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Hora certa de ter filhos é questão séria também para homens

Sam Baker av
30 de março de 2019

Relógio biológico não vale só para as mulheres quando se trata de gerar filhos. Estudos recentes apresentam relações entre idade paterna e maior risco de determinadas anomalias. Mas fisiologia não é tudo.

Homem carrega bebê
Foto: picture-alliance/dpa//M. Skolimowska

Por muito tempo tem-se acreditado que só a idade da mulher importa quando se trata de ter filhos, já que a fertilidade feminina começa a decair por volta do 30, 40 anos, até a chegada da menopausa, aos 40, 50 anos. No entanto as pesquisas mais recentes têm demonstrado que a idade paterna também é importante no que toca tanto à fertilidade quanto ao desenvolvimento dos filhos.

Um estudo publicado na revista Biological Psychiatry estabeleceu uma conexão entre pais mais velhos e o risco crescente de esquizofrenia juvenil, uma forma severa da doença que se apresenta em menores de 18 anos e é associada a outras anomalias genéticas.

Os pacientes que participaram do estudo tinham genitores normais e nenhum histórico familiar de distúrbio mental, portanto seus casos foram produto de mutações genéticas no esperma paterno, acumuladas com o avançar da idade, já a partir dos 35 anos.

"Cada dez anos adicionais de idade paterna acrescentam 30% à probabilidade de esquizofrenia juvenil", afirma a cientista Shi-Heng Wang, principal autora da pesquisa. A idade materna, em contrapartida, não tem qualquer efeito sobre o risco dessa doença.

A probabilidade de transtornos do espectro autista é 5,57 vezes mais elevada com pais acima de 40 anos do que nos com menos de 30 anos. Déficit de atenção, distúrbio de hiperatividade (TDAH), psicose, transtorno bipolar, tentativas de suicídio e abuso de substâncias foram igualmente associados à idade dos pais.

O mesmo se aplica ao risco de leucemia linfoblástica aguda infantil e outros cânceres em fases posteriores da vida, como o da mama ou da próstata. A relação também se observou em defeitos congênitos raros, aborto espontâneo e morte fetal.

Um estudo da Universidade de Stanford envolvendo 40,5 milhões de nascimentos entre 2007 e 2016 revelou que filhos gerados por homens acima dos 35 anos apresentam risco maior de peso baixo ao nascer, convulsões e outras condições anormais. Por exemplo: pais acima de 45 anos teriam 14% mais probabilidade de ter bebês prematuros, e acima dos 50 anos a percentagem sobe para 28%.

Idade dos espermatozoides também contaFoto: imago/Science Photo Library

Surpreendentemente, a pesquisa também revelou uma relação com as chances de a mãe desenvolver diabetes gestacional durante a gravidez, as quais se elevam em até 34% se o pai tem 55 anos ou mais. Os cientistas supõem que o fato possa estar associado à placenta materna.

"A decisão de ter uma criança e a escolha do momento são complexas", observa o médico Michael Eisenberg, especialista em medicina reprodutiva masculina, da Escola de Medicina da Universidade de Stanford e coordenador do estudo.

Embora a probabilidade desses efeitos adversos não seja enorme, trata-se de informações importantes para genitores em potencial ao planejar suas famílias, sobretudo com a atual tendência de gerar filhos cada vez mais tarde, explica. "Os homens não devem achar que têm prazo ilimitado, mas saber que os riscos aumentam modestamente à medida que envelhecem", alerta Eisenberg.

No entanto, a idade mais avançada também tem suas vantagens. Estudos mostram que mães mais velhas têm nível educacional mais alto, relações mais estáveis e são psicologicamente maduras, o que traz influências positivas para os filhos. Pais mais velhos também são mais cultos, têm empregos melhores, estilos de vida mais estáveis e maior probabilidade de se envolver na criação dos filhos.

Mikko Myrskylä, diretor do Instituto Max Planck de Pesquisa Demográfica, e sua equipe adotaram uma abordagem mais holística para o tema: "Para mim, como cientista social, a questão é como processos fisiológicos importantes contrastam com processos sociais."

Por exemplo, além de observar o peso no parto, ele e sua equipe também examinaram o desempenho educacional posterior. E constataram que filhos de mães mais velhas são, em média, mais altos, vivem mais e alcançam níveis educacionais mais elevados. Embora o estudo tenha focado basicamente o lado materno, Myrskylä considera provável que ter um pai mais velho também apresente vantagens semelhantes.

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