viúva.
Walter Kohl afirmou ter tomado conhecimento da morte do pai somente pelo rádio, após ter falado com ele, pelo telefone, em 2011 pela última vez. Os filhos de Kohl, Walter e Peter, estão entre uma série de pessoas que afirmaram que Kohl-Richter teria isolado seu pai. Kohl casou-se com sua segunda esposa em 2008 – sete anos após o suicídio de sua primeira mulher, Hannelore.
Discurso no Bundestag
Durante seu discurso em homenagem a Kohl no Bundestag, Lammert afirmou que o caráter "polarizador" de Kohl serviu como "personificação de uma medida de construção de confiança" pela qual as pessoas ansiavam em 1989, enquanto eclodiam os apelos por reunificação nas antigas Alemanha Ocidental e Oriental.
Lammert acrescentou que a morte do ex-chanceler federal também marcou uma "separação profunda" da população de uma antiga geração de líderes, que incluía Konrad Adenauer, Willy Brandt e Helmut Kohl.
No início da sessão parlamentar em Berlim, Lammert lembrou também as derrotas e pontos fracos do antigo chanceler federal. "O caminho de Kohl também foi cercado de lesões – as que ele próprio sofreu, e as que provocou nos outros."
Além de Merkel, estiveram presentes à sessão o presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, ao lado de seus antigos colegas Joachim Gauck e Horst Köhler.
A trajetória política de Helmut Kohl
Ele governou a Alemanha ao longo de 16 anos, mais do que qualquer outro chanceler federal. A queda do Muro de Berlim e a Reunificação são os pontos altos da carreira política de Helmut Kohl, que completa 85 anos.
Foto: picture-alliance/dpa
O pai da Reunificação
Ele governou a Alemanha de 1982 a 1998, mais tempo do que qualquer outro chanceler federal. A queda do Muro de Berlim e a Reunificação são os pontos altos da carreira política de Helmut Kohl.
Foto: dapd
Nos passos de Adenauer
Kohl entrou para a União Democrata Cristã (CDU) em 1946, quando era um estudante secundarista de 16 anos. Foi eleito deputado estadual da Renânia-Palatinado em 1959, aos 29 anos, e virou líder da bancada aos 33. Em 1966, tornou-se presidente estadual da CDU. A foto de 5 de janeiro de 1967 mostra Kohl e o primeiro chanceler federal do pós-Guerra, Konrad Adenauer, na festa de seus 91 anos, em Bonn.
Foto: picture alliance / dpa
Governador aos 39 anos
Em 1969, com a renúncia do então governador da Renânia-Palatinado, Peter Altmeier, Kohl foi eleito seu sucessor. Ele comandaria o estado até dezembro de 1976, e o cargo não seria o auge de sua carreira política. A foto é de 1971, ano em que a CDU obteve a maioria absoluta no parlamento regional.
Foto: Imago
Em família
A família foi muito importante para a formação da imagem pública de Kohl. Ele costumava passar suas férias de verão com a esposa e os filhos sempre no mesmo lugar, no lago Wolfgangsee, na Áustria. Esta foto é de 1974, e mostra Kohl ao lado da esposa Hannelore e dos filhos Peter (d) e Walter (e) na residência da família, em Oggersheim.
Foto: imago/Sven Simon
Kohl na chancelaria federal
Em 1973, Kohl se tornaria presidente nacional da CDU. Mas ele ainda não tinha atingido sua grande meta: a chancelaria federal. Foi só em 1982, quando divergências entre social-democratas e liberais levaram ao fim da coalizão que sustentava o então chanceler federal Helmut Schmidt, que Kohl finalmente conseguiu alcançar seu objetivo. Na foto, de 1º de outubro de 1982, Schmidt parabeniza o sucessor.
Foto: picture-alliance/dpa
Chanceler federal por 16 anos
Kohl foi três vezes reeleito para a chancelaria federal, ocupando o cargo ao longo de 16 anos, de 1982 a 1998. Ele permaneceu na presidência da CDU, para a qual havia sido eleito em 1973, até 1998. A partir de 2000, passou a ser o presidente de honra do partido. A foto é de 11 de setembro de 1989, quando Kohl foi reeleito para a presidência da CDU.
Foto: picture alliance/Martin Athenstädt
Gesto de reconciliação
Esta foto, que mostra Kohl ao lado do primeiro-ministro da França, François Mitterrand, correu mundo. Ela foi tirada em 22 de setembro de 1984, durante um evento para celebrar a reconciliação franco-alemã, perto do cemitério de Verdun, onde estão enterrados soldados que morreram na batalha de 1916. Ao se darem as mãos, os dois líderes criaram uma forte imagem de unidade e reconciliação.
Foto: ullstein bild/Sven Simon
Queda do Muro
Kohl foi literalmente surpreendido pela queda do Muro de Berlim, em 9 de novembro de 1989. Ele estava em viagem pela Polônia quando os cidadãos da Alemanha Oriental invadiram a fronteira interna alemã, com a anuência dos guardas do lado oriental. Kohl interrompeu imediatamente sua visita à Polônia. Na foto, de 10 de novembro de 1989, ele é cercado por berlinenses na avenida Kurfürstendamm.
Foto: picture-alliance/dpa
Negociações com a União Soviética
Na foto Kohl (d) aparece junto com Mikhail Gorbatchov (centro), e o ministro alemão do Exterior, Hans-Dietrich Genscher (e), durante uma visita ao Cáucaso, em 15 de julho de 1990, para discutir a reunificação alemã. Durante uma caminhada com Gorbatchov, Kohl obtivera do então chefe do Kremlin a aprovação da reunificação do país e da retirada das tropas soviéticas da Alemanha Oriental.
Foto: picture-alliance/dpa
Acordo entre as Alemanhas
Na presença do chanceler da Alemanha Oriental, Lothar de Maizière (esq. atrás) e do chanceler federal Helmut Kohl (centro atrás), os ministros da Finanças da Alemanha Ocidental e Oriental, Theo Waigel (dir.) e Walter Romberg (esq.), assinam, em 18 de maio de 1990, o acordo que abriria caminho para a Reunificação.
Foto: picture-alliance/dpa
Chanceler da Reunificação
A Reunificação alemã, em 3 de outubro de 1990, foi o ponto alto da carreira de Helmut Kohl. Ele entraria para a história como o "chanceler da Reunificação". Na foto, Kohl aparece ao lado da esposa Hannelore, do ministro do Exterior Hans-Dietrich Genscher (e) e do presidente Richard von Weizsäcker (d).
Foto: picture-alliance/dpa
Paisagens florescentes
No início dos anos 1990, Kohl é festejado pelos alemães-orientais como promotor da Reunificação. É dessa época a famosa expressão "paisagens florescentes", que ele usou para se referir ao futuro imediato da antiga Alemanha Oriental. A foto mostra o então chanceler cercado por admiradores em Leipzig, durante uma campanha eleitoral, em 14 de março de 1990.
Foto: picture-alliance/dpa
Mentor da primeira chanceler
Sem Kohl, o sucesso da atual chanceler federal alemã, Angela Merkel, é praticamente inconcebível. Foi ele que apoiou a política oriunda da Alemanha Oriental no início da sua carreira nacional, escolhendo-a para ser ministra da Família e, mais tarde, do Meio Ambiente. A foto é de 16 de dezembro de 1991, quando Merkel era ministra da Família.
Foto: picture-alliance/dpa
Fim de uma era
Em setembro de 1998, a CDU perdeu as eleições parlamentares, o que abriu caminho para o primeiro governo de uma coalizão entre social-democratas e verdes. A foto mostra uma cerimônia de despedida para Kohl, em Berlim, com honras militares.
Foto: picture-alliance/dpa
Escândalo de caixa dois
Em 1999, a imagem de Kohl é duramente atingida por um escândalo de doações ilegais para campanhas eleitorais da CDU ao longo dos anos 1990. O partido vira as costas para Kohl, e a primeira a fazê-lo é Merkel, sua protegida. Na foto, de dezembro de 1999, Kohl deixa mais cedo uma entrevista coletiva sobre o caso. Ao fundo, o presidente da CDU, Wolfgang Schäuble, e a secretária-geral Angela Merkel.
Foto: picture-alliance/dpa
Relação rompida
Kohl acabou admitindo que sabia das doações, mas se recusou a dar o nome dos doadores, anônimos até hoje. O processo contra Kohl foi arquivado em troca de uma multa milionária, e ele se afastou da política. Merkel tentou várias vezes se reconciliar com seu antigo mentor, que rejeitou todas as tentativas de aproximação. A foto mostra os dois na festa de 75 anos de Kohl, em Berlim, em 2005.